Passos Escuros

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- Mamãe mamãe!
exclamou Madeleine com voz de choro
- Olha mamãe como estão as minhas bonecas.

- Ai meu Deus filha, o que aconteceu? - Perguntei aterrorizada ao ver o estado em que estavam as bonecas.

Madeleine chorava e soluçava e me perguntava o que havia acontecido, e eu estarrecida com a cena das bonecas espetadas com agulhas, algumas sem cabeça, outras sem pernas e braços, espalhadas sobre o carpete do quarto de brinquedos, sujas de carvão.

Assustada, Madeleine não quis brincar, não quis interagir com os primos, não queria nem sair de seu quarto, mas acabei a convencendo na segunda metade do dia a ir para a cozinha comigo, comer algo já que estava sem se alimentar desde o momento em que tudo aconteceu.

- Ei meu amor, não fique assim tão abatida, papai e eu encomendaremos mais bonecas para você, não se preocupe. - disse tentando acalenta-la.

- Mamãe, quem fez tudo aquilo? e porquê?
perguntou Madeleine com os olhos tristes e confusos.

- Eu não sei minha princesinha, mas não fique pensando nisso. Venha, vamos preparar algo para você comer, você não pode ficar sem se alimentar.

Eu não podia julga-la, apenas uma criança e presenciar tudo aquilo, toda aquela cena macabra, suas bonecas dilaceradas e sujas, é de se compreender perfeitamente o escândalo pela manhã e toda aquela tristeza em seu olhar, além do medo que ela transmitia por ter testemunhado toda aquela barbaridade.

Enquanto Charles conversava com os criados, buscando uma explicação pra como aquilo aconteceu, e o mais importante, quem havia cometido tal ato tão absurdo, Delilah e Leila me ajudavam com Madeleine, tentando fazê-la esquecer do que havia visto, mas era impossível, mesmo para mim, uma adulta.

Nunca vi tamanha maldade nem coisa parecida, e devo confessar que aquilo permaneceu em meus pensamentos por um bom tempo.

- Mas que laço adorável, minha querida.
disse Leila sendo gentil.

- Aposto que foi de sua própria escolha, para combinar com o seu belo vestido.
falou Delilah reforçando a gentileza de nossa irmã.

Madeleine não disse nada, apenas com um meio sorriso, agradeceu a gentileza das adoráveis tias.

- Senhora, a mesa está posta.
disse Eleanor, vindo até nós na sala das lareiras  com um semblante empático.

- Bom, vamos ver o que a Peggy preparou? Aposto que tem todas as gostosuras que você adora comer...e quem sabe ela não fez a torta de maçã que você ama?
disse eu na esperança de ver na minha pequena princesa uma faísca que fosse de entusiasmo.

- Hmmm estou curiosa para saber o que a Peggy preparou com essas mãos de anjo que ela tem...se você não quiser a torta, pode deixar que eu e seu priminho, ou priminha damos conta.
disse Delilah rindo, tentando descontrair um pouco.

Mas nada adiantava muito, mas como exigir também que uma criança agisse normal depois de ver o que viu?

- Venha minha querida, vamos juntas até a mesa, e se não quiser ficar na mesa, faremos uns pratinhos e voltamos para cá.
falou Leila enquanto estendia sua mão oferecendo apoio a Madeleine para levantar da poltrona.

Ela segurou a mão de sua tia, e foram juntas ao salão de jantar.

- Não fique nervosa minha irmã, sei que o que vimos não foi nada agradável, mas vamos manter a fé de que isso será resolvido logo.
disse Delilah enquanto segurava a minha mão em solidariedade.

- Nunca vi Madeleine tão assustada quanto a vi hoje de manhã, e toda aquela cena... porquê alguém faria isso Delilah? e quem faria? Tratamos muito bem os criados, nunca aconteceu algo desse tipo aqui, eu não entendo.
respondi enquanto buscava uma razão pra tudo aquilo.

MadeleineOnde histórias criam vida. Descubra agora