Se o inferno realmente existe, então o conheci vivendo todas aquelas tragédias em minha família.
Todas as desgraças repentinas, todas as lágrimas e ranger de dentes, o sofrimento causado por uma de nossa família, e vivido por cada um de nós.
Imensa dor nos acompanhava por todas as horas que se passavam, e o silêncio que fez morada em minha casa, nos acompanhando, calando tudo ao nosso redor, exceto a dor e as boas memórias, era a mais pertinente verdade.
Eu estava viva, mas não estava vivendo.
O sol continuava nascendo, sem a menor piedade de nossas perdas.O inverno havia ido embora, e com ele levou parte de mim, parte de cada um de nós.
O dia voltou a ser claro novamente, mas não havia luz dentro de nós e nem alegria dentro da nossa casa.Tudo agora é fúnebre, triste e frio.
O que era tudo, virou um grande nada, repleto de vazio e choro...- A senhora precisa se alimentar!
exclamou Eleanor com tamanha preocupação em seu tom.- Tudo bem minha querida, deixe a bandeja.
falou Leila.Eu não sei como estava conseguindo passar os dias, na verdade, os dias estavam passando mas eu, não os estava vivendo.
Posso afirmar que não estava de posse do meu corpo, nem da minha cabeça, pois me sentia vazia e com a mente totalmente vaga.
Em meu peito pulsava um coração que já não demonstrava vida, apenas seu trabalho enquanto a morte não me abraçava.
- Minha irmã, você precisa se alimentar, ou ficará fraca de mais, e adoecerá.
me disse Leila, me convencendo a tomar a sopa.O tic tac do grande relógio me fazia tornar às memórias de um passado tão recente, pelo qual estava eu sucumbindo de dor.
- Já fazem duas semanas, Leila. É tão injusto os dias continuarem a existir, a noite continuar chegando, os pássaros cantando e a vida seguindo seu rumo, sem que tudo esteja de luto por nossas perdas.
falei, enquanto pela minha garganta saia uma fina voz.- Não tem nada a ver com justiça, minha querida Lydia. O mundo tem seu modo de sentir tamanha dor, e nós a sentimos da forma como conseguimos.
respondeu Leila, me confortando em suas palavras meio doces, meio amargas.Duas semanas desde o fatídico dia em que pela última vez, vi o corpo da minha criança mutilado dentro daquele baú; duas semanas desde a última vez em que ouvimos a risada de nossa querida irmã Delilah e da alegria que sua família compartilhava com todos nós em união; duas semanas desde a gargalhada alta do meu cunhado Ernest.
Agora tudo isso, não passam de memórias que perderão seus minuciosos detalhes com o passar do impiedoso tempo.
Se existe o verdadeiro inferno, este é o meu.- O detetive Cameron Winkler veio aqui mais cedo. Avisou sobre a condenação de Katherinne, foi marcada para daqui há dois dias.
falava Leila entre um suspiro e outro.- E como estão os meninos, minha irmã?
indaguei curiosa acerca dos meus sobrinhos.- Augustus estava inquieto, incapaz de dormir uma noite inteira sequer. Ele acabou ouvindo a conversa que tive com o detetive, soube ali da condenação de sua irmã. Desde então, não o vi. Acho que ele pode estar com raiva de mim, e com razão.
respondeu Leila.- Mas porquê estaria minha irmã?
questionei Leila.- Não irei a condenação. Não aguentarei ver mais desgraças em minha família, ainda que seja por punição a pessoa culpada por tamanhas tragédias. A moça que condenarão, não é a moça que saiu de mim e deu tanta alegria à meu marido e eu. Eu não suportaria mais.
respondeu Leila.
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Madeleine
Ficción históricaInspirada em uma história real, esta obra traz consigo a breve história de Madeleine, que era apenas uma criança quando foi brutalmente assassinada, o que culminou em eventos trágicos, marcando para sempre a família Montgomery.