Episódio 16 - Liera: Sacrifício

41 6 30
                                    

— Eu serei breve — disse aos anciões de Acalla ao iniciar minha fala. — Eu estou focada em defender a nação e preciso que vocês estejam ao meu lado. Não apenas prestando o bom suporte que tenho percebido, eu quero vocês comigo no campo de batalha!

— Minha regente, sem questionar o teu compromisso com o nosso futuro, eu devo propor que deixe essa luta para os teus anciões. Nós poderemos defender a nação em seu nome, o campo de batalha não fará bem algum à tua recuperação — propôs Kaú cuidadosamente. Os demais anciões pareceram acolher suas palavras.

— A minha decisão está tomada. Mesmo que eu sofra as sanções impostas pelas nossas leis, não vou me furtar às minhas obrigações para com o povo. Como vocês já devem saber, a ligação dos Exilados com os ataques tem se mostrado real. Cuidem das vossas cidades, cuidem de todos os que nelas habitam. Há muito superamos as barreiras ideológicas dos clãs, e eu sei que vocês já enxergam as coisas desta forma, mas vou reforçar o pedido para que não olhem apenas por aqueles que fazem uso das suas magias. Estejam a serviço de cada vida em Acalla!

Fitei com o olhar cada um dos anciões para medir o quão comprometidos eles estavam com a causa. Eu senti que eles não apenas concordaram com aquelas palavras pela condição de subordinados às ordens de sua regente, eles acreditavam que aquela era a maneira de lidar com as coisas. Havia compromisso e convicção em seus espíritos.

— Eu tomo a liberdade de falar por cada um dos anciões aqui: nós defenderemos Acalla com as nossas vidas! — Ywanka respondeu com firmeza, colocando-se em pé. — Todo o clã dos Caminhantes da Névoa estará pronto para ir à luta, a nossa soberania não pode ser ameaçada dessa forma! Liera, se a situação se sustentar, nós não teremos outra solução senão declarar guerra contra a Nação Exilada!

Irina complementou:

— O clamor por justiça ecoa dos clãs enfraquecidos pelas perdas. O pedido pela guerra está emanando do povo! Não é uma decisão fácil, e nós estamos aqui para suportá-la no que você decidir, minha regente.

Eu sempre soube que em algum momento aquilo seria sugerido. O sangue do meu povo estava sendo derramado, e seguir defendendo o nosso território logo se tornaria uma medida ineficaz. Eu estava ficando sem opções para lidar com a situação de maneira pacífica, aquilo era evidenciado mais e mais a cada novo ataque. Aqueles seriam os líderes que ficariam após a minha morte, e todos pareceram estar de acordo com a proposta. Se a guerra se apresentava como a solução desejada, então eu a entregaria à nação como um último ato de proteção.

— Eu não vou ignorar o desejo dos clãs. Essa parece ser a vertente do tempo que se projeta em nosso futuro, e é melhor nos prepararmos para segui-la. Contudo, eu devo adverti-los: os meus ministros e conselheiros devem estar de acordo e, se isso acontecer, convocarei o Conselho de Guerra para um processo de aferição oficial com a presença de representantes do povo. Essa não será apenas uma decisão regencial. Eu quero a certeza da aprovação popular, e tudo ocorrerá de maneira legítima, seguindo as nossas leis, sem romper o Pacto de Paz!

— Liera, isso é algo que precisamos saber — Irina levantou a questão delicada, aquela que ninguém queria responder em voz alta. — Por que o Pacto de Paz não se ergueu contra Leona pelos ataques a Acalla? É possível que ela tenha, de alguma forma, corrompido o Pacto?

Vernae, o mais antigo dos anciões de Acalla, respondeu:

— Ninguém na história dos rituais foi capaz de fazer isso. Os Mestres do Tempo procuram vestígios através da história que permitam tais brechas. Eu, com todo o meu controle sobre o tempo, nunca encontrei indício algum que prove sucesso em tal ação.

AcallaOnde histórias criam vida. Descubra agora