Episódio 21 - Liera: Impugnação

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— Por favor, diga em voz alta quem você é e os cargos que lhe foram confiados.

— Eu sou Liera. Este nome me foi dado por meu pai, Neali, de quem herdei o trono de Acalla após sua execução pelos rebeldes Exilados. Sou também a anciã da magia do Mentalismo e aquela que dissolveu este mesmo clã, como medida de prevenção e punição pela ampla participação de seus membros nos atos hediondos cometidos pela Grande Nação.

— Contestável. Você quer se justificar?

— Minha própria história é de conhecimento público e isso sustenta a veracidade de quem sou. É uma história que ainda me causa comoção e dubiedade, o que pode ser interpretado como inverdade pelo ritual de Aferição.

— Aceito.

A inquisidora oficial nomeada pelo conselho de guerra deferiu a resposta. O conselho era composto pelos anciões e ministros de Acalla e visava legitimar a causa proposta pela regente. Quatro Mestres do Tempo estavam prostrados como estátuas para acompanhar o processo, suas magias potentes garantiriam o registro inalterável no tecido da existência que perduraria enquanto o tempo em si permanecesse corrente. Seus olhares desalmados tomados pela performance causavam uma sensação aterrorizante. Por sorte, eu encontrei conforto na energia calorosa que emanava dos inúmeros súditos que nos acompanhavam em silêncio na plateia. A inquisidora prosseguiu:

— É um fato amplamente conhecido que, durante a cerimônia de nomeação da atual regente de Verídia, um grupo autointitulado "Executores da Nação Exilada" interveio através da magia proibida do Enlace Inconsciente, outrora conhecida como Possessão, proferindo ameaças públicas contra a grande nação de Acalla. Relate a sua versão dos fatos ocorridos naquele ciclo.

— Foi pouco antes da minha performance de entrada. A energia ofensiva expôs o risco que corríamos e a natureza do ataque. Uma das nossas, a própria Irina foi violentamente tomada pela magia do enlace mentalista e transmitiu a mensagem que deu início a este período de terror. Contrariando os protocolos aos quais estou sujeita, eu não deixei o recinto ou busquei a proteção da guarda real. Eu atuei em defesa dos presentes através das magias protetivas dos Filhos da Guerra.

— Você conhece nossas tradições?

— Sim.

— Então entende que a rainha é a figura mais importante da nação e deve ser preservada a todo custo?

— Sim, eu entendo.

— Qual a sua justificativa para não cumprir com os protocolos de proteção à regente?

— Todo regente deve estar tão exposto quanto o seu súdito mais frágil. Eu verdadeiramente creio nisso e essa foi a minha única motivação.

Eu fitei os presentes que me cercavam no amplo salão do julgamento. Dos anciões aos ministros que me assistiam, passando pelos representantes da plebe que desejavam acompanhar todo aquele processo. Apesar da quebra dos protocolos, todos aparentavam estar satisfeitos com as respostas apresentadas até ali.

— Verídico — Confirmou a Inquisidora em seu tom imparcial. Ela era a única incapaz de ser lida — As ameaças se provaram um perigo real quando o primeiro ataque ocorreu. Os tais "Executores da Nação Exilada" atacaram a cidade de Astandor, a maior cidade da nação, vitimando de forma fatal quase todos os residentes. Qual foi a abordagem utilizada por você, a regente, para lidar com a situação?

— De imediato, ordenei ao ministro responsável pela Defesa e Assuntos de Guerra de Acalla que...

— O único ministro ausente aqui?

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