Capítulo 2

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Após colocar todas as coisas no porta-malas, Hande deu a volta em seu carro e esperou que Tijana entrasse.

- Para onde vamos? – questionou colocando o cinto.

- Vou fazer você ver o céu de uma forma diferente. – a respondeu, ligando o som do carro baixinho.

Boskovic a encarou com a sobrancelha arqueada.

- Essa frase soou um pouco duvidosa. – comentou.

A turca acelerou o carro, gargalhando.

- Você pensa em algo além de sexo? – indagou, olhando para a morena de lado. – E ainda fica envergonhada com isso?

- Eu não pensei em sexo, tá legal? – tentou se defender.

- Então por que está corada?

Tijana suspirou.

- Estamos no escuro, você não tem como saber se estou corada ou não.

- Apostaria o meu carro que você está totalmente corada neste momento. – a provocou.

- Você sempre dirige como se estivesse fugindo da polícia? – tentou mudar de assunto.

- Não mude de assunto. – a advertiu. – E estamos no limite permitido na rodovia.

- 120 quilômetros por hora? – perguntou incrédula.

- Na verdade, são 150. – acelerou mais um pouco, sem tirar os olhos da estrada. – É uma linha reta, Tijana. Você quer que eu dirija como uma tartaruga?

- Que tal se fosse como uma pessoa normal?

- Eu não sou uma pessoa normal. – rebateu. – Que graça isso teria?

- Estou percebendo. – resmungou.

- Está mudando de assunto novamente. – tornou a falar. – Você quer transar?

- O quê? N-não! – se atrapalhou ao responder e isso fez com que a turca gargalhasse. – Você está brincando comigo!

Hande reduziu a velocidade já que era algo que estava incomodando a morena.

- Você fica tão linda emburrada. – disse. – Estou tentando decidir qual das suas versões é a mais linda: envergonhada ou emburrada.

- Não pense que vai me fazer mudar de humor com cantadas baratas. – resmungou, mas sentiu vontade de sorrir.

- Mas eu me esforcei tanto! – rebateu. – Ok, não vou mais falar sobre o fato de você querer transar comigo.

- Eu não quero transar com você, garota! – a repreendeu.

- Não? Eu estava pensando em te levar até o meu apartamento...- sugeriu.

- Pro seu apartamento? – a olhou interessada.

- Viu só? Você quer transar comigo. – debochou e a morena revirou os olhos.

- Odeio você!

- Não odeio, não. Eu sou adorável. – deu de ombros, manobrando o carro até o estacionamento. – Sou o tipo de pessoa que você precisa conhecer para amar.

Aparentemente aquilo era verdade, pensou Boskovic. A garota era alegre e tinha uma energia incrível. Elas seriam boas amigas, caso convivessem próximas.

- Você tem uma modéstia impressionante. – disse Tijana, removendo o sinto. – Esse é o momento em que vai me matar e desovar o meu corpo aqui?

Perguntou, encarando a fachada do local, totalmente escura.

- Eu jamais cometeria tal pecado para os relés mortais. – a turca desceu do carro e esperou que a sérvia fizesse o mesmo. – Vem?

Boskovic a olhou desconfiada.

- Hande...

- Não precisa ter medo. – tentou acalmá-la. – Veja, você não morreu até agora.

- Nossa, Hande. Muito obrigada. É muito reconfortante saber disso. – debochou a seguindo.

- Não precisa agradecer. Estou aqui para o que precisar. – sorriu para ela e tocou a campainha.

As duas esperaram por alguns segundos, até que um senhor aparecesse.

- Hande! – abriu os braços e a garota se jogou nele. – Como você está, habib? Há quanto tempo não vejo você!

- Babo, que saudades sua! – o agarrou com força. – Eu trouxe alguém...

A morena se aproximou dos dois sorrateiramente.

- Você trouxe uma namoradinha? – perguntou e as duas ficaram envergonhadas. – Olá, moça bonita!

- Meu nome é Tijana. – se adiantou para apertar a mão do senhor, mas ele a puxou para um abraço.

- Vocês meninas são tão altas, o velho aqui quase não consegue abraçar vocês...- resmungou, a soltando em seguida. – Venham, venham. Já está quase amanhecendo.

Babo saiu andando na frente m, deixando as duas garotas para trás.

- Vamos? – Hande chamou a atenção de Tijana, lhe estendendo a mão.

- Hande...- tentou falar novamente.

- Confie em mim. – pediu e os olhos dela transmitiam tanta sinceridade, que Tijana esqueceu que a conhecia há menos de 24 horas e a seguiu.

Quando as duas passaram da entrada, a morena pôde observar as montanhas e os balões que ali já estavam.

- Uau...- sussurrou, impressionada com a beleza do lugar. – É maravilhoso!

- Lindo, né? – falou baixinho ao lado dela. – Eu nunca me canso dessa vista.

- Minha menina, vocês vão sozinhas ou precisam que alguém guie vocês? – Babo tornou a aparecer.

- Pode deixar, Babo. Eu sigo daqui. – o agradeceu, puxando a morena em direção ao balão.

- Nós vamos sozinhas? – Tijana perguntou incrédula.

- Sim e não se preocupe, eu faço isso desde os sete anos. – argumentou.

- Eu sou muito irresponsável...- resmungou encarando o balão. – Vou morrer assim, por vontade própria.

- Lembre-se de que você não morreu até agora. – pontuou Hande.

- Disse bem: até agora. – rebateu.

- Não seja dramática e venha. – deu de ombros e seguiu para o balão.

- Como vamos subir nisso?

- Você tem pernas de gazelas, use-as para subir. – a respondeu, pulando para dentro do balão.

- Isso não foi muito agradável da sua parte! – reclamou, se aproximando.

- Me desculpe, vossa alteza! – se curvou exageradamente. – Me daria a honra de ajudá-la?

Tijana revirou os olhos e aceitou a mão que Hande a ofereceu e pulou para dentro do balão, se chocando contra os braços da turca, que a apertou para que ela não caísse.

- Desse jeito, as pessoas vão pensar que nós vamos fazer um passeio romântico. – disse Hande, encarando os lábios da morena.

Tijana se soltou dos braços da garota, um pouco sem jeito.

- Nós vamos voar nisso ou não? – desconversou.

- Vamos, apressadinha! – revirou os olhos. – Levando em consideração que podemos morrer e essa seja a nossa última conversa, que tal um beijinho de boa sorte?

Boskovic gargalhou.

- Você só pode estar de brincadeira...- respondeu e viu a turca arquear uma sobrancelha.

- Eu preciso de um amuleto da sorte, Tijana. Não podemos arriscar as nossas vidas. – pontuou, cruzando os braços.

- Você está querendo um beijo e não sabe pedir? – debochou.

- Estou apenas me precavendo. – deu de ombros.

Tijana revirou os olhos e se aproximou dela, beijando a bochecha dela em seguida.

- Isso pode melhorar...- sugeriu, segurando a mão da morena e a puxando contra si. – Não pode?

A oposta sorriu, antes de beijar os lábios da outra garota, que aproveitou para rodear sua cintura com braços para aprofundar o beijo.

- Agora sim estamos seguras! – disse, a beijando de novo.

Uma leve brisa do amanhecer fez os pelos do braço da morena se arrepiarem e ela estremeceu.

- Ok, talvez devêssemos ter trazido casacos. – pontuou Hande esfregando os braços de Tijana, tentando espantar o frio. – Se eu tivesse me preparado antes..
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- Levando em consideração que nos conhecemos ontem, até que você não está indo mal. – Boskovic tentou consolar a turca.

Hande sorriu uma última vez e iniciou os preparativos para subir com o balão. Após alguns minutos, tudo estava pronto.

- Segure. – pediu e assim a oposta o fez.

O balão começou a subir devagar e Tijana teve que fechar os olhos. Quando tudo estava seguro o suficiente, Hande se aproximou dela.

- Isso é loucura...- sussurrou de olhos fechados.

- Ei...- a tocou no ombro. – Está tudo bem?

- Não! Eu acabei de me lembrar que tenho receio de estar em lugares altos!

- Você tem medo de altura e só me disse isso agora? – perguntou preocupada.

- Eu disse receio. – a corrigiu. – Você estava tão empolgada que eu acabei esquecendo.

Hande a puxou para os braços dela e a abraçou.

- Você pode ficar assim, se quiser. – disse baixinho. – Ou pode abrir os olhos e contemplar uma das melhores vistas do mundo.

Boskovic a apertou, buscando coragem naquele abraço reconfortante de uma completa desconhecida. Ela nunca fora uma pessoa que gosta de contato físico, principalmente de abraços, achava aquilo terno demais e só abraçava a sua família e seus amigos mais próximos. Mas aquele abraço estava sendo diferente: ela estava se sentindo segura com uma pessoa que nunca vira e aquilo era estranho.

- Aí está você, meu amor...- Hande sussurrou, quando os primeiros raios de sol começaram a aparecer. – Bom dia, Sol!

Aquela interação inusitada fez a morena abrir os olhos e olhar para onde a turca estava olhando.

- Se você olhar detalhadamente, vai perceber que ainda é possível ver algumas estrelas. – disse Hande. – Eu te disse que faria ver as estrelas de uma forma diferente, não disse?

Ela não respondeu, apenas continuou a observar a paisagem nos braços da outra garota.

- É a coisa mais linda que eu já vi na vida...- sussurrou.

- A Turquia tem as suas belezas. – pontuou.

- Estou percebendo.

- Está falando de mim, certamente. – disse Hande e sentiu a morena sorrir. – Veja só, um sorriso. Estamos avançando.

- Estou falando de você, certamente. – repetiu as palavras, em tom de ironia. – É até mais bonita que a paisagem.

- Não! – a repreendeu. – Nada é mais bonito do que a Turquia!

A oposta gargalhou com a constatação.

- Exceto por você. – completou Hande.

- E lá se foi o patriotismo turco. – rebateu Tijana, finalmente se soltando dos braços da garota. – Você é uma conquistadora barata, Hande.

- Conquistadora? Então quer dizer que eu conquistei você? – indagou sugestivamente.

- Você não perde uma oportunidade! – a repreendeu, envergonhada.

- Tá bem, tá bem. – levantou as mãos. – Eu me rendo, prometo não falar mais nada!

A morena revirou os olhos sorrindo e observou quando a turca encarou as nuvens amarelas fixamente.

- Que tipo de pessoa dá “bom dia” pro Sol? – questionou.

- O tipo de pessoa que ama o Sol. – respondeu , ainda encarando fixamente o horizonte. – Você não está tendo a sensação de que a vida é maravilhosa demais apenas por ter essa vista?

- Eu acho que reflete em você. – disse reflexiva.

- O quê? – perguntou perdida.

- O Sol. – e explicou. – reflete em você e te faz uma pessoa solar.

Hande a encarou profundamente.

- Essa foi a melhor coisa que já me disseram!

- É apenas um fato, Hande. – deu de ombros, voltando a observar a paisagem.

A turca olhou na mesma direção e viu que alguns balões já estavam surgindo no horizonte. Ela consultou o relógio e percebeu que infelizmente já era hora de ir.

- Nós precisamos ir. – chamou a atenção da morena.

Tijana não concordou prontamente, apenas continuou observando a paisagem tentando guardar aquele momento na memória, já que estava prestes a acabar.

- Tem razão. – sussurrou contrariada. – Nós precisamos ir.

(...)

Depois de passar as coordenadas de aonde ficava o hotel em que estava hospedada para Hande, Boskovic se acomodou no banco do passageiro.

- Não fica muito longe daqui. – argumentou Hande. – Acho que consigo chegar em vinte minutos.

- Dirigindo normalmente ou como uma piloto de fulga? – perguntou sonolenta.

- Não posso ir rápido quando está de dia, Tijana. – deu de ombros. – Você está com sono, deite o banco do carro e durma.

- De jeito nenhum. – retrucou. – Não vou deixar você sozinha.

Baladin semicerrou os olhos.

- Algo me diz que não é porque você gosta da minha companhia. – disse ligando o som em seguida.

- Você é movida a música? – notou aquele fato, já que a garota ligou o som do carro todas as vezes que entraram nele.

- Digamos que eu não faça nada sem ouvir uma boa música, a não ser quando estou em quadra. – respondeu e recebeu o bocejo em troca. – Durma, Boskovic.

- Eu não vou deixar você sozinha! – resmungou. – Vai que você nos mate...

- Depois de tudo, ainda está com medo de mim? – indagou sorrindo. – Você poderia ter despencado de cima do balão.

- Seria uma morte mais bonita. – pontuou. – E não um acidente de carro.

- Por quê tanto medo? – quis saber.

- Você não tem medo da morte?
Hande suspirou.

- Ninguém tem medo de morrer, quando já está morto. – deu de ombros.

Boskovic a olhou assustada.

- Você é depressiva ou algo assim? – perguntou preocupada.

- Algo assim. – respondeu simplesmente.

- É por isso que você parece viver como se não houvesse amanhã? – quis saber.

- Eu não sou nenhuma suicida, não se preocupe. – disse. – Apenas aproveito a vida da melhor forma que posso.

- Não estou convencida.

- O que quer? Um laudo psiquiátrico? – perguntou levemente.

- Estou começando a me questionar se você não tenta a sorte dirigindo em alta velocidade. – argumentou.

- Não é o que parece. Eu já te disse que amo dirigir e eu não usaria isso para tirar a minha própria vida. – respondeu. – Quando foi que o assunto ficou tão mórbido?

- Hande...

- Não se preocupe. – a tranquilizou. – Você que é precavida demais, eu apenas vivo intensamente.

- É muito reconfortante saber disso. – debochou.

Hande resolveu não dar continuidade ao assunto e as duas seguiram o resto do caminho caladas.

Ao chegar no hotel, a turca parou numa área mais reservada.

- Pronto, está entregue. – tentou sorrir para a oposta, mas sem sucesso.

Tijana parecia compartilhar do mesmo humor.

- Eu...- tentou dizer.

- Esse é o momento em que você diz que foi a noite mais incrível da sua vida e que vai sonhar com o momento durante toda a semana. – pontuou Hande, arrancando uma risada da morena.

- Já falei que a sua modéstia é encantadora?

- Não me recordo. – se fez de desentendida.

- Não vou sonhar com você, garota. – a cutucou de lado. – Não seja dramática.

- Como não? Eu ficarei marcada na sua vida como a primeira garota que beijou. – a lembrou. – Esse é um bom motivo para ter sonhos comigo.

- É um bom motivo. – concordou, olhando pela janela. Dessa vez foi Hande quem bocejou e chamou a atenção dela. – Eu espero que você não durma no volante!

- Não irei dormir hoje. – rebateu.

- Não?

- Não quero dormir e acordar e perceber que tudo não passou de um sonho. – sussurrou. – Eu realmente fiquei encantada em te conhecer.

Tijana sentiu as bochechas esquentarem e desviou o olhar novamente.

- Não vamos trocar nossos números de celular? – a morena perguntou esperançosa.

- Nós não precisamos, porque sabemos que a Sérvia é um pouco distante da Turquia. – lamentou. – Vamos apenas guardar esses momentos na memória, não vamos?

- Vamos. – lamentou de volta. – Este é o momento em que eu vou embora, não é?

- Não. – a contrariou. – Este é o momento em que você me beija, antes de ir embora.

Hande a puxou, selando os lábios nos dela delicadamente, antes de aprofundar o beijo.

- Agora sim. – disse sorrindo.

- A gente se vê por aí, Baladin. – sorriu de volta, abrindo a porta do carro em seguida.

- Eu tenho certeza que sim. – disse Hande.

A turca assistiu a morena sair do carro e dar alguns passos.

- Boskovic? – gritou, se levantando para sentar na janela de seu carro. – Promete que irá se lembrar de mim?

- Eu prometo, Hande! – gritou de volta.

Baladin sorriu, voltou para trás do volante e partiu rapidamente.

Tijana suspirou profundamente, pedindo aos céus que nunca esquecesse daquela garota que havia passado por sua vida por uma única noite, como um fecho de luz. E era exatamente isso que a garota turca era: luz.




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