Capítulo 4

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A morena sorriu sem jeito.

- O que você está fazendo aqui?

- Serei a sua mais nova babá. – deu de ombros. – E eu acho bom você me obedecer, mocinha!

- Eu não tenho cinco anos, Hande. – revirou os olhos.

- Meninas, que tal se sairmos do meio do aeroporto? – sugeriu Novan.

- Vamos. – concordou Tijana e Hande começou a segui-los.

- Carro maneiro! – a turca sorriu ao ver a Mercedes preta, assim que os três chegaram no estacionamento. – Eu posso dirigir? 

- Pode. – disse Novan.

- De jeito nenhum! – interviu Tijana. – Você não conhece as ruas e dirige como uma louca, Hande. Não queremos que você seja presa no seu primeiro dia aqui.

- Não exagera. – pediu. – Eu prometo me comportar, tá? – fez a melhor cara de cachorro pidão que conseguiu. – Preciso dirigir, Tijana!

A morena revirou os olhos, lembrando da necessidade que a outra garota sentia em dirigir.

- Você vai dirigir a 70 quilômetros por hora. – a oposta disse e a ponteira fez uma careta.

- Mas esse bebê aqui chega a 200 fácil, fácil...- lamentou.

– É pegar ou largar, Baladin. – deu de ombros, entrando no banco do passageiro.

- Tudo bem. – resmungou, entrando no banco do motorista.

- Abra a mala, por favor. – Pediu Novan e a turca assim o fez. Ele organizou as malas dela e se aproximou das duas, pela janela do carro. – Podem seguir viagem, eu estou no carro atrás de vocês.

- Você não vai com a gente? – Tijana perguntou surpresa.

- Meu carro está aqui também. – respondeu. – Não podemos ir no mesmo carro.

- Mas nós viemos no mesmo carro, Novan. Isso não faz sentido. – rebateu Tijana.

- Não podemos fazer isso sempre, Boskovic. – argumentou.

- Mas...

- Obrigada, moço. Eu vou esperar pelo seu carro, quando você me disser qual é. – interviu Hande.

- O meu nome é Novan. – se apresentou. – O meu carro é um Audi prata. Siga até a saída e eu alcanço você.

- Ok. – deu de ombros, dando partida no carro.

A turca seguiu para a saída e olhou pelo retrovisor, avistando o carro de Novan.

- Seu namorado? – indagou Hande.

- O quê? Não! – rebateu. – Eu não tenho namorado, Hande. Ele é só o meu segurança.

- Eu ficaria muito chateada se descobrisse que você namorava, quando ficou comigo. – encarou a outra garota friamente.

Tijana desviou os olhos dos dela.

- Por que está perguntando isso agora?

- Porque eu só me dei conta agora de que não perguntei se você tinha alguém, naquela noite. – respondeu. – Mas você não tinha, não é mesmo?

- É um pouco tarde, não acha? – indagou de mal humor.

- Nunca é tarde para saber sobre o caráter das pessoas. – rebateu, acelerando um pouco mais.

- Reduza a velocidade. – pediu.

- Se eu for mais devagar do que estou, prefiro acompanhar o carro correndo. – resmungou. – Você é tão mandona quanto eu me lembro!

- E você é tão doida quanto eu me lembro! – revidou.

- Eu poderia mandar você descer do carro! – ameaçou.

- Do meu carro? – perguntou incrédula.

- Seu volante, minhas regras. – deu de ombros. – Se eu dirijo, eu mando.

- Hande, não faz sentido! – a encarou.

- Faz sim. – pontuou. - Eu vou colocar o endereço da casa em que eu vou ficar no gps, ok?

- Se você me disser aonde é, talvez eu conheça e te leve até lá. – sugeriu Tijana e a turca lhe estendeu o seu celular para que a oposta visse. – Hande, esse endereço está certo?

- Eu espero que esteja. – a respondeu. – Por quê?

- Essa é a rua da casa da minha avó. – explicou. – E a casa fica de frente para a dela, praticamente.

- Da sua avó? – perguntou surpresa. – Ela faz aqueles bolinhos deliciosos que toda avó sabe fazer?

- Você ouviu o que eu disse?

- Ouvi. – assentiu.

- É a minha avó!

- E o que é que tem a sua avó? – perguntou sem entender. – Por um acaso ela é a presidente da República?

- Você vai conhecer a minha família? – indagou incrédula.

- Não é esse o intuito? – debochou. – Como é que eu vou pedir a sua mão em casamento?

Boskovic a cutucou de lado.

- Eu estou falando sério!

- Eu também! – rebateu. – A minha vinda até a Sérvia foi toda planejada para isso.

- Hande!

- O quê? – perguntou num fio de paciência. – Você sabe por que é que eu estou aqui?

- Sei, mas eu não pensei que fosse você. – respondeu.

- Eu não vou contar para ninguém sobre a gente, se é isso que está te incomodando. – disse chateada.

- Hande, você não está entendendo...

- Eu vou colocar o endereço no gps, Tijana, e eu agradeceria muito se você fizesse silêncio para que eu pudesse ouvir as coordenadas. – a interrompeu, fazendo exatamente o que havia dito.

A morena não falou mais nada e as duas seguiram o resto do caminho em silêncio. Ao chegarem, Hande saiu do carro sem dizer uma palavra e foi em direção ao porta-malas.

- Pode deixar que eu carrego tudo pra você. – Novan se adiantou.

- Obrigada, mas não precisa. – rebateu Hande, pegando as malas e colocando no chão. – Obrigada pela carona. – se dirigiu ao homem. – Nos vemos em dois dias.

A turca abriu o pequeno portão que havia na casa e passou as malas uma por uma. Boskovic observava a cena de longe, até que a garota entrasse na casa.

- Algo me diz que vocês duas já se conheciam. – disse Novan, chegando perto da morena.

- Ela é a garota turca.

- Eu sei que ela é turca, mas...- pareceu se dar conta. – Não! Ela é a garota que você ficou?

- Fala baixo! – o repreendeu. – Sim, ela é. Mas toda Belgrado não precisa saber disso.

- Me desculpe, eu me empolguei. – pediu. – Então ela vai jogar no mesmo clube que você?

- Aparentemente. – deu de ombros. – Podemos ir embora?

- Você não vai até a sua avó?

- Vovó está fora a essa hora. – indicou as luzes da casa apagadas. – E eu quero sair daqui o mais rápido possível.

- Vamos. – ele assentiu.

- Mas antes, peça que alguém vigie essa casa. – pediu, dando a volta em seu carro. – Não queremos que nada de mal aconteça com ela, certo?

- Eu posso pedir para o segurança da sua avó ficar de olho na casa da frente. – argumentou.

- Pode ser. – deu de ombros.

- Te sigo até em casa?

- Não. – respondeu. – Eu preciso passar em um lugar antes.



(...)


Horas depois da turca organizar as suas coisas naquela casa pacata, ela decidiu que era hora de sair para correr.

- Ótimo, se eu me perder por aqui, ao menos tenho o meu celular...- resmungou baixinho e observou o lugar.

As ruas eram estreitas e divididas em quadras, então ela só teria que dar voltas em dois quarteirões, assim ela poderia ter o controle geográfico de onde estava.

A técnica dela deu certo e, após algumas voltas, ela havia voltado para casa ao anoitecer, dando de cara com uma senhorinha parada em seu jardim. A mulher lhe cumprimentou, mas ela apenas assentiu e virou-se para entrar em casa, foi quando um grito chamou a atenção da turca e ela se voltou até a casa da senhora e constatou que ela havia escorregado no jardim.

- Cristo! – gritou Hande e correu até ela. – Eu não faço ideia de como oferecer ajuda em sérvio...

- Eu falo inglês, querida. – a tranquilizou, sentada no chão.

Hande suspirou aliviada e foi até o portão, mas viu que ele estava trancado.

- Droga! – reclamou e avaliou a altura do muro, que ela conseguiria pular facilmente. – Eu vou precisar pular o muro da sua casa, ok?

A mulher assentiu e a turca respirou fundo e deu alguns passos para trás para pegar impulso.

- Se eu cair...- resmungou antes de correr e subir no muro em seguida. – Até que não foi difícil...

- Querida...- a mais velha chamou a atenção dela.

- Oh, sim. A senhora...- se lembrou e pulou no chão. – A senhora está bem? Se machucou?

A mulher sorriu para ela ternamente.

- Estou bem, obrigada. – disse. – Eu só preciso de ajuda para levantar. Você sabe como são os velhos, as nossas pernas são um pouco estragadas...

Hande sorriu de volta para ela e lhe deu a mão, sem se importar que estava suja de terra.

- Tem certeza? – se referiu as mãos sujas.

Hande não respondeu, apenas segurou a mão dela e a apoiou para que ela pudesse se levantar. Sem querer, a mulher mais velha passou a mão suja de terra na blusa da ponteira.

- Oh, eu sujei você! – lamentou.

- Não se preocupe, eu já ia tomar banho mesmo. – a tranquilizou. – A senhora está bem? Se machucou? Quer ir a um hospital?

- Calma, meu bem. – disse, soltando a mão dela. – Foi só uma escorregada e eu já estava abaixada.

A jovem suspirou aliviada.

- Ainda bem! – exclamou. – Eu não faço ideia de onde fica algum hospital...

- Você é nova aqui, não é? – indagou. – De onde veio?

- Eu vim da Turquia. – sorriu para ela e recebeu um sorriso de volta. – Sou turca.

- Mas só poderia ser! – pontuou. – Você é tão linda o quanto eu me lembro das mulheres turcas.

- Obrigada, senhora. – agradeceu. – A senhora também é linda.

- Me chame de Mirna, querida. Meu nome é Mirna Boskovic. – disse e Hande sentiu os pelos de sua nuca enrijecer. – O seu nome é...

- Hande. – sussurrou. – Hande Baladin.

- Seu nome faz jus a sua beleza. – a encarou. – Venha, vamos entrar para tomar um café.

A senhora se direcionou para a entrada da casa.

- Eu não quero incomodar a senhora. – falou. – Não precisa se dar ao trabalho...

- Não é incomodo algum. – olhou para ela por cima dos ombros. – Se quiser, pode ir tomar banho e voltar aqui. Eu preparei alguns churros essa tarde e eles ficaram com uma cara ótima.

Hande avaliou a situação e considerou contar a mulher mais velha que não podia aceitar o convite, porque havia se desentendido com a neta dela, mas aquilo estava fora de cogitação. E o que eram alguns churros? Ela tinha certeza que não mataria ninguém, caso aceitasse e Tijana não precisava saber disso.

- Bem, eu vou e volto num piscar de olhos. – chamou a atenção de Mirna. – Tenho certeza que não vai dar tempo da senhora sentir a minha falta.

- Não se esqueça de lavar bem atrás das orelhas! – aconselhou, vendo a garota ir até o portão da casa.

- Pode deixar! – gritou Hande e saiu correndo.

Ela foi o mais rápido que pôde e tomou cuidado em colocar um agasalho quente o suficiente para aguentar a noite sérvia.

Quando estava pronta, chamou a senhora no portão da casa e recebeu a autorização para entrar, mas antes percebeu a presença de um homem todo vestido de preto, olhando para ela ao longe.

- Senhora Boskovic, é comum que tenha homens vestidos de preto, com características totalmente duvidosas, rodeando por aí? – indagou, assim que entrou.

- Me chame de Mirna. – pediu suavemente. – Ele é o meu segurança, não precisa temer.

- A senhora tem segurança? – perguntou surpresa.

- A minha neta preferiu assim. – respondeu. – Eu exigi que ele não ficasse muito próximo, porque se dependesse dela, ele viveria dentro de casa.

- Ah, sim. – tentou evitar o assunto.

- Vocês deviam se conhecer. – sugeriu. – Tica é assim alta como você, meu bem.

Hande desviou o olhar.

- Quem sabe um dia. – sussurrou.

- Quando ela vier me visitar, vou pedir para passar na sua casa. – avisou. – Agora vamos comer os churros...

Ela arregalou os olhos com a possibilidade e imaginou a cara da morena quando a avó fizesse aquilo, e sorriu com a sensação.

- Vamos. – sussurrou.

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