Capítulo 60 | Depois

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___ Querida! Querida você acordou! ___ ouvi uma voz gritar entusiasmada. Abri devagar os olhos. Uma luz branca e forte me atingiu. Fechei-os. Senti um tipo de incômodo nas costas. Respirei fundo. Um ar gélido e ruim. Abri novamente os olhos.

___ Filha, ah, Deus! ___ uma mulher de cabelos pretos e longos pegou minha mão. Seus olhos estavam vermelhos, parecia ter chorado por anos... Senti sua mão gelada. Ela começou a chorar. Enguli em seco. Filha?

Alguém bateu na porta e entrou apressado.

___ Desculpe a demora, amor. ___ um moço de cabelos loiros a abraçou de lado. Ele me observava carinhosamente. ___ Isso é tão bom! ___ sorriu. ___ Ela acordou.

___ Ai, amor... ___ a mulher chorava. ___ Ela não diz nada! Isso está me preocupando. Cadê o médico??

___ Ele está vindo. Calma, ela ficou internada por quase três meses, é natural que esteja assustada. ___ disse.

Minha boca estava seca. Senti tudo rodar e desmaiei subitamente.

•••

Acordei novamente. O mesmo lugar. Tudo igual. Estava confusa... Estava em um hospital, mas não sabia o que tinha acontecido. Quem eu era? Quem eram as pessoas no meu quarto? A mulher de cabelos negros e o homem loiro? E ela dizia ser minha mãe, mas eu não me lembrava.... Não me lembrava de nada!

Ouvi uma conversa muito próxima.

" Ela precisa fazer alguns exames. Dona Valéria isso é um milagre, sua filha teve os pulmões intoxicados pela fumaça, não posso acreditar que ela tenha sobrevivido. Vamos manter a calma, tenho certeza que ela só desmaiou."

E logo em seguida, um senhor alto e de cabelos grisalhos entrou no quarto. Estava com os olhos cansados. Olhou na máquina ao meu lado, eu estava ligada a vários aparelhos.

___ Que maravilha. ___ desviou o olhar e me fitou. ___ Oi, Clarisse. Tudo bem? Pode falar?

Demorei um pouco para raciocinar. Então meu nome era Clarisse?

___ Posso. ___ respondi. A voz arrastada, como se eu não falasse há muito tempo.

___ Certo. Farei algumas perguntas, mas não precisa se forçar muito, ok? Não agora, pelo menos. ___ suspirou. ___ Qual o seu nome?

___ Clarisse. ___ respondi, pois foi como ele me chamara há pouco.

___ Ok. Quantos anos você tem?

Não sabia, não fazia ideia.

___ Não sei, não consigo...

___ Tudo bem. Qual o nome do seu namorado?

___ Eu tenho um...?

O médico arregalou os olhos, preocupado.

___ Já volto. ___ saiu.

Fiquei muito triste. Não me recordava de nada. Nem sabia meu próprio nome.

Minutos depois, a tal Valéria __ diga-se minha mãe, entra com o doutor.

___ Filha, filha... ___ ela se apavora, lágrimas tomam conta do rosto assustado dela. ___ Você se lembra de mim?

Fiz que não.

___ Meu Deus... ___ ela se afastou, com a mão na boca, apavorada. ___ Doutor, me diga que isso não está acontecendo!

___ Calma, calma. Vamos fazer uma pilha de exames. Talvez seja passageiro, Valéria. ___ o homem de branco tentou acalmá-la. ___ Já vi casos assim antes, por isso não me assustei.

Enguli em seco. Minha boca implorava por água.

___ Pode me trazer água? ___ pedi, sem saber para quem exatamente. Valéria assentiu e saiu.

Meu coração doía. Eu não sabia o porquê, mas senti uma dor tão profunda, como se uma parte de mim morresse...

___ Está bem? ___ ele perguntou assim que viu minha careta.

___ Sim... Só uma dorzinha no coração. Um mal-estar.

A mulher morena entrou e me estendeu o copo d'água. Tive dificuldade para me sentar e segurar o copo. Era como seu eu fosse um bebê.

___ Obrigada.

Depois que sequei o copo, ela o pegou e jogou na lixeira.

___ Doutor, se não se importa, o pai dela quer muito vê-la. ___ a mulher disse. ___ Ele pode? Quer dizer, todos querem, mas o pai...

___ Preciso fazer os exames urgentemente, ainda mais com a perda de memória da paciente. Aliás, acho bom isso ser rápido, antes que algo piore, então, pode ser depois dos exames?

___ Claro.

___ Senhora, preciso que saia agora. Vou chamar os médicos.

Antes que Valéria saísse, segurou o braço do médico.

___ Por favor, faça minha filha ficar bem. Por favor.


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