Capítulo 36 Antes

250 14 0
                                    

Foto: Sandra

Mamãe ficou super animada ao descobrir que Sandra jantaria conosco. Ela fez questão de preparar seus melhores pratos, arrumou a casa, escolheu a melhor roupa para meu pai vestir aquela noite, enfim, estava tentando ajudá-lo e aquilo me tocou. Saber que apesar de separados, ainda eram grandes amigos, foi algo bem bonito de se ver. E raro. Muito raro.
  Meu pai ficou emocionado ao ver que ela estava se esforçando para fazer tudo dar certo. Eles até derramaram algumas lágrimas.

___ Não sei o que seria de mim se não tivesse você, Val! Obrigada, mesmo. ___ meu pai abraçou minha mãe, com um brilho lindo nos olhos e um sorriso no rosto.

___ Imagina, eu estou aqui. Sempre que precisar, conte comigo. Somos amigos, não somos? ___ minha mãe segurou as mãos de meu pai, em um gesto carinhoso, e ele apenas assentiu, a abraçando novamente, só que mais forte.

___ Você não existe, sabia? Te amo, muito. ___ minha mãe ficou sem graça pelo " Te amo", mas logo mudou a expressão. ___ Sandra é uma pessoa incrível. Vai adora-lá. ___ minha mãe franziu o cenho, em tom de brincadeira.

___ Claro que vou, se é alguém que é importante para você, também será para mim. Prometo que vou fazer o meu melhor, se você for feliz com ela, serei mais feliz ainda por ver você bem. Sei que não somos mais marido e mulher, porém, jamais ficaremos distantes, eu tenho grande carinho por você e quero o seu melhor. Podemos ser amigos, sempre.

Meu pai estava com os olhos lacrimejando, a ponto de chorar com aquelas palavras que minha mãe dissera. Ele assentiu muito emocionado e mais uma vez a abraçou.
  Luiz, que ficaria para o jantar, também estava com os olhos cheios d'água. Fui até o sofá em que ele estava sentado e beijei seu ombro.

___ Chorando, Titi? ___ ele tentou disfarçar, mas eu já tinha percebido, apenas me deu um selinho e sorriu.
  Entrelaçou nossos dedos, deitei minha cabeça em seu colo.

___ É lindo isso que seus pais têm. Sabe... ___ ele ainda olhou para papai e mamãe que cantarolavam na cozinha. Continou, ___ Meu pai se separou da minha mãe, mas eles não são... Tipo, amigos. Apenas se aturam. Também, como ele poderia ser amigo de uma mulher que o abandonou com dois filhos para criar?! ___ uma lágrima fujona escapou de seus olhos. Olhei para ele comovida, e sequei seu rosto com o polegar. Não queria vê-lo chorar. Sabia que a relação dele e da mãe não eram das melhores... Ela havia deixado Doug para seguir um sonho, se esqueceu que tinha um marido, dois filhos e simplesmente fez o que queria sem pensar no que seus filhos poderiam pensar, sentir.  Levantei-me para olhá-lo. Meu coração se apertou só de pensar na dor que ele devia sentir. Ele foi criado apenas pelo pai, sem uma mãe. Sem um colo materno para protegê-lo. Claro que Douglas era um ótimo pai e sabia o quanto Luiz o amava, mas, não ter uma mãe deveria ser muito doloroso. Logo novas lágrimas brotaram em seu rosto. Meu peito doeu. Sua dor era a minha dor. Ver meu loirinho chorar era algo horrível. Ele quase não falava da mãe, evitava a todo custo se lembrar dela, justamente porque aquilo o magoava, eu sabia que ele se sentia traído, abandonado, mas chorar, eu nunca havia visto ele chorar por ela.

___ Loirinho... ___ sussurrei em seu ouvido. Ele me olhou e sorriu fraco. Puxei-o pela nuca, dando-lhe um beijo. Ele correspondeu naturalmente. Queria poder fazê-lo se sentir melhor, queria poder tirar sua dor, mesmo não sabendo qual era o tamanho dela, queria poder fazer algo. Mas, a única coisa que o faria se sentir bem não estava ao alcance de ninguém. Sua mãe. Sua infância sem ela, sua adolescência sem Francesca. Lucas estava descendo as escadas, ia vir falar com Titico, mas fiz sinal para que não viesse, ele subiu novamente.

___ Desculpe... Eu... ___ não deixei que terminasse. Coloquei o dedo em seu lábios, calando-o. Ele não tinha que me dizer nada, eu estava ali, poderia ficar ao seu lado, ele não era obrigado se desculpar por mostrar seus sentimentos. ___ Obrigada. Preciso de você... ___ ele disse, quase inaudível. Sorri. E ele me teria. Sempre. ___ Dói tanto, amor... ___ ele soluçou alto. Meu peito se apertou. Era uma droga vê-lo tão triste, tão vulnerável, tão magoado. Doía em mim também, por vê-lo sofrer e não saber como reagir, o que fazer... Sequei suas lágrimas com carinho, mas novas apareceram. Ele estava descarregando toda sua dor. Uma dor há anos guardada dentro do peito. Acariciei seu maxilar.

ClarisseOnde histórias criam vida. Descubra agora