Capítulo 3

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Acordei com um barulho de choro. Abri os olhos e vi o Lucas sentado na minha cama, chorando baixinho.

— Lucas? — susurrei e percebi que havia dormido por horas, e já era noite.

Ele chegou.. — ele parecia apavorado.

— Calma. O que houve? A mãe já chegou?

— Não. Ela não chegou ainda...

— O que aconteceu? Por que está chorando? — levantei delicadamente o rostinho dele.

— Estou com medo. Ele está bêbado e ele foi no meu quarto e ele me bateu....  — fungava, chorando.

— Calma... Eu estou aqui. Ele não vai mais te machucar. — olhei para ele apavorada com toda a situação, mas tentando deixá-lo mais calmo.

Eu o abracei e ele se aninhou no meu colo. Uma lágrima desceu de meu rostto.

Já não bastava minha mãe e eu?! ele? Que tipo de doente ele era? Meu irmão era inocente, uma criança que não tinha culpa de nada e era obrigado a viver daquele jeito também.

Nem sabia por que ainda o considerava meu pai. Ele era um monstro. Um sentimento de ódio percorreu minha alma. Eu soltei Lucas devagar e o deitei na cama. Ele ainda estava chorando, com as mãozinhas tapando o rosto.

Desci as escadas. Ele estava sentado no sofá, bebendo. Eu deveria ficar quieta. Eu deveria deixar pra lá. Eu deveria mas não deixei. Estava cansada. Cansada de toda aquela palhaçada! Até no meu irmão ele tinha batido. Eu já estava ficando louca. Sentia-me cansada de ver minha mãe sofrer e não fazer nada. E decidi que ele ouviria umas verdades naquele dia. Cheguei perto dele. Ele me olhou com dificuldade, meio zonzo, tentando focar a visão.

— Oi, meu bebê... Voxe cresceu... ele disse meio grogue, e em seguida se levantou com dificuldade.

— Você é um monstro. Não chegue perto de mim! — eu gritei, ele se surpreendeu com minhas palavras e eu também. Era a primeira vez que o encarava. Que fazia o que tinha que ser feito.

Gael chegava mais perto e conforme ele ia se aproximando, eu dava um passo para trás. Estava confiante, porém assustada, pois ele poderia muito bem levantar a mão e acabar comigo de uma vez só. Ele era maior e tinha mais força, nem pensei nisso antes de querer enfrentá-lo. Ele parou e me observou, cambaleando, se segurava na parede.

— Você sabe que o pai te ama. — ele disse. —  A culpa não é minha. Vem, filha. Por favor, me salva. Abraça o seu pai. — chamava com as mãos, e eu sentia o ódio crescendo dentro de mim. Vê-lo bêbado e acabado me deixava constrangida, abalada.

Ele tentou me abraçar e eu o chutei no local íntimo, assim ele caiu no chão, gemendo de dor. Sentia as lágrimas implorando para saírem dos meus olhos, mas não tinha pena dele, não. Preferiria não ter um cara como ele sendo meu pai. Sangue do meu sangue, passei as mãos em meus braços, senti nojo.

Ele se levantou, se recompôs, e mesmo cambaleando, ainda conseguia ficar em pé. Ele se aproximou novamente, mas antes que eu pudesse reagir...

ClarisseOnde histórias criam vida. Descubra agora