Capítulo 37 Antes

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   Domingo.

Acordei muito tarde. Depois do jantar da noite anterior com a Sandra, fiquei até mais tarde falando com Vivi e Luiz por mensagens. Era o dia em que eu iria visitar o Leãozinho. Estava com saudades daquele bichinho, bem estranho, eu sei, mas eu estava me apegando tanto a ele, que não conseguia ficar mais de um mês sem vê-lo. Nosso diálogo era a linguagem do olhar, só poderia ser daquele jeito. Eu me sentia bem perto dele e queria tanto poder cuidar dele. O pessoal que trabalhava lá, me  diziam que ele era um animalzinho tristonho,  e desde que me "conheceu", se tornou dócil demais, alegre. Parecia loucura, mas eu podia ver o brilho, a alegria nos seus olhos quando o visistava. Achava até que tínhamos alguma ligação, alguma conexão.
   Jamais me apeguei tanto à um bichinho assim, como havia me apegado a ele. Era como se fosse da família, um filho, irmão, não sei.
   Tomei um banho, coloquei um short jeans, uma camiseta marrom escura bem simples e meu costumeiro colar. Desci, almocei e mandei uma mensagem para Luiz, que iria comigo ver o pequeno Leão.
   Ele já fora comigo ver o animalzinho antes, esta era a segunda vez. Titico o adorou, eu fiquei feliz em saber que ele também se encantou com o pequeno, tanto que quando falei que ia vê-lo, meu amor não pensou duas vezes, quis ir comigo. Eu amava aquele leão, era algo forte, uma ligação de outro mundo. Sentia-me parte dele, sentia-me protegida perto dele, abençoada.
   Meus pais também já tinham visto-o, mas eram indiferentes.
   Ver o Leãozinho era um ritual, algo que não podia deixar para depois, era como se fôssemos um só.
 
___ Já vai, filha? ___ perguntou minha mãe que estava deitada no sofá, acariciando sua barriga.
    Lucas e meu pai dormiam ainda.

___ Sim. Luiz já está quase chegando. ___ sorri, fui até ela a abracei sua cintura. ___ Hey, oi, bebê. ___ olhei para seu neném, passei a mão por sua barriga. ___ Ai, às vezes parece que isso é surreal, mãe.

Ela franziu o cenho.

___ Por quê, meu amor?

___ Tipo, caramba, vou ter mais um irmão! ___ exclamei, sorridente.

___ Como, como sabe que é um menino, filha? ___ minha mãe olhou-me surpresa. Então, foi aí que percebi, eu não sabia... Só falei.

___ Ah, bom... Sabe que eu não sei. Saiu do nada. ___ falei, confusa.

   Mamãe me encarou suspeita, mas depois esboçou um sorriso, beijando em seguida minha cabeça, em um gesto maternal.

___ Ah, filha. Te amo, sabia? ___ senti uma paz enorme no coração. Também, mãe. Mais do que imagina.

___ Eu também. Muito. ___ beijei seu rosto, abraçando-a com ternura. Uma lágrima desceu em meu rosto. Mamãe sorriu, acariciando minha face.

___ Sei que não sou tão carinhosa, mas amo você mais que tudo, amor. Você, seu irmão, seu pai, e... Esse novo integrante da família... ___ ela beijou-me novamente.

   A campanhia tocou. Luiz.

___ Mamãe, é o Luiz. Já vou. ___ a beijei na cabeça e dei um abraço rápido.

  Peguei minha bolsa em cima do sofá e abri a porta.

___ Saudade de você, Leãozinho. ___ Titico disse, abraçando-me com carinho e amor. Ah, como amava abraça-lo. Não fazia nem vinte e quatro horas que tínhamos nos visto, mas ele dizia estar com saudades, só Luiz mesmo! Desde que ele foi comigo ver o filhote de leão, que  deu para me chamar de "Leãozinho".

___ Também, amor.

  Ele acenou para minha mãe da porta e saímos.

*****

  Chegamos. Acenei de longe para Josué, que cuidava da alimentação dos animais. Fomos andando abraçados até a "casa" do Leão.
  O pequeno estava como sempre: sentado, com os olhos olhando para algo além do que enxergamos, as patas juntinhas. Sorri verdadeiramente ao me aproximar mais dele. Senti uma paz inigualável. Seus olhinhos brilharam ao me ver, ele se levantou, andando em minha direção. Ficou observando-me com carinho, ternura, amor. Sempre que o via, olhava dentro de seus olhos, eu sentia-me tão bem, tão protegida, tão feliz, um sentimento complicado de entender, mas com certeza, muito bom. Não me importava se Luiz, meus pais ou quem quer que fosse, me achavam louca por dizer que ele sorria para mim, mas era verdade.
   Titi abraçou-me com força por trás. Arfei. Estava perfeito. Luiz e Leãozinho. Eram como minhas metades, meus amores, minha vida.
   Uma lágrima escorreu de minha face. Não por estar triste, mas sim, feliz. Não havia como descrever a paz que eu sentia ao lado daqueles dois, era de uma magnitude tão grande, não havia como explicar. Meu coração acelerava ao lado de Luiz, minhas pernas tremiam, seu toque paralisava-me, seu sorriso me derretia.

___ Eu sou a pessoa mais feliz do mundo. ___ sussurrei, pensando que Luiz não ouviria. Embora, fosse óbvia a proximidade.

___ Eu Quem sou. ___ falou, depositando um beijo terno em minha nuca. Suspirei.

Leãozinho riu com nossas trocas de carinho. Sorri para ele.

___ Você é sapeca, hein? ___ ri .

___ Hã? ___ Titico indagou, olhando para mim.

___ Estou falando que Leãozinho é sapeca... ___ virei-me para ele, que franzia o cenho, sem compreender nada. Eu sabia que ninguém ali conseguia enxergar nossa ligação. Porém, eu conseguia. Eu sentia. Era isso que importava, eu quem tinha que sentir, ninguém mais precisava entender.

   Sorri com meus pensamentos. Às vezes, pensava que Leãozinho era como um anjo enviado por Deus. Será?

ClarisseOnde histórias criam vida. Descubra agora