Capítulo 9

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Depois de agradecermos Dalva, fomos para casa. Eu nunca estive com tanta saudade da minha humilde residência. Estávamos quase chegando. Estava com a cabeça apoiada na janela. Pensava em tudo... em como amo minha família e jamais havia percebido o quanto são importantes pra mim. Lucas comia um salgadinho e cantava a música que tocava no rádio, Lepo lepo . Meus pais estavam calados e eu também. Sei que dois meses e meio não é quase nada, mas senti como se tivesse ficado desacordada por anos. É uma sensação estranha. Tínhamos chegado! Nem sei por que meu coração está batendo forte. É a minha casinha. Descemos e lá vieram meus pais com todo aquele cuidado desnecessário comigo.

Quando entrei, senti aquele cheirinho natural dela. É casa, como senti sua falta. Desde quando uma pessoa sente tanta falta de uma casa? Eu não sei. Mas eu senti. Queria ter um cachorrinho pra vê-lo correr até mim, todo feliz e abanando o rabinho. Minha mãe tirou algumas coisas do carro e entrou.

*****

Depois de alguns dias, me recordei da bomba que teve em casa. Da traição de minha mãe e tudo mais. Ela disse que quando eu me lembrasse, era pra dizer, pois teríamos uma conversa séria sobre isso. E me lembrei mesmo. Ainda podia sentir a raiva dentro de mim. Mas precisava ouvir seus argumentos, não podia simplesmente odiá-la, ela era a minha mãe! Nos sentamos e ela começou:

— Filha... Eu quero que me perdoe por tudo. Por ter feito aquilo com você. Por tudo mesmo... — ela derramou uma lágrima. — Perdi o controle e fiz besteira. Mas, quero que saiba, que não foi uma simples traição.

— Como assim, mãe?

— Eu o amo. Sempre amei. Seu pai foi um bom homem comigo, porém eu vacilei com ele. E me arrependo por tê-lo feito sofrer. Conheci Douglas e me apaixonei. Ele é um bom homem... Você vai amá-lo.

— O quê? Mãe... — Fiquei confusa.

— Depois que você entrou em coma, seu pai e eu estavámos muito arrependidos e decidimos conversar e botar as cartas na mesa. Decidimos nos separar. E eu e Douglas estamos oficialmente juntos. — ela disse, um pouco constrangida. Como assim?!!

Eles piraram, só pode! Tudo bem... Minha mãe o traía e tudo mais, só que ele não poderia perdoá-la? Não consigo imaginá-lós separados. Parece errado. Perai... Eu sempre quis isso. Não quis? Enguli em seco. Sim. Eu queria muito aquilo. Queria vê-los bem,não importava se estivessem casados ou não, mas naquele momento eu não soube nem como reagir.

— Mãe, vocês têm certeza disso? Quer dizer.... É muito estranho e... — ela me interrompeu.

— Filha... Sei que no começo pode soar estranho pra você e até para seu irmão. Mas, nós dois temos certeza sim e conversamos sobre isso. Eu amo o Douglas, de verdade.

— Mas... Meu pai disse, no dia em que brigamos, que ainda te amava. E muito. — falei triste.

— Eu sei... Mas o que posso fazer? Eu gosto muito dele apesar de todas nossas desavenças e a minha traição. Ele me perdoou e eu o perdoei. Estamos bem, até melhor que antes. Descobri que seu pai pode ser um grande amigo pra mim. Ele é um bom homem filha. Durante dois meses e meio, ficamos sofrendo com o estado de sua saúde, ficamos muito próximos. Nós dois erramos e erramos feio. Mas sabe... Agora estou tão feliz, principalmente por você estar bem. — ela sorriu.

— Bom... Se é assim... Eu entendo. —falei confusa.

— Ah. E não se preocupe. Imagino que depois de tudo que você passou, você esteja confusa quanto a tudo isso. Podemos dar um tempo pra você raciocinar direito.

— Verdade... Estou me sentindo no meio de uma guerra, e sem munição. Não sei o que fazer. O que pensar.

— Querida, nós te amamos. E, eu e seu pai mudamos muito enquanto você esteve internada, nos arrependemos de tudo. Espero que nos perdoe. — ela deixara uma lágrima escapar. — Fomos péssimos pais pra você e seu irmão. Nunca me senti tão mal assim em toda a minha vida. — ela chorava.

Peguei sua mão e a acariciei. Mãe... tudo bem....

— Não chore, mãe. Eu entendo. Todos erramos, e fica tranquila. Eu perdôo vocês dois. — sorri pra ela e a abracei.
Era difícil raciocinar depois de tudo que havia acontecido, mas eu queria e precisava tentar perdoá-los. Seria a nossa oportunidade de ser felizes.

— Desculpa... — ela choramingou em meu ombro.

— Shh... Tá tudo bem, mamãe... Eu te amo. — ela levanta o rosto molhado.

— Filha... obrigada. Eu também te amo muito.

ClarisseOnde histórias criam vida. Descubra agora