Clarisse

Capítulo 56 | Antes

   "Bem vinda ao Brasil!"

   ___ O que foi, amor? 

Luiz estava muito estranho. E eu, cada vez mais preocupada. Ele andava calado, pensativo, muito diferente do que realmente é, ficou assim por dois dias. 

  Ele havia desligado o celular, assim que entrei no quarto. Eu tinha acabado de sair do banho e estava com frio e a janela aberta não ajudava. Puxei a trava e fechei, tremendo. Abri minha gaveta e peguei uma calcinha e um sutiã cor de pele. 

___ Podemos conversar? ___ pediu, assenti. Ainda estava enrolada na toalha. Sentamos na minha cama. Suspirei, pensando no quão ruim aquilo poderia ser. Fez-se um silêncio melancólico e ele não abriu a boca, olhava para o além da minha parede. 

___ Estou apreensiva, fala logo. ___ implorei. Olhou-me. Luiz me dava medo quando fazia aquela cara de suspense.

___ Francesca não está bem. Ela está morrendo... ___ referia-se a mãe italiana. 

Fiquei quieta, tentando absorver a informação...

___ O que aconteceu?

___ Ela está com câncer, fase terminal. ___ falava calmamente, mas eu podia sentir a dor em suas palavras, em cada uma delas.

Não era de se esconder que Titico e a mãe não eram muito "amigáveis" ou próximos, afinal a mulher o abandonou. Deixou os filhos para seguir carreira na Itália. E eu entendia a dor que ele sentia. Desde sempre eu vi meu namorado sofrer calado, fingia que não se importava, que Francesca não existia mais, porém, sempre soube que ele no fundo, bem lá no fundo, se preocupava e a amava. 

___ Mas no Ano Novo ela estava ótima... ___ não compreendia.

___ Não, ela já estava sabendo da doença, mas não contou para ninguém. 

Ficamos quietos por um instante. 

___ Isso é péssimo. 

___ Eu sei, e nunca me doeu tanto saber que ela vai morrer em breve. ___ abaixou a cabeça, abracei-o e ele se deitou em meu colo. ___ Eu nem mesmo a conheço, Mamu. Não sei quem é a minha mãe. 

Acariciei sua cabeça. Não sabia o que dizer, o que fazer.

___ Você ainda pode conhecê-la. ___ falei. 

___ O quê? 

___ Traga sua mãe para o Brasil, amor. Viva ao lado dela, aproveite o tempo que resta... ___ eu não fazia ideia de onde tinha tirado aquilo, mas levei a diante. ___ Você ainda pode conhecer sua mãe. E mais, ela precisa de você nesse momento.

Luiz ficou em silêncio. Levantou-se e me olhou, talvez pensando na hipótese. 

___ Será? 

___ Eu acho uma ótima ideia. ___ sorri. 

___ Não sei se ela está em condições de viajar. ___ pensava. ___ Mas posso ver se ela topa. 

___ Claro. Eu adoraria realmente que você fizesse isso. ___ ele me abraçou, chorando. Meu sorriso desapareceu, o que eu tinha feito?

___ Desculpa, é que eu não consigo acreditar que vou perdê-la, entende?

___ Sim, meu bem. Eu estou aqui. 

___ Obrigada, amor... Obrigada.

E realmente, a modelo acabou aceitando vir para o Brasil. Luiz comunicou à família __ sobre a doença, principalmente, e a maioria adorou. Percebi que todos estavam dispostos a serem gentis e prestativos com a mãe de meu namorado. Mamãe achou um pouco estranho no início, mas disse que não se importaria em recebê-la.