✦ Capítulo 6

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6. Conquistar seu coração

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Scott não estava brincando quando disse que ia fazer de mim um campeão. Ele era um doce, gentil e ótimo no patins. Praticamos todos os dias da semana. Quando eu acertava o salto, ele dizia "Você é incrível Pierre!". Quando eu deslizava bem, ele dizia "Você é o melhor, Pierre!". E quando eu caia, ele dizia "Você consegue, Pierre!". Demorou três semanas para ele falar meu nome corretamente, e nunca me senti tão empolgado quanto quando ele pronunciou corretamente cada sílaba. Português pode ser meio difícil para os norte-americanos. Faltavam dois dias pra competição e minha apresentação estava impecável. Não tinha como eu perder! Mas havia algo que eu almejava ganhar mais do que um troféu e aplausos: o coração do Scott.

Ok, estava mais do que claro que ele tinha interesse em mim. Tínhamos exatamente a mesma idade, mas eu era definitivamente diferente de todos que ele já tinha conhecido. Eu era brasileiro, tinha cabelo colorido, usava roupas descoladas compradas de brechós e personalizadas com meu talento em artesanato e crochê, patinava como ninguém, tinha dois pais e sabia flertar como um grande amante. Ele próprio ou seus colegas eram comuns. Todos canadenses e alguns poucos franceses ou estadunidenses, cabelos sempre bem cortados e arrumados até demais, usava roupas de lojas de departamento, duvido que fizessem algum bom esporte e não sabiam nada sobre romance de verdade. Eu era uma boa opção pra ele, modéstia parte. E eu soube que ele também era uma boa opção pra mim quando meu pai o conheceu.

Naquele dia, meu pai iria trabalhar até mais tarde. Por isso, quem foi me buscar foi Matteo, meu papai carinhoso e empolgado para conhecer meu misterioso treinador, e se surpreendeu ao me ver com um garoto que ele nunca tinha conhecido de perto.

— Oi Pierre, meu querido! — ele invadiu a pista, aproveitando para patinar um pouco, me abraçando forte, e eu o abracei de volta. É algo que, com o tempo, melhoramos. Ele ama abraçar, eu amo ser abraçado por ele e abraçar de volta, apesar de que desde criança eu não era fã de abraços. Scott me olhou curioso, provavelmente sem entender a língua. Matteo sempre falava em português comigo. E Matteo também o olhou curioso. Quando nos soltamos do abração, os dois se encaravam, esperando eu apresentar os dois.

— Pai Matteo, esse é o Scott, meu treinador. Scott, esse é meu pai, Matteo. Ele se casou com meu pai há dois anos. — apresentei os dois. Matteo sorriu, apertou a mão de Scott e me olhou.

— Você prometeu parar de namorar sendo tão novo, Pierre. — me disse, em português.

— Papai, Scott é só meu amigo que está me ajudando a ganhar o troféu! — respondi a ele. Ele me olhou dos pés a cabeça desconfiado. Revirei os olhos. — Eu gosto dele. — murmurei envergonhado.

— Ah... Não tô entendendo o que vocês estão falando, mas tô sentindo que tá ficando íntimo demais. Eu vou ao banheiro e já volto, ok? — Scott sorriu, deslizando dali. Ele continuava com meu coração no bolso de sua calça moletom.

— Eu sabia! — papai Matteo disse convencido, enquanto eu fazia bico como uma criança. Afinal, eu era uma criança. Uma criança espertinha a nível de ser chata. — Prometeu que não ia mais namorar.

— Eu não quero que ele seja um namorado de mãos dadas. Eu quero seriedade, entende? Um relacionamento real. — falei, e papai me encarou esquisito.

— Onde você aprendeu tudo isso? — perguntou meio surpreso. Fiquei com vergonha.

Não admiti para ele, mas posso admitir para você?

Წ Go Pierre! (Crônicas do Pierre)Onde histórias criam vida. Descubra agora