✦ Capítulo 5

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5. O jogador de hóquei

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Minha rotina estava muito bem definida desde que comecei a patinar. De segunda e terça eu treinava e praticava depois da aula, apreciando a beleza das minhas colegas, já que grande parte eram garotas, só que por algum motivo algumas delas não gostam de mim, só por que eu namorei uma dessas garotas por dois meses e resolvi terminar por que ela falava alto e gritava no meu ouvido o dia inteiro, e falei exatamente isso com ela ("meu ouvido não é pinico garota. Quero terminar"). As quartas eu praticava sozinho, depois da aula de escrita criativa, impressionando as crianças que vinham patinar com seus pais. As quintas e sextas, também depois da aula de escrita criativa, eu chegava um pouco mais cedo de propósito, sabendo que não podia usar a pista por causa do treino de hóquei, apenas para apreciar os garotos do time. Agora eu tenho 13 anos. Era muito mais fácil eu me apaixonar pelas garotas e garotos ao redor e eu começava a ter espinhas e aquele bigode ridículo de garoto na puberdade começava a aparecer. Pra minha sorte, meus bigodes eram loirinhos na minha pele branca, ou seja, ele era imperceptível por ser pouco e se camuflar no meu rosto.

E num desses dias, enquanto eu estava sentado e tranquilo tomando milkshake e apreciando aqueles garotos, um disco voou em minha direção, caindo do meu lado. Um dos garotos correu até os limites da pista, me olhando.

— Ei, garoto! Você com cabelo de Coraline! — gritou, chamando minha atenção. Me senti feliz por ele entender a referência do meu cabelo. — Tem como me dar esse disco? — pediu. Dei um sorriso de lado. Era minha chance de ter a atenção de um garoto, patinador e bonito, e eu sabia que no time dele só tinham pessoas da minha idade. Peguei o disco e andei até ele, mas puxei o disco para mim antes dele conseguir pegar. — Qual é cara? Me devolve logo!

— Como se diz? — perguntei, de braços cruzados e olhando nos olhos dele. Ele me olhou indignado.

— Consigo te partir em dois com esse taco. - ri e me aproximei o máximo que pude de seu rosto, que estava protegido pelo capacete, sentindo ele suspirar surpreso.

- Duvido. - sussurrei. - E o certo seria "Me encontre depois do treino, na pista". - sorri pra ele, usando meu máximo de sedução que aprendi com minhas constantes trocas de namorado, e vi o garoto ficar corado e desviar o olhar. Provavelmente não estava acostumado com flertes, já que realmente ainda éramos muito novos. Eu que sempre fui muito à frente da minha idade. - Aqui, gatinho. Arrasa! Pode fazer um ponto pra mim? - dei uma piscadela, e vi seu rosto ficar ainda mais vermelho. Ele pegou o disco e foi em direção ao seu time, às vezes olhando pra mim e sem conseguir se concentrar totalmente. Mesmo assim, ele cumpriu o que eu pedi. Ele fez três pontos em minha homenagem. E eu sabia que era pra mim por que toda vez que ele marcava, ao invés de comemorar com o time, ele patinava perto das barreiras da pista, sorrindo fofo e acenando pra mim.

Finalmente o treino de hóquei acabou, e eu fui patinar, aguardando o garoto. E ao olhar para trás depois de uns minutos, vi ele. Ele tinha cabelos castanhos meio ruivos e rosto sardento que antes estavam escondidos no capacete. Ele sorriu empolgado, patinando rápido em minha direção e quase me derrubando quando segurou em mim para parar o patins.

- Você é tão incrível! - ele sorriu, e dava pra ver que sua pupila estava dilatada e seus olhos brilhavam. Mas logo, ficou envergonhado por quase ter me derrubado. - Ah... Desculpa por isso. - se afastou, sorrindo fofo e tímido para mim. - Eu me chamo Scott.

- Pilgrim? - perguntei, rindo. Ele sorriu ainda mais, abrindo o zíper de seu casaco e revelando sua camisa com uma enorme logo da Sex Bob-Omb, a banda do Scott Pilgrim das HQs.

- Como adivinhou? - nós rimos juntos. - Você é uma versão masculina e irada da Ramona Flowers. - fechou o zíper do casaco, e eu concordei. Cabelo colorido e mudar o corte de cabelo toda hora é algo que eu e ela definitivamente temos em comum. E talvez, só talvez, essa troca de relacionamento quando estou pegando raízes demais também seja algo em comum. Minha mente ainda era, de certa maneira, infantil. Eu não entendia a complexidade dos meus próprios sentimentos naquela época. Mas hoje entendo que todos os meus sentimentos por todos aqueles que eu andei de mãos dadas foram intensos, mas passageiros. Eu não queria amar ou ser amado. Eu só queria alguma aventura para viver. Metade deles ficavam normais com nosso término, pois também não entendiam a complexidade de um relacionamento e também só queriam se divertir. Mas hoje em dia vejo que já magoei e parti corações de meninos e meninas incríveis demais pra mim. Agora, meu cabelo era azul escuro, estilo Coraline, batendo nos meus ombros. Eu também usava uma franjinha.

- É, meu segundo nome é Ramon e meu sobrenome é "das Flores". Sou uma versão latina da Ramona. E você pode me chamar de Pierre.

- Pierre Ramon das Flores... Bonito nome! - sorria largamente, e começamos a patinar devagar lado a lado. - Você é latino então?

- Minha mãe era chilena e meu pai é brasileiro. Eu também nasci no Brasil, mas moro aqui desde... - pensei. Faz tempo. Não me lembro quanto tempo. - Desde que eu consigo me lembrar.

- Legal! Minha família é toda daqui mesmo. - ele sorriu, me encarando nos olhos com aqueles olhos gigantes que me lembrava filhotes de cachorro com fome me olhando enquanto eu comia um delicioso sanduíche. - Você faz patinação artística, não é?

- Sim, faz quase um ano.

- E você é bom? - sorri orgulhoso antes de responder.

- O melhor da turma.

- E vai competir no torneio?

- Que torneio? - perguntei em dúvida. - Não fiquei sabendo de nada.

- Torneio de patinação artística. Primeiro você precisa competir na cidade, depois na província e depois no país. Quem sabe até no mundo! - ele disse, como um grande sonhador. De repente, alguém o chama, e ele olha pra trás. - Ah, meu pai veio me buscar. Mas se você precisar de alguém pra treinar com você... - ele me entregou um papel com seu número de telefone. - me liga. Eu vou fazer de você um campeão!

- Obrigado pela ajuda, Scott. - sorri pra ele, contente por ter alguém pra me ajudar a praticar e a competir. Ele sorriu fofo pra mim, segurou meus ombros e beijou minha bochecha, patinando até a saída e levando meu coração no bolso de seu casaco, me deixando com pensamentos embaralhados, sentimentos confusos, borboletas no estômago e o rosto vermelho. Eu já havia sentido aquilo, mas nunca tão intenso como daquele jeito.

E a partir daquele momento, eu finalmente fiquei solteiro por meses, e não estava mais nem pensando em qualquer garoto ou garota da escola ou do curso. Agora, eu estava decidido a fazer daquele garoto meu namorado definitivo. Somente ele. Nada de namorados de mãos dadas mais. Exatamente, Scott e Ramon. Uma versão bem gay de Scott Pilgrim e Ramona Flowers.

 Uma versão bem gay de Scott Pilgrim e Ramona Flowers

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Წ Go Pierre! (Crônicas do Pierre)Onde histórias criam vida. Descubra agora