✦ Capítulo 11

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11. Primeiras Vezes 

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Fiz 16 anos. Que coisa esquisita. Sabe o que é mais esquisito? Passei meu aniversário na China. Meu aniversário era em fevereiro, e coincidentemente era na semana do ano novo chinês. Yuhan combinou com meus pais uma viagem com muita antecedência, tiramos passaportes, ganhamos vistos e voamos juntos até Pequim, cidade onde Scott Hu Zhang nasceu e viveu alguns anos. Ele me ensinou algumas pequenas frases em mandarim, apenas o suficiente para caso eu ficasse perdido ou algo parecido.

O voô foi tranquilo, apesar de eu estar ansioso. Era minha primeira vez indo para tão longe. Eu só havia conhecido até hoje o Canadá, Estados Unidos, Brasil e Porto Rico. Jamais saí da América. E também, meu aniversário era sempre comemorado na mesma pizzaria desde meus 8 anos. Meus cabelos eram tingidos num tom verde claro, mas algumas mechas estavam loiras, sem coloração nenhuma, o que de certa maneira fazia eu parecer uma bandeira do Brasil ambulante.

Yuhan tinha uma casa meio afastada da cidade, com uma bela vista e um rio próximo. Apesar de 70% do tempo dos primeiros dias eu estar sonolento por causa do fuso horário, eu consegui nadar com o Scott e meu pai, enquanto pai Daniel ficava no píer, com Max no colo, por que não sabia nadar muito bem.

Max cresceu bastante, e já tinha quase 2 aninhos. Andava e corria, tinha dentes que nos mordiam o tempo todo e eu sabia que me amava mais do que tudo. Vez ou outra balbuciava, mas ninguém entendia. Sabíamos que em breve teríamos suas primeiras palavras.

Por conta do meu aniversário de 16 anos, meu pai insistiu em me ensinar a andar de carro pela primeira vez. Ele me instruiu sobre tudo o que eu devia fazer, enquanto eu tremia de medo de bater ou capotar o carro do meu sogro num país que eu nunca estive antes. Mas no final, eu era um ótimo motorista, recebendo elogios até do Yuhan, provavelmente grato por eu não arranhar o carro lindo e caro dele.

Quando eu disse a Scott que eu nunca fiz um piquenique, ele insistiu que deveríamos fazer um para o meu aniversário. Forramos um pano enorme numa colina debaixo de uma cerejeira, com uma vista de tirar de o fôlego. Tinha um belo bolo feito tradicionalmente pelo meu pai, Matteo, que fazia meu bolo em todos os meus aniversários. Scott fez cookies, Daniel, com a ajuda de Max, fez pão de queijo, com uma grande sorte de ter encontrado uma loja brasileira que vendesse polvilho azedo. E Yuhan comprou pizza e refrigerantes para todos nós. Enquanto eu comia um pão de queijo, Max me olhava com fascinação.

— O que foi, bebê? Quer um pouco? — ofereci meu pão de queijo a ela. Ela abriu um sorriso com seus dentinhos e apontou para meu rosto.

— Pierre! — sua voz aguda de bebê disse. Fiquei sem reação, enquanto Matteo o abraçava com força.

— A primeira palavra dele... foi meu nome? — eu perguntei, incrédulo.

— Sim! Está vendo, filho? Sua irmãzinha te amo! — Matteo disse, super sorridente. E no meio daquilo tudo, até Scott comemorou, me dando um beijo na bochecha.

Mais tarde naquele mesmo dia, por algum motivo, resolvi beber minha primeira cerveja na companhia de Matteo, meio escondido de Daniel, que cuidava de Max.

— Nossa, isso é muito amargo! — eu falei, depois de dar um grande gole na cerveja. Matteo riu e me puxou para perto, me abraçando de lado.

— Eu sei filhinho. Já já fica pior. — ele riu, e beijou minha bochecha. — Feliz aniversário, querido.

— Obrigado, papai. — agradeci, sorrindo. Mas logo ele pareceu meio preocupado.

— Você sabe que sempre foi e sempre será meu filho no meu coração, mas legalmente você não é. — ele disse, meio tenso. Eu acenei, me sentindo meio esquisito. — Mas se você quiser mudar isso... — ele me entregou um papel. — É só assinar. Não precisa pensar agora, ok? Vou colocar Max pra dormir. Boa noite. — beijou minha testa.

Abri o papel. Era um documento de adoção. Matteo queria ser reconhecido legalmente como meu pai. Meu coração se acelerou e eu sorri. Dobrei o papel e botei no meu bolso. Claro que irei aceitar! Terminei a cerveja em dois goles.

Pensei comigo mesmo. Minha primeira vez fora do continente. Minha primeira vez num ano novo chinês. Minha primeira vez dirigindo. Minha primeira vez num piquenique. A primeira palavra de Max. Ah, que empolgante! Ser adolescente é legal! Definitivamente, a vida é feita de primeiras vezes.

Mas definitivamente, minha primeira vez favorita foi com o Scott, quando fui para o quarto com ele, que conseguiu convencer seu pai a nos deixar dormir juntos. Não vou entrar em detalhes, mas foi ótimo para uma primeira vez, e nunca me senti tão bem quanto naquele momento, abraçado com ele e embaixo das cobertas. Mas foi meio vergonhoso ter que fazer meu pai esperar na porta para me dizer algo enquanto eu e Scott nos vestimos o mais rápido o possível e fingimos que nada tinha acontecido.

Pra tudo tem uma primeira vez, certo? Até mesmo para essa vergonha e climão enquanto meu pai encarava eu e o Scott meio estranho como se soubesse exatamente o que tínhamos feito e Matteo, meu outro pai, me perguntando mais tarde quando estávamos a sós se eu tinha usado camisinha, me entregando um pacote de camisinhas por segurança e me dando algumas explicações e dicas importantes para ter uma vida sexual saudável, já que meu pai mesmo ficou com vergonha demais pra isso.

— O Daniel é assim mesmo. Ele tá aprendendo a lidar com você sendo tão grande assim, garotão — ele disse.

— Valeu pelas dicas. E valeu pelas... você sabe. — falei, meio envergonhado.

— De nada, filho. — ele sorriu.

Me sentia tão envergonhado enquanto colocava as camisinhas na gaveta de Scott, e não parava de lembrar que agora meu pai sabe que eu perdi a virgindade e me olhava enquanto eu almoçava do lado de Scott. Constrangedor, mas melhor do que levar uma bronca por ter feito sexo por puro puritanismo. No final, ele entendeu e conseguiu lidar com isso, e até me comprou um kama sutra.

Use com sabedoria — me entregou meio que escondido, e me deu uma piscadinha. — E não esquece a camisinha.

Aceitei de bom grado. Só ousei abrir esse livro 3 anos mais tarde, mas isso aí já é detalhe demais que você não precisa saber!


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Წ Go Pierre! (Crônicas do Pierre)Onde histórias criam vida. Descubra agora