✦ Capítulo 2

37 7 18
                                    

*ੈ✩‧₊˚༺👾༻*ੈ✩‧₊˚
2. O casamento do papai
*ੈ✩‧₊˚༺👾༻*ੈ✩‧₊˚

Minha mãe faleceu quando eu tinha 5 anos. Eu mal havia começado a ter consciência da minha existência, e logo tive que encarar a morte. Sabe aquela coisa de "penso, logo existo"? É algo extremamente real. Percebi que eu existia e estava vivo quando tinha 2 anos, quando tive meu primeiro pensamento, sobre o quão burro meu pai pensava que eu era, achando que eu não o veria atrás de uma árvore pequena e magra, enquanto brincávamos de esconde-esconde. Quando ouvi aquela voz que nunca tinha ouvido na vida dentro da minha cabeça dizendo "Ele sabe que é muito fácil ver ele?", comecei a entrar em pânico e a chorar, fazendo meu pai sair do esconderijo ridículo para me acudir e me consolar, sem entender o motivo do choro, que só aumentava com aquela voz falando mais e mais totalmente descontrolada. Mas, apesar do susto, depois disso me desenvolvi rápido. Aprendi a ler, a escrever, a andar e a falar. Fui o mais inteligente da minha sala da creche, e me arrisco dizer que era mais inteligente até que os garotos mais velhos (que tinham no máximo 6 anos de idade). E com todo meu crescimento mental, aprendi a compreender as situações ao meu redor.

Minha mãe estava doente desde que eu tinha 2 anos. Vi ela ficar cada vez mais fraca e pálida, e ela morreu pacificamente durante o sono, num quarto de hospital, com câncer, enquanto meu pai apertava sua mão e dizia que tudo ia ficar bem, que ele sempre a amaria e era hora dela descansar da sua árdua luta contra a doença. Só me dei conta de que verdadeiramente nunca mais veria minha mãe quando fecharam seu caixão. Fui invadido por um desespero e uma tristeza. Não queria ficar sem minha mãe. Meu pai teve que me abraçar e me segurar no colo para que eu não pulasse na cova junto com o caixão de madeira escura. O funeral dela foi lotado. Ela era uma pessoa simpática e era professora. Vários alunos dela, de crianças a adolescentes, compareceram para fazer homenagens a ela e chorar por sua morte. Com uma empatia gigantesca no meu peito, eu chorei ainda mais ao ver as pessoas chorando, pois sabia que elas também estavam sofrendo. Mas também, acho que aquele foi um dos primeiros momentos que pensei o que eu queria ser: inesquecível e amado.

Agora eu não era mais um bebê. Aprendi a lidar com a morte da minha mãe, por mais que tenha sido difícil no começo. Eu sabia que não devia falar da minha mãe com meu pai no início, mas com o tempo conseguíamos falar dela e contar belas histórias sem nenhum de nós dois acabarmos chorando. E a morte da minha mãe também me ensinou que eu devia ser gentil e amável com todos como ela era, se eu quisesse ser tão inesquecível, amado e apreciado quanto ela. E com isso, meu pai superou a dor do luto de um viúvo, e se viu aberto a um relacionamento. Percebi isso quando passei em frente ao seu quarto um dia, e ele falava no telefone com um sorrisinho bobo e apaixonado, sussurrando palavras de amor a desconhecida. Coisas como "eu te amo", "mal posso esperar pra te ver de novo" e "que tal irmos jantar naquele restaurante chique que você gosta? O Pierre consegue se virar sozinho. Ele é bem esperto". E finalmente, depois de quase 1 ano inteiro fingindo estar dormindo pra ouvir ele falando o quanto ama a sua namorada e fingir cegueira quando vi ele com a caixinha do anel de noivado, conheci quem seria minha mais nova madrasta, a essa altura noiva do meu pai. Mas muita coisa na minha cabeça mudou quando descobri que era um... madrasto. Ah... faz sentido. É por isso que ele nunca me apresentou a ele? É por isso que a caixa era especificamente de uma loja LGBT? Eu devia ter percebido antes.

- Oi, pequeno! - aquele estranho homem me cumprimentou. Eu já tinha meus 11 anos. Estava começando a me achar grandinho, e o encarava com estranheza. Queria de alguma forma o conhecer só de julgar sua aparência. É impossível, eu sei, mas eu ainda era a versão "futuro bad boy, por que sou pequeno demais pra dirigir uma moto, mas vocês vão ver!". - Eu sou o Matteo. Sou noivo do seu pai. Em breve seremos uma família, e você vai ter dois pais pra jogar futebol com você! Não é legal? - perguntou. Ele tinha um sorriso enorme. Sua pele não era escura, mas também não era clara. Seus cabelos não eram cacheados, mas não eram lisos. Ele se vestia muito bem, quase como meu pai, que era advogado. Era perceptível que ele era um pouco mais novo que meu pai, mas não mais que uns 6 ou 7 anos. E claramente, ele era brasileiro, já que seu português era impecável. Apesar de morarmos no Canadá, eu e meu pai tinhamos essa promessa de sempre falarmos em português quando estivéssemos em casa, e agora, Matteo queria ser incluso nessa promessa. Que indecente, não acha? Mal o conheço e já quer fazer parte da minha tradição! Olhei pro meu pai com desgosto, mas vi seu olhar entristecido. Suspirei e expulsei minha personalidade de bad boy mirim. Não adianta fazer birra.

Წ Go Pierre! (Crônicas do Pierre)Onde histórias criam vida. Descubra agora