✦ Capítulo 12

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12. Pesadelos

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Eu ia ao psicólogo. Isso é meio óbvio, não? A última conversa que tive com ele me deixou pensativo. Ele disse que eu tinha que refletir sobre o meu passado para pensar melhor no futuro, já que eu tinha a incessante certeza e ansiedade de que assim que eu me formasse e completasse 18 anos, eu morreria. E como ajuda para refletir sobre o passado, ele disse para eu pensar na minha mãe.

Comprei belas flores, vesti uma boa roupa e deixei o cabelo bem arrumado. A curiosidade da vez é que meu cabelo estava curto e pela primeira vez em 4 anos ele não cobria meu pescoço. Me sentei de frente para a lápide e coloquei o buquê de flores.

— Oi mamãe. — dei um sorriso. Era estranho falar espanhol depois de anos com pouca prática. — Faz tempo que não venho conversar com você, né? A última vez eu tinha uns 13 anos. Quero deixar bem claro que a adoção do Matteo não interfere em nada entre a gente, ok? Você ainda é minha mãe. Eu ainda te amo e ainda carrego o nome que você me deu com muito amor. — disse. Silêncio. Suspirei. — Sabia que eu fiz um piercing? Bom, alguns na verdade. Inclusive, fiz o piercing bridge. Papai disse que você tinha quando era nova. Também fiz no septo e já tinha alguns na orelha. Eu pensei em uma tatuagem, mas eu e papai concordamos que é cedo pra isso. Tô pensando em fazer um novo piercing na boca. Uma coisa meio... snake bites. Acho que você sabe, né? Papai disse uma vez que você morava com uma garota que fazia piercing e tatuagem. Ela era.. sua namorada... não é? — falei. Peguei o caderno da minha bolsa. — Li seu diário. Você falou sobre ela. Amélia. Tinha uma foto dela aqui. — abri e peguei a foto. — É uma bela ruiva. Meu namorado também é ruivo. E aliás, não te contei. Eu sou bi, igual você e papai. Meu namorado é o Scott. Inclusive, ele fez o piercing no septo junto comigo, na China, nas nossas férias no início do ano e no meu aniversário. Eu amo muito ele. — sorri sem perceber. Gostava de falar dele. — Desculpa por ter lido seu diário. Eu só estava... com vontade de te conhecer melhor. Tivemos tão pouco tempo juntos. — respirei fundo. Me senti meio mal. Minha voz estava embargada, mas eu me esforçava para não chorar. — Sinto sua falta. Queria poder ter ficado mais tempo com você, mamãe. Você era incrível. Era... rebelde. De cabelo colorido e piercings. Sem medo de ser você mesma e amar quem você ama. Como eu. — dei um pequeno sorriso. Dei um leve beijo na lápide. — Feliz aniversário, mamãe. Eu ainda te amo. — sorri e me levantei. Tentava não chorar enquanto me afastava dela.

Mamãe... li o diário dela. Escrevíamos coisas parecidas. Sobre o medo de crescer. O arrependimento de não aproveitar o suficiente enquanto era criança. Mas no final, tudo deu certo para ela. Mas mesmo tentando, sentia que nada estaria bem para mim.

Minha mente se atolava nos próprios pensamentos sobre minha tristeza e medo. Profundamente. Andava pelas ruas frias me encolhendo no casaco, agarrado a minha bolsa e torcendo para o gorro esconder meus cabelos verdes, que apenas a franja fugia às vezes.

Não é de hoje que venho sendo ameaçado. Odeiam minha família, odeiam meu namorado e me odeiam. Mas parece que as coisas tem piorado para mim. De tanto deixarem claro na minha frente o quão idiota e inapropriado eu sou, será que é verdade? Fui contaminado com a doença da bisexualidade como meus pais? No fundo, Matteo ainda é uma garota? Scott só é gay por que não queria me magoar?

Não. Não pense merda, Pierre! Você sabe muito bem que nada disso é verdade. Todos nós nascemos assim e não podemos mudar isso. Só se pode aceitar, pois assim nossa vida será bem menos dolorosa. Assim como o TDAH. Eu não posso me "curar" do TDAH e ele nasceu comigo. Devo aceitar que ele existe e é parte de mim. Quer dizer, eu aceito. Mas por que é tão difícil para as pessoas ao redor aceitarem? Não é como se isso tudo fosse culpa minha.

Წ Go Pierre! (Crônicas do Pierre)Onde histórias criam vida. Descubra agora