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7. Extra - Ser eu mesmo
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Entrei debaixo do chuveiro, sentindo meu corpo tremer e um medo e tristeza no peito. O que eu vou fazer agora? Se Daniel ou Pierre não quiserem o tal bebê… o que eu vou fazer? Nunca me senti tão apavorado. Eu já fiz mastectomia. Como esse bebê vai ser amamentado se eu não tenho peitos?Bernardo, meu sogro, uma vez me disse que só conseguimos achar a resposta do futuro quando analisamos o passado. Então, aproveitando a água fresca batendo em minha cabeça, respirei fundo, pensando bem no que fazer.
Desde criança eu percebia algo em mim. Sempre me olhava no espelho e pensava “por que esse garoto insiste em fingir ser uma garota?”, então ficava com medo do meu próprio pensamento, abaixava a cabeça e tentava fazer a atividade mais feminina possível. Queria me sentir uma garota. Mas eu não era, e eu sabia.
Pensando que iria me ajudar, acabei ingressando no ballet. Dançava, fazia piruetas, saltava. Era divertido, na medida do possível. Eu não tinha amigas e o professor me dava bastante atenção, até demais, sempre me pedindo pra ficar até depois da aula e me elogiar .
— Está indo muito bem nas aulas, Celine. — me elogiou. Aquele nome me dava arrepios.
— É, você já me falou. — falei, meio entendiado. Ele repetia praticamente a mesma coisa todo dia. — Tenho um bom professor. — tentei ser simpático e até sorri. Não queria que ele me achasse marrenta ou má educada, pois isso não era nada feminino.
— Você podia me dar um presente por te ajudar tanto nas aulas, não acha? — andou até ficar atrás de mim, e eu estranhei a situação.
— Tipo o quê?
Suas mãos tocaram meu corpo. Embaixo da minha saia. Na minha bunda. Fiquei chocado e sem reação por alguns segundos antes de agir. E sabe o que eu decidi fazer?
Correr. Um homem grande contra uma garotinha parda de 12 anos e filha de uma mulher latina. Acha que eu conseguia ganhar dele? Eu não conseguia. Por isso corri. Corri das aulas, pelas ruas, sentindo puro pânico e pavor. Entrei no carro da minha mãe com pressa e a olhei nos olhos.
— Eu não piso naquele lugar nunca mais.
— Por que, Celine? O que aconteceu? — minha mãe me olhou assustada.
— Não quero ter aulas com um assediador.
Sem mais perguntas, eu não voltei pra lá. Deixei meu casaco favorito, que era cheio de estrelas, pra trás.
Meu pai começou a ganhar bastante dinheiro com seu trabalho na fábrica de colchões. Bom, ele era o dono daquele grande e novo império do “Colchões Montclair”. Sim, eu tive um colchão ótimo durante toda a minha vida. Ele comprou patins pra mim, e resolvi fazer um esporte de gelo.
Hóquei. Adoraria. Mas não era nada da feminilidade que eu buscava com tanta força e fervor. Então escolhi patinação artística. Por anos e anos, os patins e as pistas de gelo foram meu lar e meu abrigo. Eu me sentia livre. Me sentia… eu mesmo.
Me tornei muito bom. Bom demais. O melhor da cidade, da província, do país. E logo que completei 18 anos, estava pronto para me tornar o melhor do mundo, pois eu havia sido convidado para representar o Canadá nas olimpíadas de inverno!
E durante as olimpíadas, conheci um cara muito interessante. Caio, o DJ. Ele que colocava as músicas durante as apresentações. Ele era engraçado e um grande flertador. Eu nunca tive namorado, mas sempre tive curiosidade em saber como era esse tipo de coisa. Você sabe. Beijar, andar de mãos dadas, dizer que ama. Esse tipo de coisa. Mas achava que nunca seria amado pois eu era homem demais para ser uma garota. Mas Caio fazia eu me sentir especial. Por isso, aceitei sair com ele, apesar de ser véspera da final. Ele disse que eu estava muito estressado e precisava me acalmar.
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Წ Go Pierre! (Crônicas do Pierre)
Humor|✪| 𝐆𝐨 𝐏𝐢𝐞𝐫𝐫𝐞! ᴄʀᴏɴɪᴄᴀs ᴅᴏ ᴘɪᴇʀʀᴇ |✪| Pierre era um garoto normal até assistir um documentário e resolver ser inesquecível. Agora, acompanhe a trajetória de Pierre, onde no caminho ele aprende sobre família, amor, sexualidade, inseguranças e...