Problema, Problema

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Socava o braço da poltrona confortável e macia que ficava ao lado da maca, no hospital. Lydia dormia nela, e um soro injetado em suas veias. Havia mais ou menos umas 10 horas que eu a trouxe aqui e desde então não pude fazer nada além de dormir e socar a maldita poltrona.

Lydia Martin. Problema, problema. Eu não sabia a responder, o que ela tanto se perguntava. Não tive motivos para a abandonar, esquecer, e por sinal, nunca esqueci. Ela passava por tanta coisa e eu também, mas nunca imaginei que seriam no mesmo nível que eu. Quando eu comecei a beber eu senti um gosto amargo e algo queimando ao descer pela a minha garganta. O que não foi nada agradável para mim aos 13 anos. Mas o que veio depois, foi incrível. A sensação de liberdade, de que nada poderia me atingir — ao não ser a futura ressaca.

Para Lydia, era o mesmo. Mas com as drogas, o efeito é mais embaixo. Me desperto dos meus pensamentos ao vê-la se remexer, acordando aos poucos. Levantei bruscamente e a observei tomar um susto comigo.

— Merda. — ela murmurou, como se estivesse decepcionada.

— Merda? Merda?!

Eu respirei fundo, me preparando para estourar a veia da minha testa de estresse. Essa garota só podia estar de brincadeira com a porra da minha cara.

— Pensei que tinha calculado a dose certa.

— Você... é inacreditável. Você planejou isso.

— E você estragou tudo. — ela disse, se ajeitando na cama.

— Você realmente tentou se matar? Qual é a porra do seu problema, Lydia?! — aumentei a voz, sem conseguir me controlar.

— Não tenho nada me segurando aqui.

Ela disse, como se fosse simples. Respirei fundo, meus olhos começaram a sair do controle, como se eu fosse deixar as lágrimas cair a qualquer momento. Agora todas as minhas forças se concentravam em não deixar que isso acontecesse.

— E eu?

Lydia olhou para cima, sem entender o que eu estava tentando dizer. Por Deus, nem eu estava.

— Eu não sou nada? — não consegui segurar, uma maldita lágrima saiu e eu a limpei o mais rápido possível. — Você sabe o que aconteceria comigo se você se fosse?

Ela continuou em silêncio, era se como realmente não entendesse. Meu coração pesou. Só de pensar, meu estômago já se embrulhava.

— Eu iria enlouquecer, Lydia. Não é justo.

Me sentei novamente na poltrona. Levei minhas mãos aos meus cabelos, como se massagear ele fosse acalmar a minha cabeça. Não funcionou. Encarei o chão por alguns segundos. Ela não disse nada. Até que disse.

— Achei que me odiasse. — disse, me encarando.

— Acredite, eu odeio. Odeio me preocupar com você, odeio estar nessa situação de merda.

Ela abaixou a cabeça. Talvez estivesse segurando lágrimas, eu não conseguia enxergar.

— Odeio que eu não pude te ajudar. Não poder te ajudar. Odeio ter me afastado de você. Odeio tudo sobre toda essa merda. Odeio que você esteja aqui, desse jeito.

Ela levantou a cabeça, surpresa com o restante que foi dito.

— Eu nunca quis me afastar. Só aconteceu. Tanta coisa aconteceu, e eu queria te contar. Me convenci que me afastar seria a melhor coisa que eu poderia fazer pra você.

Coloquei minha mão sob a dela, delicadamente. Aquele rosto, o que me encarava fortemente com os olhos esverdeados e as pupilas dilatadas. Era exatamente o que eu lembrava. Como ela me olhava, no meu jardim. Seus cabelos brilhavam no sol e as margaridas ao seu lado coçavam as suas bochechas. Foi a última vez que a vi.

PromiscuousOnde histórias criam vida. Descubra agora