Lisa
Ele me deu um fora.
Olhei para o homem inegavelmente bonito sentado diante de mim e quis fingir que estava tudo bem, mas não consegui disfarçar minha cara de indignação. Como assim, ele não me queria? Na minha cabeça eu repetia: “Ei, não fui eu que fiquei ligando mil vezes para sairmos...”
- Por favor, não faça essa cara Lisa. – Augusto pediu.
- Sabe, no começo eu nem queria conhecer com você. Seu primo Cristian ficou me falando que você era legal...
- Eu sou legal.
Droga, ele realmente era legal e talvez por isso eu estivesse chateada.
Respirei fundo, tentando colocar as ideias no lugar e lutando contra a ideia de puxar Augusto pelo colarinho e afogá-lo no copo de agua.
Fiz trinta e um anos na semana passada e fiquei abalada com as piadinhas que a minha nova assistente fez sobre eu ainda ser solteira. Não deveria me abalar com o veneno de uma pirralha esnobe que ainda por cima era minha subordinada, mas me peguei analisando que todas as minhas amigas da mesma idade já estavam casadas ou em vias de fato. Até mesmo minha irmã caçula estava casada.
Eu não estava nem namorando.
Então Augusto foi parar na minha equação. Apesar de não morarmos na mesma cidade, ele vinha com frequência tratar dos assuntos da família, uma vez que era sobrinho de Ofélia Serventes, a ex-esposa do dono do Grupo RCS onde eu trabalhava. Saímos juntos nas vezes em que ele esteve em São Paulo, nos beijamos e poderíamos ter feito bem mais que isso se eu não tivesse me feito de difícil. Eu não era mais uma donzela, mas achei que daquela vez seria mais esperto da minha parte ser cautelosa. Será que eu tinha errado?
Augusto seria um namorado perfeito...
- Não quero que fique chateada comigo. – Pegou na minha mão. – Eu adoro sua companhia, você é divertida, animada...
- Nossa, grande consolo...
- Ah vá, você nem é tão afim de mim, Lisa. Não é como se tivesse se apaixonada ou qualquer coisa do tipo.
- Mas nos damos razoavelmente bem. Você não tem ninguém e nem eu. Por que não podemos seguir juntos e ver no que dá?
Ele jogou o corpo para trás na cadeira, como se quisesse considerar minha proposta, mas não pudesse. Comecei a suspeitar de que algo o impedia.
- Augusto, seja sincero comigo. Estávamos bem até poucos dias e tudo caminhava nesse sentido e agora quando decidi pedir você em namoro... – Bufei. – O que mudou?
- Nada mudou, Lisa. – Ele desconversou, sem olhar nos meus olhos.
- Mudou sim. Vou fazer um escândalo se você não falar a verdade. – Ameacei.
- Arg! – Augusto inclinou o corpo para a frente, sabendo que não tinha como me vencer naquela disputa. – Certo. Ontem eu saí para beber com seu chefe.
- O Cristian ou o Victor?
- O Victor.
- Ah ...
Tudo começava a fazer sentido. Victor me odiava, mas não podia me mandar embora porque não fui contratada pelo presidente.
- E o que o meu chefinho tão querido falou a meu respeito?
- Não falou de você precisamente. Só me levou a refletir se valia a pena investir tanto tempo numa relação que com certeza não vai dar em nada...
- E você acha isso?
- Lisa, estou tentando te levar para a cama há algum tempo e nada... está óbvio para mim que você não me quer desse jeito. – Ele tentou ser razoável.
Eu no entanto estava tão furiosa com a intromissão do Victor na minha relação com o Augusto que não estava nem prestando atenção nos argumentos dele.
- Eu vou matar o Victor! Você só desistiu porque ele se intrometeu. Maldito!
- Lisa, eu teria terminado mesmo que...
- Nossa, amanhã ele que me aguarde!
Não consegui terminar o jantar porque minha cabeça estava a mil. Eu era assim, quando ficava irritada com alguma coisa não conseguia me desvencilhar daquele pensamento até botar tudo para fora. Infelizmente era noite e o alvo da minha fúria deveria estar feliz, rolando em seus lençóis de seda com alguma daquelas ninfas que ele gostava de desfilar por aí.
Fui para casa, me preparei para dormir e na verdade o máximo que consegui foi ficar deitada na cama a noite toda pensando no Victor.
Ele era tão cretino que até meu sono ele atrapalhava. Comecei a trabalhar no Grupo RCS como secretária executiva do meu amigo Cristian Servantes e ganhei uma promoção ao cargo de Coordenadora de Operações Internacionais, mas infelizmente o setor era subordinado ao Victor Herrera que sempre deixou bem claro que não gosta de mim.
Nunca entendi qual a origem daquela chatice dele comigo. Era uma implicância totalmente gratuita. Apesar de eu não ter nada de substancial contra ele, comecei a também detestá-lo conforme ele me destratava.
Eu até poderia baixar a bola no trabalho, mas na minha vida pessoal eu não ia admitir que ele se metesse. Era inadmissível!
Na manhã seguinte eu cheguei ainda mais cedo que de costume na empresa; algo que não poderiam reclamar de mim era da minha assiduidade. Vesti um conjunto social composto de saia e blazer e calcei meus sapatos mais altos. Se eu teria que encarar Victor Herrera, teria que ficar o mais próxima possível dos olhos dele, sei que ele tentaria me intimidar com seu tamanho, mas eu não tinha medo.
Os funcionários foram chegando e eu tentei fazer minhas atividades iniciais no setor, mas nenhum trabalho prendia minha atenção. Eram nove e meia da manhã quando entendi que não aguentava mais esperar.
- Puxa as minhas ligações e anota os recados. Estarei na sala do diretor. – Falei para Raissa, minha assistente.
- Certo. Manda meu bom dia para o diretor. – A garota disse.
Eu tentei não revirar os olhos, mas não consegui. Era nítido que minha assistente queria agarrar nosso chefe e considerando que ela era uma boneca de dezenove anos, tinha grandes chances de conseguir.
- Não vai levar seu caderno de anotações?
- Só se for para eu jogar na cabeça dele. – Disse, sem dar maiores explicações e deixando a jovem assistente surpresa com a minha resposta.
Cheguei no último andar e dei de cara com Maribel, a secretária de Victor. Éramos muito amigas. A secretária de cinquenta e cinco anos e belos cabelos loiros conseguiu arrancar um sorriso meu naquela manhã.
- Que bom ver você aqui tão cedo, Lisa! – Saiu detrás da mesa e me cumprimentou com beijinhos.
Haviam outras duas secretárias no saguão da presidência e eu as abracei também, mas minha atenção foi toda para Maribel.
- O ogro já chegou?
- Pare de chamar meu chefe assim. – Ela me repreendeu. – Sim. Ele chegou antes de mim e está na sala dele. Vou te anunciar...
- Não precisa, amiga!
E em dois passos eu alcancei a porta da sala dele e entrei de supetão.
Victor se virou para mim com aquele olhar cheio de repreensão.
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Incontrolável - Subjugada pelo desejo
RomantikVictor prometeu nunca mais se apaixonar... Lisa, uma profissional determinada e destemida, vê-se constantemente desafiada por seu arrogante chefe, Víctor, sem entender porque ele a trata tão mal. Seus embates no escritório são apenas o prelúdio de u...