Lisa
Ali, no silêncio da biblioteca da Mansão Toledo, nem parecia que do lado de fora estava ocorrendo uma grande confusão porque o velho Octávio Servantes foi agredido a “ovada” por um garoto desconhecido que usava roupas folgadas demais para seu tamanho.
Então, eu encarava Victor, esperando-o degustar com cuidado as palavras que eu havia lançado para ele.
— Você não está gravida...
— Pois é. Sei que não queria um filho comigo, então imagino que essa sua cara seja de alívio. — A toalha ameaçou se soltar e eu a prendi novamente no corpo. — Então é isso. Fim.
— Fim?
— Sim, fim da história.
Por que ele parecia dolorosamente decepcionado agora? Deixei para contar para ele depois da festa e imaginava que ele abriria um sorriso vitorioso no rosto, me diria que meus planos de o comprometer não tinham vingado e esse tipo de coisa que ele vinha repetindo ao meu respeito. Ele só ficou quieto e eu queria muito saber o que se passava naquela cabeça cheia de cabelos escuros.
— Acho que não estamos nos fazendo bem — eu disse, por fim. — Ando esgotada desde que começamos a trabalhar juntos na sua diretoria e sempre soube que um de nós iria arregar. No caso, eu vou arregar, pois sou a parte mais fraca, evidentemente.
Suspirei, então continuei:
— Então posso dizer que você venceu, eu estou procurando outro emprego. Queria esperar mais tempo por causa do apartamento, mas a situação está cada vez pior entre nós e logo afetará quem trabalha com a gente.
— Então, minha companhia é insuportável.
— A situação é insuportável, não você… Quer dizer, você é péssimo comigo, não pode negar. Sempre foi, desde o início. E agora que não existe bebê nenhum... — Senti meus olhos marejarem, mas consegui me manter forte. — Acho que foi meu limite.
— Eu fiquei feliz — ele disse, simplesmente.
— Feliz por que vou embora?
— Não, feliz achando que ia ser pai.
Aquilo me chocou a ponto de me fazer calar. Olhei para ele e tinha tanta sinceridade em seu rosto que chegou a me doer.
— Pensei que se estivesse grávida de verdade, eu poderia te forçar a ficar comigo. Eu nunca pensei em filhos e essas coisas, mas passei os últimos dias imaginando como seria.
— Eu também — confessei. Tomei distância, dando alguns passos para trás. — E por isso é tão insuportável ficar perto de você, Victor. Acha que consigo ficar trabalhando no mesmo lugar que sei que você está? Sempre que te olho, lembro das coisas fabulosas que vivemos juntos naquela viagem, mas você nem ao menos acredita em mim. Enfiou na cabeça essa ideia louca de que estava tramando com a Gigi e não me deu uma chance de resposta.
— É muito difícil para mim — contou. — Virginia me deixou com sequelas profundas e eu me tornei desconfiado e inseguro. Você é uma mulher determinada demais, inteligente e esperta, que poderia facilmente me destruir se quisesse.
— Mas não quero! Nunca quis.
— E a Virginia...
— Eu realmente não tenho nenhuma tramoia com ela. Fiquei muito surpresa também em descobrir que vocês foram envolvidos, mas a versão dela da história começou a fazer muito sentido quando você se mostrou cada vez mais intransigente.
Victor deu um sorriso triste e colocou as mãos na cintura, como se estivesse cansado. Eu também estava cansada daquela guerra entre nós e não tinha mais emocional para ficar se digladiando com ele.
— Então é isso. Eu não consegui um novo emprego ainda, mas já não será pego de surpresa quando eu aparecer com minha carta de demissão. Pode ser a qualquer momento, pois não estou sendo muito exigente no meu currículo.
— Não precisa ir embora.
— Eu preciso sim. — Comecei a andar pela biblioteca. — É difícil para mim te amar e não poder ter nem o seu respeito...
— Você disse que me ama? — Victor se mostrou impressionado, como se eu já não tivesse deixado óbvio.
Então parei de andar, acertando mais uma vez a toalha escorregadia ao redor do busto e me deixei dominar pelos sentimentos. O encarei com o rosto em chamas, um tanto irritada, determinada a deixar tudo em pratos limpos e assim, quem sabe, aliviar o peso do meu coração.
— Sim, seu imbecil arrogante e bruto! — berrei. — Amo você de um jeito que chega a doer. Não está obvio que paro de respirar quando você chega no mesmo lugar que estou? Acha que me divirto vendo você flertar com qualquer outra mulher? E pensa que achei engraçado descobrir que minha vizinha foi sua amante, que você já amou tanto assim uma mulher? Você gostou tanto da Gigi e não consegue nem ter um pingo de carinho por mim!
Pisei fundo, caminhando na direção dele de maneira ameaçadora.
— Só que eu mereço mais, ok?
Ele ia falar alguma coisa, mas eu não parava de disparar meus protestos na direção dele.
— Não é porque gosto de você que vou continuar aceitando o jeito desagradável que me trata! Eu não fiz nada de errado, mas fui burra demais em me apaixonar por um cara incapaz de me corresponder do jeito certo! Minha mãe me criou muito bem e não aceitarei que alguém estrague o bom trabalho que ela fez em mim!
— Lisa, não precisa...
— Preciso sim! Deixei você me ofender todos esses dias e está tudo entalado aqui! Seu grosso! Ogro de uma figa!
Eu estava nervosa demais e continuaria falando e xingando por horas infindáveis. Victor entendeu isso e me abraçou forte contra o peito dele. Eu ainda tentei me libertar, mas era inútil lutar contra um corpo tão maior que o meu.
— Quieta — ordenou, murmurando entre meus cabelos. — Se não parar de falar, como poderei dizer que também te amo?
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Incontrolável - Subjugada pelo desejo
RomanceVictor prometeu nunca mais se apaixonar... Lisa, uma profissional determinada e destemida, vê-se constantemente desafiada por seu arrogante chefe, Víctor, sem entender porque ele a trata tão mal. Seus embates no escritório são apenas o prelúdio de u...