Capítulo 37

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Lisa

Os nove dias seguintes passaram voando e a chegada da minha gatinha Brownie conseguiu tirar um pouco do peso que pairava sob os meus ombros.

O felino era preguiçoso demais para bagunçar minhas coisas e quando eu chegava em casa, só queria colo, comida e mais mimos. Acho que ela era bem mais velha do que disseram, mas que mulher nunca mentiu a própria idade?

E, no trabalho, eu havia conseguido evitar Victor com sucesso. Depois que nos topamos no elevador, nos vimos apenas mais duas vezes em reuniões convocadas pela presidência.

Eu precisava encontrar outro emprego, porque sabia que aquela situação não poderia perdurar por mais tempo. Eu era uma coordenadora que não conversava com meu diretor e isso era administrativamente errado.

As coisas saíram um pouco dos eixos naquele dia em que Victor exigiu minha presença na sala dele, justamente no momento em que eu não me sentia bem e estava com uma cara péssima.

— Você levou todos os dias os documentos para ele, por que eu preciso ir? — reclamei com Raíssa. — Será que ele não sabe o que é e-mail?

— Ele informou que tem um erro e quer que você esclareça.

— Argh!

Peguei meu bloco de anotações e subi para o andar da presidência. Maribel não estava em sua mesa, mas Vera me indicou que entrasse.

Entrei e me deparei com Victor sentado em sua mesa. Ele lançou um daqueles olhares perigosos para mim, que arrepiam minha espinha.

Ah, e o infeliz conseguia ficar ainda mais bonito naquela camisa roxa. E saber que eu conhecia exatamente como ele era debaixo daquelas roupas, me fez ficar rubra.

— Sente-se, dona Elisabete.

Apontou-me a cadeira e começou a folhear uma pasta que Raíssa havia entregue a ele. Me sentei sem cerimônia, pois estava levemente nauseada naquela manhã.

— Em que posso ser útil? 

— Me dê um minuto — pediu, com a voz calma. — Estou procurando o gráfico onde vi uma distorção.

Ele não parecia tão irritado como nas outras vezes, porém me sentia meio doente para aproveitar a oportunidade de conversar com ele. De repente, meu estômago revirou e eu me senti muito nauseada. Me levantei de supetão, colocando a mão no ventre.

— Desculpe, mas estou passando mal!

Me levantei e corri porta afora em direção ao banheiro mais próximo. Então me debrucei no vaso sanitário e vomitei. E lá se foi todo o café da manhã.

— Oi, Lisa. — Vera entrou no banheiro. — O Sr. Herrera me pediu para ver se está bem.

— Estou ótima.

Então comecei a vomitar novamente.

Saí uns quinze minutos depois. Passei um tempo me limpando na pia e graças a Deus tinha enxágue bucal no banheiro da presidência.

Fiquei surpresa ao sair e me deparar com Victor na porta do banheiro.

— Você está grávida, Lisa?

— Oi? Não! — Comecei a negar, nervosa.

— Naquele dia eu não usei preservativo. Você estava usando algum contraceptivo?

— Não, mas as pessoas não engravidam tão fácil assim — murmurei, um pouco perturbada com a proximidade dele.

— A noiva do Cristian engravidou na primeira — ele disse. — E naquela noite, nós fizemos várias vezes.

— Meu Deus, alguém vai ouvir você!

— Se estiver grávida, esse é o menor dos problemas.

— Vi minha mãe nesse final de semana e ela está com virose, provavelmente peguei dela.

— Ou talvez esteja grávida! — insistiu, num sussurro nervoso.

— Não é assim que funciona, demora mais tempo para aparecerem sintomas. Olha, vou voltar para o meu setor — sussurrei de volta, desviando dele e indo embora.

Quando cheguei no meu andar, fui acometida por uma nova náusea e corri para o banheiro. Me senti aliviada ao perceber que não tinha mais nada para sair.

Coloquei a mão sobre a testa e não tinha febre. Menos mal.

Raíssa, que estava ajudando a treinar um novo funcionário do setor, percebeu que eu não estava bem.

— Vai para casa, Lisa. Eu seguro as pontas por aqui.

— Tem certeza?

— Absoluta.

Me sentia muito fraca para negar. Estava caminhando em direção ao estacionamento quando o Victor me alcançou.

— Está muito pálida.

— Vou para casa me deitar, tomar um chá e remédios.

— Que chá? Sabe que alguns são abortivos? E não pode tomar qualquer remédio — fitou-me, preocupado.

— Não estou grávida.

— Não está ou não sabe?

Eu realmente não sabia, mas duvidava que fosse o caso. Victor estava visivelmente abalado por essa probabilidade e não fazia esforço nenhum em esconder.

— Olha, caso, hipoteticamente, eu estiver grávida, não vou exigir nada de você, Victor, pode ficar despreocupado...

Minhas palavras, ditas com a intenção de acalmar, obtiveram o efeito oposto. O gigante a minha frente parecer ficar com os olhos em brasa e chegou a se curvar para me encarar.

— Acha mesmo que se estiver grávida de um filho meu, eu o deixaria com você?

— Victor...

— Sabe muito bem que eu acabaria te propondo casamento! — Ele pareceu um pouco fora de si. — Mas, no final das contas, não era isso que você planejava?

Nesse momento, perdi a paciência.

— Meu Deus, como você chegou nessa ideia maluca tão rápido?

— Posso até casar com você por causa da criança. Lisa, mas será sob meus termos!

— Estamos brigando por conta de uma gravidez hipotética? — Bufei. — Saiba que se eu estiver grávida, não sou obrigada a casar e nem nada assim. São outros tempos.

— Não vou deixar que a criança cresça sob sua má influência! Qualquer juiz com um pingo de bom senso daria a guarda para mim.

— Isso é ridículo! Eu jamais renunciaria a um filho meu, principalmente porque sabe que sou adotada.

Silêncio.

Victor pareceu buscar forças para se acalmar. Então voltou a falar, mas dessa vez com um tom mais contido.

— Eu também não abandonaria um filho meu, Lisa, mesmo diante da pior das circunstâncias. Se estiver grávida, eu vou cuidar de vocês.

E nesse instante, desejei muito estar grávida só para ter Victor cuidando de mim.

Incontrolável - Subjugada pelo desejo Onde histórias criam vida. Descubra agora