Capítulo 05

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Lisa

A maioria das minhas amigas estava casada e com filhos pequenos ou quase se casando, por isso, mesmo apenas para uma noite das garotas, a companhia delas se tornava cada vez mais difícil. Minha irmã adotiva, Theodora, sempre foi minha melhor amiga, mas desde que se casou com o irmão de Cristian, Robert Servantes, nos víamos cada vez menos. E eu sabia que ela tinha planos de engravidar em breve.
Até mesmo nosso amigo Kaique estava num relacionamento sério com alguém, logo ele que nunca se prendia a nada.
Por sorte, encontrei em Maribel uma amiga agradável e bem disposta. Apesar da nossa diferença de idade, ela era jovial, meiga, gostava de filmes e, melhor ainda, podíamos fofocar sobre as pessoas do trabalho. Além disso, recentemente uma mulher conhecida como Gigi, havia se mudado para o apartamento ao lado e logo se tornou uma companhia interessante. Ela devia ser um pouco mais velha que Maribel, porém era uma mulher muito bonita e animada.
Nos reunimos então para assistirmos a um romance, comendo pipoca e suco e, quando o filme terminou, estávamos discutindo nossas diferentes visões sobre a história. Ficamos assim até que Maribel se levantou para ir embora.
— Eu preciso ir, amanhã ainda é dia de trabalho.
— Nem me fale — resmunguei. — Você viu aquele comunicado que o seu diretor mandou?
— Nosso diretor — ela corrigiu.
Revirei os olhos.
— Foi para mim, com certeza.
— Lisa, você não é a única mulher da empresa a usar saia, então não fique neurótica — Maribel amenizou.
— Alguém me explica essa história porque fiquei curiosa — falou Gigi.
Maribel contou os fatos na versão dela e eu completei mostrando que era uma retaliação a mim. Gigi riu, achando tudo muito divertido.
Minha nova amiga não trabalhava, aliás, eu ainda não tinha entendido de onde vinha a renda dela, mas parecia uma mulher acostumada com coisas boas e aquele prédio com certeza não combinava com ela.
— Bem, agora eu vou. E lembre-se, Lisa, nada de saia curta amanhã — Maribel brincou.
Eu a vi sair e fui até a janela do meu apartamento espiar minha amiga entrar no carro estacionado do outro lado da rua. Gigi permaneceu mais um pouco comigo no apartamento.
— Vou lavar as louças.
— Não precisa, eu comprei uma lava-louças — falei, orgulhosa dessa conquista.
— Seu apartamento está ficando cada vez mais chique — ela comentou. — Mas me conta, vai obedecer à ordem do seu chefe amanhã?
— Eu gostaria de fazer justamente o contrário só para ver ele ficar furioso, mas então ele vai ter mais chumbo contra mim — ponderei. — Ainda assim, queria fazer alguma coisa...
— Não vá de saia, mas use algo bem revelador.
— Como o quê?
— Espere aí.
Então Gigi foi correndo ao seu próprio apartamento e voltou trazendo uma calça jeans na mão.
— Essa calça é maravilhosa. Molda o corpo com perfeição e deixa tudo ainda muito melhor.
— Essa marca é famosa — eu notei, olhando a etiqueta. — Vou experimentar. Se eu gostar, você me empresta?
— Eu vou dá-la para você. Já não gosto mais desse tipo de roupa e iria doar de qualquer forma.
Eu agradeci, provei a peça e descobri que me coube. Era incrível o que uma calça jeans podia fazer para o visual de uma mulher.
Acho que meus quadris nunca pareceram tão redondos antes daquela calça que me apertava em todos os cantos, modelando nas partes certas do corpo. As pernas não estavam à mostra, mas era possível perceber como eram bem desenhadas. Eu adorei o efeito que aquela calça jeans conseguiu.
Então, no dia seguinte, eu usei a peça e caprichei no visual como um todo. Não que eu quisesse que Victor me achasse bonita ou qualquer coisa do tipo, só queria mostrar que eu continuaria incomodando-o com minhas roupas, pois sempre que Victor criasse alguma proibição eu daria um jeito de burlar o objetivo dele, exaustivamente.
Sim, essa era a ideia...
E foi logo na chegada ao trabalho que nos cruzamos. Era difícil pegarmos o mesmo elevador, ainda naquele horário. Eu já estava lá dentro com outros dois rapazes quando ele entrou e lançou um olhar reprovador sobre mim. Eu conversava animadamente com os outros colegas que eram bastante simpáticos comigo. Eles desceram no terceiro andar e então ficamos sozinhos.
— Você é impossível, Lisa — ele disparou.
— Não sei do que está falando.
— Você gosta de chamar a atenção, eu já percebi isso — disse, e então apontou para minha roupa. — Essa roupa é totalmente inadequada.
— Não é uma saia curta.
— É pior — ele murmurou, e então começou a reparar em mim muito intensamente.
De repente me senti pelada. Era como se eu não estivesse coberta, porque seus olhos me percorriam como se fosse possível enxergar cada milímetro da minha pele. Minha primeira reação seria me encolher, mas fiz o contrário, endireitei ainda mais a postura, empinei o nariz e joguei os cabelos cacheados para o lado. Percebi que seu olhar acompanhou meu movimento, analisando meus cabelos também.
Então o elevador chegou no sétimo andar, e quando eu estava prestes a sair, ele apertou o botão para segurar as portas fechadas. Victor deu um passo na minha direção, tentando me intimidar. Dei outro, na direção dele, com a cabeça bem empinada, mostrando que não tinha medo.
— Você gosta de provocar, Lisa. Uma hora vai se dar mal.
— Vou me dar mal como? Você fará o que, Victor? Duvido que consiga me abalar.
— Será mesmo? E se eu beijasse você aqui e agora?
Então ele se inclinou na minha direção. Eu não me movi, pois era justamente o que ele queria, que eu ficasse amedrontada e, apesar do meu coração começar a bater descompassado a ponto de parecer que teria um infarto, me mantive imóvel com uma pedra, sentindo o seu perfume perto de mim e imaginando se ele realmente me beijaria.
Victor me olhou no fundo dos olhos e eu não pude evitar o desejo de que ele realmente me agarrasse ali, naquele elevador.
— Eu não sei quem você está tentando impressionar com essa roupa, Lisa, mas está ridícula — disse, de forma categórica.
As portas do elevador se abriram, e eu me desvencilhei do seu olhar intimidador, escapando para fora o mais rápido possível.
Meu rosto estava em brasa e eu me sentia realmente envergonhada com as palavras dele. Odiava como Victor conseguia me fazer sentir tão boba e diminuta. Eu lutava todos os dias pelo respeito dele e só conseguia o efeito contrário.
Um dia eu ainda daria um belo soco naquele sorriso sarcástico do Victor. Ele iria sangrar, eu iria rir e depois ele me mandaria embora… E provavelmente eu não conseguiria pagar o apartamento.
Argh! Nem sonhar eu podia!
O resto do dia passou rapidamente e eu mal saí da minha mesa. Todas as vezes que precisava falar com Victor, mandava Raissa no meu lugar e a garota ficava muito contente com aquela tarefa. Eu queria evitá-lo, pois todas as vezes que a gente se falava, era um exercício cansativo e estressante.
— Lisa, você veio de carro? — Maribel veio no meu setor, trazendo uma pasta na mão. — Eu vim de táxi hoje, mas agora preciso levar esse documento...
— Já é fim de expediente. O Victor vai te fazer trabalhar até tarde?
— O Victor não, mas o Sr. Cristian me pediu para levar essa pasta até a casa do Romeu Herrera. Ele tem que assinar esses papéis. Depois vou bater foto no celular e mandar para ele. É importante que ele receba esse documento ainda hoje.
— E você não gostou nada de ir ver o Sr. Herrera — eu disse, rindo. — Não precisa ficar vermelha, eu sei que gostou dele.
— Eu não tenho a menor chance. — Suspirou. — Esses homens ricos com certeza ficam com garotas muito mais jovens, como você.
— Ah, não se deprecie. Você é muito bonita, Maribel, e eu acho que ele estava cantando você.
— Ou você.
— Não mesmo. — Suspirei também. — Eu posso te levar, mas não quero cruzar com o Victor. Com certeza, quando me vir, vai pensar nas piores coisas.
— Fique tranquila, ele vai ficar aqui até mais tarde. Pelo menos, foi o que ele disse hoje pela manhã.
— Certeza? Se é assim, eu vou.
— Obrigada, Lisa! Aliás, você ficou incrível com essa calça.
O elogio sincero da minha amiga me tirou um peso das costas. Eu temi estar vulgar demais naquela roupa, mas ela com certeza me diria se eu estivesse.
— Ouvi vocês dizendo que vão na casa do diretor, levar uns papéis para o pai dele — Raissa falou, se intrometendo. — Posso ir junto? Eu sempre quis ver o tipo de casa que ele tem.
Maribel concordou e eu não tive a oportunidade de criar uma desculpa qualquer para despachar minha assistente.
Então, em quinze minutos, nós três entramos no meu Fiat Uno e seguimos as instruções do GPS até chegarmos num condomínio de casas de alto padrão. Fomos autorizadas a entrar depois de mostrarmos nossos documentos e então seguimos pelas ruas bonitas e arborizadas. Quando estacionei em frente ao número indicado, nos deparamos com uma construção muito luxuosa e moderna, do tipo que era vista nas revistas de decoração.
Fomos recebidas por um homem que devia ser algo como “mordomo” da casa, porque usava um uniforme muito elegante para um reles empregado. Então, adentramos à sala de estar e encontramos Romeu Herrera sentado no sofá, usando um terno bege de alta costura.
— Que bela visão — ele disse sorrindo, assim que entramos. — Sejam bem-vindas, senhoritas.
— Vim trazer os documentos, Sr. Herrera — Maribel balbuciou. — As garotas me deram carona e por isso que...
— Não é incomodo algum, pelo contrário. — Ele se levantou. — Estou feliz que estejam aqui. Espero que fiquem para o jantar, porque eu não gosto de comer sozinho.
Olhei para Maribel e Raissa, percebendo que elas estavam animadas demais para recusar o convite.
— Certo, nós vamos aceitar.
E que Deus me ajudasse a não cruzar com Victor. 

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