Capítulo 26

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Lisa

Achava que já o tinha visto furioso, mas descobri naquele dia que eu não experimentara nem um terço de suas intenções diabólicas.

Quando Victor abriu meu roupão bruscamente, um medo me dominou. Nunca o tamanho dele conseguiu me intimidar daquela forma, como acontecia no momento. Ele sempre foi delicado e carinhoso comigo nos momentos de intimidade e agora agia de maneira assustadora.

Me senti tão pequena e vulnerável.

— Você, Lisa, é uma diaba manipuladora e ardilosa. Qual seria o próximo passo? Engravidar de mim? Não, você é mais esperta que isso. — Me puxou de encontro a ele. — Como foi que sua amiga falou? Victor está no papo. Você continuaria me seduzindo, até eu me dobrar de amores e casar com você?

— Você precisa de tempo para voltar a pensar direito — falei, recuperando a coragem. Tentei encará-lo com altivez, como sempre fazia quando era preciso enfrentá-lo, mas aquele não era o homem de sempre.

Era um ser possuído pelo rancor e não me ouvia.

— Vou começar a puni-la, Lisa — disse, de maneira estranha. — Vagabundas como você não devem sair ilesas.

A ofensa me atingiu e eu senti minhas pernas enfraquecerem. Victor me jogou na cama e veio para cima de mim.
Entendi que tipo de punição ele queria aplicar. Eu poderia apenas ficar quieta, mas meu espírito rebelde me fez chutá-lo bem no estômago.

Ele pareceu não se abalar e sorriu, ainda mais incentivado.

— Me solta, Victor!

E ele sufocou meus protestos com sua boca. Os lábios dele não tinham pena dos meus, sua mão era exigente e começou a apertar meu seio com força desnecessária.

Meu Deus, aquele não era o Victor. Ele não era assim.

Não podia ser assim.

Não podia…

Então, fui tomada pelas lágrimas. Um choro compulsivo subiu-me pela garganta e eu comecei a tremer.

E Victor me soltou.

Caiu em si e parecia assustado com a própria reação. Eu o vi pegar sua carteira sobre o criado mudo e colocar no bolso da calça com as mãos tremendo.
Por um instante, pareceu sem saber o que fazer.

Saiu.

E eu afundei o rosto no travesseiro e fiquei chorando por um período que me pareceu a eternidade. Não sei quanto tempo depois, voltei a reagir. Levantei e lavei o rosto, colocando uma roupa.
Peguei o celular e mandei uma mensagem para a Gigi.

Você conhece o meu chefe? Por que não me falou?

Gigi visualizou, mas não respondeu.

Eu saí do quarto e não me importei que os funcionários do casarão vissem meu rosto inchado de tanto chorar. Uma mocinha que eu tinha visto trabalhar na cozinha, passou por mim e eu a interpelei.

— Has visto a Víctor?

— El señor Herrera se fue — a garota respondeu.

Victor foi embora? Como assim?

— Regresó a Brasil — continuou falando, quando percebeu que eu estava confusa.

Arregalei os olhos. Victor simplesmente me largou ali. Estava tão enojado de mim que não conseguia dividir a mesma casa que eu?

Dorotéia apareceu e me chamou para jantar. Ela parecia frustrada e quando cheguei à sala de jantar, entendi o porquê. Ela devia ter se esforçando para compor aquela linda decoração por todo o cômodo.

Havia um lindo arranjo de flores silvestres sobre a mesa e algumas velas. No aparador atrás da mesa de jantar, as fotos de família foram substituídas por mais flores e mais velas. Uma pequena caixinha de som estava perto delas, o que me fez imaginar que Dorotéia era romântica e imaginou que poderia colocar alguma música agradável para nós.

Tudo ali parecia ter sido preparado para um momento especial a dois. E teria sido maravilhoso. Se aquele jantar tivesse acontecido do jeito que deveria, eu seria a mulher mais feliz do mundo.

Me sentei na mesa, sozinha, enquanto Dorotéia me servia o galeto ao sugo de laranja e um taça do melhor vinho da vinícola.

A raiva não me tirava a fome, pelo contrário, eu mastigava tudo com forca dobrada, sabendo que precisava estar forte e sadia para tudo que viria depois. Poderia ter passado a noite me embriagando com aquele vinho, mas sabia que não era a solução.

Precisava entender o que havia acontecido. Meu coração estava só os cacos, mas eu ainda podia ser racional. Então passei o resto da noite sentada na sala de jantar, as velas acessas, as flores cheirosas e a solidão era a minha amiga.

Naquela noite, eu não dormi. Passei o tempo todo deitada na cama, olhando para o teto e tentando assimilar todo o ocorrido.

— Gigi já foi amante dele? — falei em voz alta para mim mesma. — Ela é muito mais velha e conhecendo o tipo de mulher com quem ele sai… Não faz sentido nenhum.

Com certeza Gigi fora muito bonita. Ainda era uma coroa muito charmosa e sabia se vestir de maneira jovial. Em nenhum momento ela me pareceu uma pessoa ruim, muito pelo contrário, era uma vizinha agradável. Mas o que teria acontecido entre eles para a simples associação do meu nome ao dela ter abalado tanto Victor para que ele fosse tão asqueroso comigo?

Se ele não iria me contar, teria que descobrir por mim mesma!

Incontrolável - Subjugada pelo desejo Onde histórias criam vida. Descubra agora