Capítulo 30

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Victor

E um mês se passou.

Foram dias sofríveis, mas sobrevivi a eles.

Tanto Cristian como Robert vieram conversar comigo sobre a Lisa, mas fui muito firme no sentido de que não permitiria que se metessem nesse assunto.

E ela estava cumprindo sua parte direitinho. Naquele mês, nos cruzamos apenas quatro vezes na empresa e em todos os momentos, Lisa fingiu que não me via. Percebi que estava mais magra, menos sorridente e, no entanto, não perdia aquele olhar de ousadia.

Às vezes, no meio da noite, eu era assombrado pelo rosto assustado de Lisa quando eu a empurrei para a cama e ameacei puni-la. Estive totalmente fora de mim e sabia que, independente de qualquer coisa, eu tinha errado feio. Aquela mulher havia deixado meus nervos em frangalhos.

Raíssa aparecia frequentemente na minha sala com os relatórios do setor e quase tudo que deveria ser tratado com Lisa acontecia pelo intermédio dela.

— Acho que isso é tudo por hoje — Raíssa falou, ajeitando uma pasta azul de poliestireno no braço. — A Lisa disse para deixar esse contrato para você ler e depois eu busco.

— Obrigada, Raíssa.

— Estou às ordens.

— Sente aí. Faz tempo que não conversamos.

Apontei a cadeira para Raíssa e ela aceitou.

A garota era muito bonita e animada, inteligente e vinha de berço de ouro. Com certeza, queria um namorado rico e me agradava que fosse sincera a esse ponto, diferente de Lisa, que tentou manipular meus sentimentos com mentiras.

— Como vai a faculdade?

— Vai bem — ela falou. — A cada aula percebo que o curso de design é realmente o que quero fazer.

— Espero que possamos aproveitar seu talento.

— Com certeza. — Sorriu, animada. — Lisa sugeriu ao presidente que eu pudesse participar das melhorias que serão feitas no site do hipermercado. Fiquei muito contente. Na verdade, fiquei surpresa que a Lisa tenha me indicado.

— Não se engane achando que é bondade dela. Com certeza ela percebeu que você é esperta e pode roubar-lhe o cargo.

— Eu acho que não. Talvez a Lisa nem queira tanto ficar aqui… — Raíssa falou e logo pareceu se arrepender.

— Ela quer sair? — perguntei, surpreso.

— Olha, isso não é da minha conta — ela desconversou. — É melhor eu ir.

— Raíssa, espera — pedi. — Uma vez você me falou para te chamar para sair.

— Diretor…

— Me chame de Victor. — Sorri. — Se estiver livre hoje…

Ela sorriu.

— Está me chamando para sair, então?

— Sim. Se estiver livre hoje.

— Eu vou a uma peça de teatro hoje. Meu irmão Rui é ator e prometi ir, se quiser me acompanhar…

— Eu gostaria muito.

— Nos encontramos lá então. Será às 19h. Me passa o seu celular e eu envio o endereço.

Combinamos tudo e Raíssa saiu, contente. Seria bom sair com uma garota decente, bonita e talvez…

— Quem eu estou tentando enganar? — Dei um murro na mesa.

Estou, obviamente, planejando usar Raíssa para tirar a Lisa da minha mente. Achei que seria mais fácil, porém não houve um único dia em que não pensei nela.

Maldita!

Fui para casa e fiquei surpreso ao descobrir que meu pai também iria ao teatro.

— A Raíssa convidou a Maribel e a mim — informou ele. — Parece que é a estreia e não venderam muitos ingressos. Fico contente que você também vá, anda muito carrancudo nos últimos dias e precisa se descontrair.

Bufei.

— Eu não estava esperando uma noite em grupo.

— Raíssa não é como as outras moças, vem de boa família e você não pode tratá-la como qualquer uma.

— Você gosta dela, não é?
— Quero que tenha uma namorada decente. O que aconteceu entre você e a Lisa mexeu muito com você, posso perceber.

— Não vou negar. Mas estou superando. — menti. — Você anda sempre se encontrando com a minha secretária?

— A Maribel?

— Tenho outra secretaria?

— Malcriado! — reclamou. — Não. Eu falei com ela sobre a Lisa e a Virgínia, e acabou formando um clima ruim. É por isso que aceitei o convite da Raissa. É uma oportunidade de conversar novamente com Maribel.

— Você gosta dela, pai?

— Somos amigos e gosto de conversar com ela…

— Bem, eu dou minha benção.

— Quanta bobagem. Sua mãe é a única mulher que ocupa meu coração.

Eu poderia ficar falando para ele que quase vinte anos haviam se passado e que tinha todo direito de amar novamente, mas com certeza ele mesmo sabia disso. Eu mesmo não gostava de ser pressionando sobre essas coisas, por isso encerrei o assunto.

Fui tomar um banho e depois me arrumei. Meu pai já tinha saído, mas era melhor assim. Não queria ir no mesmo carro que ele, pois se tudo desse certo, eu levaria Raíssa para outro lugar.

Cheguei no teatro com apenas quinze minutos de antecedência. Raíssa me avistou e veio na minha direção. Estava bonita como sempre e sorria bastante.

— Achei que ia me dar o bolo. Todo mundo veio de casal.

— Todo mundo?

Então olhei mais adiante e avistei a diaba.

Os cabelos presos no alto da cabeça por uma presilha estilosa, o vestido comportado, mas que deixavam a mostra as pernas bonitas. Parecia uma boa moça… E, ao mesmo tempo, era sensual. Lisa ria ao lado do Augusto.

Do Augusto!

— Por que ela está aqui? — perguntei, entre dentes.

— A Lisa? Eu tinha convites sobrando e o Augusto queria levá-la para algum lugar, então fiquei feliz em ajudar — respondeu, alheia a raiva que brotava no meu peito.

— Eu não teria vindo, se soubesse…

— Não seja chato, a Lisa não é tão ruim assim. — Riu. Depois fez uma moldura juntando os dedos e focou nos dois. — Aliás, Lisa e Augusto ficam bonitos juntos, não acha?

— Nem um pouco.

E percebi que mesmo depois de um mês aquela mulher de nome Elisabete ainda me afetava.

Incontrolável - Subjugada pelo desejo Onde histórias criam vida. Descubra agora