𝟎𝟗 - 𝐐𝐮𝐚𝐭𝐫𝐨 𝐚𝐧𝐨𝐬 𝐝𝐞𝐩𝐨𝐢𝐬

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Milão, 2024

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Milão, 2024

Acordo com dificuldade, a luz branca sobre mim queima minha retina quando tento abrir meus olhos. Com calma, viro meu rosto para o lado e observo onde estou. Um suspiro desgastado exala do meu peito.

Com decepção, observo as paredes brancas e a cama terrivelmente arrumada onde estou deitada. Ainda estou no hospital, droga. Sinto meu corpo formigar, e é sinal de que não é mais uma alucinação. Realmente estou viva. E aqui. Praguejo.

Me sento no colchão enquanto encaro meus próprios pés, estou tão pálida e fria que minhas unhas estão em uma coloração roxa. Pareço uma morta viva. A idiota da enfermeira dá dois toques na porta, ela sabe que eu acordei então por que ainda bate?

— Bom dia, sra. Felicio! — sorri ao entrar com a bandeja do café da manhã acompanhada de inúmeros remédios de sobremesa.

— Eu já disse que não gosto de ser chamada assim.

— Ah, peço desculpas... Hariel. — corrige.

— Se puder não me chamar, melhor ainda. — contorço o nariz enquanto mordo uma maçã e volto a me deitar.

— Precisa sair um pouco do quarto e se exercitar, podemos passear pelo jardim após tomar seu café. — sugere enquanto me entrega quatro comprimidos de uma vez.

— Eu estou numa clínica de reabilitação ou numa prisão? — ironizo. — tenho hora do sol, é?

— Vitamina D e bons exercícios adiantarão sua recuperação, fazendo com que receba alta mais rápido. — explica a mesma coisa pela trigésima vez da semana.

— Não obrigada, sou do time de detentos que preferem a cela. — debocho dando mais mordidas na fruta.

— Sua tia ligará hoje para saber como está, devo dizer a ela que você se recusa a melhorar? — pergunta na tentativa de me afetar.

— Diga a ela para se foder.

A enfermeira se cala, recolhe a bandeja e frascos de remédios vazios e se retira em silêncio. Obrigado, agradeço e seja lá qual deus eu deva agradecer.

No início eles até pediam para eu abrir a boca e mostrar que eu havia engolido o remédio, normas dos enfermeiros, mas de tanto eu estorvar com a cara deles, eles acabaram só aceitando minha rebeldia. Sempre digo que tomo corretamente mas estão todos pregados debaixo da cama, não posso exercer a profissão deles por eles, não é?

Minha tia liga uma vez por semana para saber como estou, é mentira, liga para mandar que os médicos continuem me drogando para que eu fique presa aqui por mais tempo. Já é a sexta ligação dela, o que significa que estou presa a mais de um mês.

Se ela sabe que sou uma drogada devia ter imaginado que eu ia perceber que a cada semana eles aumentam as doses ou migram para remédios mais fortes, o que é estranho já que eu não apresentei nenhuma piora.

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