Marília sempre soube que era forte, havia passado por muitas coisas e nunca deixou nada a abalar. Quando se tratava de bebida, também era muito forte, isso nem precisava falar. Mas ela jamais imaginou que depois de dois calmantes, seu corpo ainda estaria tão agitado como se tivesse tomado um litro de energético.
Sua mente estava a um turbilhão, o nervosismo atacava sem dar trégua e seus lábios eram castigados pelos próprios dentes, tentando aliviar toda aquela tensão... Não adiantou. Suas famílias já haviam passado da portaria e estavam a menos de um minuto dali. Se ela não precisasse, desesperadamente, provar que tudo estava bem, ela já teria desmaiado ali mesmo no chão da sua nova casa.
O toque da campainha a assustou, mesmo esperando, estava nervosa demais pra não se assustar com aquilo.
— Marília, fica calma. — Maraisa colocou a mão sobre o ombro da melhor amiga, tentando passar conforto e confiança. Marília assentiu e respirou fundo, caminhando junto com Henrique para abrir a porta e dar início a temporada de mentiras que esperava os dois.
— Oi! — sentiu que toda atuação que tinha treinado havia acabado ali naquele "oi". Se sentiu travada, não sabia qual seria a próxima coisa a dizer ou fazer.
— Saudade que eu tava de vocês! — Henrique tomou a dianteira e se aproximou da mãe deixando um beijo em sua testa, abraçando ela e seu pai ao mesmo tempo. — Sogrinha! — já sentia uma certa liberdade em chamar dona Ruth assim, se preocupava em estar indo rápido demais, mas o sorriso que a mais velha deu e o abraço apartado e reconfortante o fez se sentir livre de uma vez dessa preocupação.
— Tudo bem, tia? — Marília perguntou sendo abraçada por Dona Maria. A frase não foi só como uma simples saudação, ia muito além. Ela queria saber como a mulher se sentia em relação a tudo o que estava acontecendo entre ela e seu filho. Ela queria saber se agora não seria odiada por ser sua nora ou por não ter dito nada antes.
— Tá sim, minha filha. — o sorriso que deu pra Marília foi verdadeiro e mais verdadeiro ainda dói o que Marília também não conseguiu evitar ao ouvir aquilo. Respirou aliviada e foi cumprimentar o sogro.
— Era pra você ter dado cobertura pra gente, bocó. — Henrique falou disfarçadamente no ouvido do irmão, enquanto o abraçava.
— Cê sabe como dona Maria é quando coloca alguma coisa na cabeça.
— Como cê tá cunhada? — ele abraçou Mohana e se afastou pouco pra poder olhar em seus olhos.
— Louca pra ver os capítulos dessa novela.
— Já vi que tenho um Juliano 2.0...
— Vem, vou mostrar a casa pra vocês. As meninas e o João tão lá dentro. — dessa vez Marília tava confiante, pelo menos, uma parte dela se sentia em paz e tranquilizava um pouco todo o resto.
— Por que que o João tá aqui? — sua mãe perguntou e lá se foi toda sua tranquilidade.
— É... Foi só pra ver o Léo e...
— Pra dar a insulina dele... — João completou, engolindo seco pelo olhar desconfiado da mãe sobre si.
— Acho que cês não vão querer ver isso, né? — Henrique falou tentando mudar a atenção do assunto. — A piscina é incrível e eu coloquei uma tv gigante, deve dá pra ver cada folha do gramado de futebol.
— Sério? — todos os homens falaram em unísono, parecendo super animados com a ideia.
— Cê vem, Léo? — Henrique perguntou receoso, enquanto tirava Miguel do sofá e o pegava no colo. Havia vinte minutos desde que Murilo havia deixado o menino ali e durante cada um daqueles minutos, Léo o encarou com um semblante fechado, os bracinhos cruzados e os olhos semicerrados. Nunca imaginou que teria medo de criança...
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Luz Negra - Disfarce 1
FanfictionQuando as luzes do palco se apagam, outras milhares se acendem na tentativa de iluminar as coisas que estavam, mesmo que um pouco, obscuras para os que estão do lado de fora do "backstage". Mas quando se quer evitar a invasão da luz, uma cortina de...