Capítulo 8

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Se fosse possível fazer tudo o que deseja, a vida, definitivamente, pareceria mais fácil, já que não dá pra saber se as nossas escolas seriam as melhores. Boa parte das pessoas diz que é melhor se arrepender de ter feito do que se arrepender de não ter tentado e pensar como seria se tivesse feito. No fundo, ninguém realmente sabe o que acha melhor e, talvez, até saiba, mas não dá pra decidir qual é o melhor: se arrepender de ter feito ou de não ter feito.

E eram essas questões que rodeavam a cabeça de Marília. Qual era o melhor: ir ou não ir? Na verdade, o que teria sido melhor pra ela: não ter ido naquele show ou nunca ter deixado aquela relação ficar mais séria? A segunda alternativa com certeza, mas não dava pra voltar no tempo e mudar essa escolha e também não dava pra mudar a que ela precisava se convencer que já estava tomada. Ela tinha que ir. Tinha um compromisso não só com seu escritório, mas também com seu empresário, tinha que manter a farsa que ela e Henrique haviam inventado, e tinha que fazer aquilo pelo irmão. Havia se tornado empresária da dupla do caçula e aquele evento da WorkShow definitivamente seria bom pra carreira dos dois. Pessoas influentes no ramo estariam lá, pessoas que poderiam fazer diferença na carreira deles, não dava pra deixar isso passar.

— Peguei o carro, tá? — atraindo a atenção da irmã, balançando as chaves, João Gustavo falou enquanto descia as escadas e chegava na sala.

— Não. — Marília balançou a cabeça de um lado para o outro, franziu o cenho e cruzou os braços. — Por que você quer meu carro?

— Você não vai junto comigo, — como se fosse óbvio, ele falou, imitando o movimento da irmã e cruzando os braços também. — eu tenho que ir pra lá de alguma forma.

— Vai com a gente. — pra Marília, a solução daquele problema era óbvia. E seria melhor ainda pelo fato de que nenhum dos dois teriam que dirigir o carro, o que era um alívio pra ela.

— Não, a atenção vai tá totalmente voltada pro casalzinho de ouro do sertanejo e eu definitivamente não quero ver você beijando o Henrique, pra alguma foto, então... E eu tenho que passar na casa do Dom.

— E o papo de me ajudar nisso?

— Eu vou te ajudar, mas ainda tenho que me acostumar com a ideia de que você vai morar com algum idiota, — como se realmente estivesse tentando se convencer ele soltou os ombros e suspirou, tentando relaxar e se acalmar. — no caso ele não é um. Mas é isso que eu tenho que colocar na cabeça.

— Ele é meu melhor amigo, nada vai acontecer. — Marília foi até o irmão e passou os braços por seu tronco, o abraçando e mantendo seus olhos nos dele. — Não foi você mesmo que disse isso? Relaxa.

— Eu sei, — ele retribuiu o abraço e suspirou mais uma vez. Queria poder passar confiança pra irmã, mostrar pra ela que não havia nada a temer, mas como ele faria isso se tudo o que mais importava pra ele era ela? Ele se sentia na obrigação de pensar em todas as coisas que poderiam acontecer e evitar todas que poderiam machucar ela. Ele já havia falhado uma vez, não queria errar de novo com ela. — mas eu vou sempre me preocupar com você, entende? Não dá pra evitar... — o som da campainha soou, despertando a atenção dos dois para a porta.

— Falando nele. — ela se soltou do irmão e abriu a porta, encontrando exatamente quem esperava estar do outro lado dela.

Henrique vestia um terno completamente preto e tinha em uma das mãos um buquê de flores, na esquerda se encontrava uma única rosa que ele estendeu em direção a Marília, com um pequeno sorriso no rosto.

— Essas são pra minha sogrinha, essa é pra você. Flor e o beija-flor, né?

— Deus, me leva daqui rápido, por favor! — a súplica de Gustavo fez os dois rirem, por mais que parte do que ele havia falado, fosse sério. Mas apenas ele sabia disso.

Luz Negra - Disfarce 1Onde histórias criam vida. Descubra agora