Capítulo 1 - Repostado

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Existem chances que não devem ser dadas e nem consideradas. Dentro de campo, os jogadores não podem dar chances para que o time adversário contra-ataque. Na música, não se pode dar chances para errar um tempo ou nota. No amor, não se pode dar chances para o azar. Mas quando tudo já deu errado, não se pode tentar voltar atrás e tentar fazer dar certo.

E não que, naquele momento, Marília estivesse tentando dar uma segunda chance para o seu amor passado, mas sim uma segunda chance para, quem sabe, curar a ferida que era mais profunda do que qualquer um pudesse ver e que ela conseguisse falar.

Azar no jogo e sorte no amor, era o combinado da vida, mas estava se cumprindo ao contrário e Henrique sentia que não podia reclamar disso. Para que tudo desse certo em sua carreira, além do talento, é sempre muito bem vinda a sorte no jogo. O melhor para um cantor e, principalmente, celebridade é ter a sorte a seu favor. Mas de vez em quando as coisas poderiam variar. Ele podia ter um pouco de sorte no amor também e se fosse necessário fazer a troca, ele com certeza escolheria ter sorte no amor.

O verde e branco era visto por todo o lado em camisas e fumaças por todo estádio. A vitória do Palmeiras era comemorado por boa parte do público. Não era só a vitória do verdão que seria comemorada pelos torcedores e por um grupo em especial, a oportunidade de estarem juntos mais uma vez depois de tanto tempo trabalhando e sem tempo pra pensar em qualquer coisa além dos shows, o grupo de cantores que assistia o jogo finalmente teria a chance de estarem juntos sem ser por eventualidade do trabalho. E era isso o que eles comemorariam.

Todos sabiam em qual hotel os cantores ficariam e não é novidade pra ninguém que sempre que eles se encontravam, uma festa era feita, seja lá onde estivessem, e essa tradição não seria quebrada.

De saída do estádio, os cantores iriam para o hotel que estavam hospedados e que seria o local da "resenha".

— Fala o que você quer de uma vez, Matheus. — a frase foi dita entre um sussurro. O olhar de Marília denunciava que ela estava cansada dos poucos segundos que aquela conversa tinha. As mulheres ao lado dela estavam em silêncio. Nenhuma das duas queria dizer algo, mas também não queriam permanecer quietas. Elas sabiam que Marília não faria isso, mas o medo de mesmo assim ela se render as palavras do ex as consumia. Uma delas já tinha passado pela dependência emocional de alguém, e o momento que a loira vivia não era dos melhores. Mais do que em qualquer outro momento, estava claro o quanto ela necessitava de alguém ao seu lado para a passar forças. Só as irmãs sabiam tudo o que ela sentia e havia passado, boa parte das feridas eram por causa do ex-namorado e claro que ele não fazia ideia daquilo. Matheus nunca prestou a devida atenção nas vontades ou sentimentos de Marília. Se importava, mas não o suficiente. Enquanto a tinha do seu lado, para ele, tudo estava perfeito. Mas então tinha os momentos em que ela não o queria por perto ou que ela brigava e descordava dele... era nesses momentos que o relacionamento perfeito, se tornava sufocante.

— Pode ser a sós? — ela mal conseguiu assimilar a pergunta, muito menos responder, porque Maraisa fez isso primeiro.

— Nem fudendo que eu vou deixar ela sozinha com você. Coragem de falar merda pra ela na nossa frente você tem, mas quando é pra pedir desculpa ou sei lá o que cê vai fazer, você não consegue, não é? — tinha muito mais que ela desejava falar. Maraisa sentia que seu sangue literalmente estava fervendo, mas precisava se manter calma pela melhor amiga. Ela ainda lembrava da forma magoada que Maiara a olhava quando discutia com o ex da irmã, apesar de não se sentir errada, não queria receber esse mesmo olhar de Marília.

— Do que adianta eu falar o que eu quero na frente de vocês, sendo que você não acredita em mim? — a voz de Matheus era a mais calma. Para Maraisa, o tom de voz contido provava mais ainda que ele era um mentiroso. Em segundos a personalidade de Matheus mudava da água para o vinho. Em segundos o tom de voz contido ficava alto e exaltado. Em segundos o namorado afetuoso e compreensível se tornava possessivo e abusador.

Luz Negra - Disfarce 1Onde histórias criam vida. Descubra agora