𝗔 𝗟𝗲𝗺𝗯𝗿𝗮𝗻𝗰̧𝗮 𝗠𝗼𝗿𝘁𝗮 𝗱𝗲 𝗨𝗺 𝗣𝗮𝘀𝘀𝗮𝗱𝗼 𝗩𝗶𝘃𝗼

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Cheguei em casa, não comi nada, apenas escovei meus dentes, tomei banho, coloquei meu pijama e fui dormir. Estava exausta, e não parava de pensar nas coisas que ele disse, era tudo tão sufocante, eu só queria desaparecer. E com esse sentimento preenchido em meu coração, eu adormeci.
- Você sabe que é sua culpa, não é?
Eu acordei num lugar escuro, a única coisa que eu via era um garoto em pé com uma roupa jogada.
- Mi?
Ele se virou, que engraçado, era eu. Mi era a identidade que eu usava há alguns anos. Ele parecia ter muitas olheiras, nenhuma espinha, mas estava com uma cara cansada, muito mais do que eu.
- Você sabe que é sua culpa? Sua culpa.
- Mas que merda você é?!
- Eu sou seu pesadelo, sua sombra, eu sou você, uai.
- Mas se você sou eu, por que queres falar que é minha culpa?
- A culpa é sua, e quero que você assuma.
- Culpa do que?!
- Você sabe.
Ele começou a rir de mim, me deixando mais irritado, até uma hora que não aguentei. Segurei seu pescoço, deixando-o asfixiado. Prendi seu ar e bati nele com toda a força que me restava, até eu matar ele de vez. O sangue que ele jorrava por sua boca ficou em minhas mãos, fazendo ela ficar ensanguentada.
- Pelo menos agora você desaparece.
Sai andando pelo lugar onde meu sonho se instalou. Era um lugar com uma temperatura amena, boa e ruim ao mesmo tempo. Era cheio de entulhos e restos de construções. Era mais confortável do que qualquer outro lugar que já havia visitado.
- Você sabe que a culpa é sua.
Era outra voz, mas não era só uma, e elas não vinham da minha frente, eram vozes que estavam me seguindo desde a morte do meu outro eu neste lugar.
Com medo e raiva, me virei, eram muitas pessoas, tanto amigas, amigos, pessoas que me fizeram mal, todo mundo que eu conhecia. O pior era o fato principal: todos me observavam e faziam um coral com a mesma frase sufocante.
- Você sabe que é sua culpa.
Eles jogaram o corpo do Mi, o meu outro eu, em minha frente, balançaram seu corpo e olhavam pra mim com olhar de desprezo e insensibilidade.
- Você sabe que é sua culpa.
Eles começaram a simular uma fofoca ligada a mim. Me deixou mais desconfortável que tudo o que já me houve.
Não deixei barato, então, enxuguei minhas lágrimas e saí empurrando todos, fazendo que me perdessem de vista, o que me deu um grande alívio naquele instante.
- Percebeu que fugiu deles do mesmo jeito que foge de seus problemas?
Era o cadáver do Mi, morto, cansado e sem graça. Mesmo assim, ele falava comigo e me dava toda a culpa de tudo o que já fiz antes.
- Já pensou que talvez, aquelas pessoas saibam da minha existência?
- Cale-se!
Dei um tapa em seu rosto, fazendo-o cair e morrendo de vez. Foi minha melhor sensação, mas o meu corpo começou a despedaçar, caindo como vidro, igual ao chão, o teto, tudo. Tudo estava se despedaçando.
Então acordei, continuava sendo um sonho, mas dessa vez, era meu próprio quarto, mas dessa vez, eu estava no corpo de Mi. Não que o Mi não seja eu antes, mas eu estava no passado e tudo o que ocorria estava ligado numa linha do tempo de um ciclo, ou seja, eu sempre fazia as mesmas coisas, com as mesmas pessoas, era minha rotina. Mas era só um ciclo infinito.
Peguei meu celular, até ele tinha um aparência diferente comparado ao meu atual. Abri meu WhatsApp, já que era a coisa que mais me interessava naquele dispositivo.
- Cade o número da Lara ou das meninas?
Eles não estavam ali, eu não tinha conhecido nenhuma delas. Apenas a Vanny, ela me conhecia, mas éramos só amiguinhas, não éramos próximas naquela época.
- Onde está o resto das conversas?
Eu vivia apagando meu celular, por motivos desconhecidos, nem sabia a razão pela qual faria aquilo.
- Espera, o que é isso?
Era um diário digital, ótimo, que tipo de inutilidade era aquilo? Nossa, e possuía muitas páginas, mas só vou ler as mensagens.

21/04/20**
Texto para uma pessoa que futuramente amarei, mas atualmente não sei quem será.

Nossa, eu era bem prevenido e romântico. Pelo visto, levando em consideração os títulos das anotações, eu era o último homem romântico da Terra. Mas vou ler o que está escrito.

"Eu te amo. Eu amo todos os lindos sorrisos que você me mostra. Eu passo a sorrir se for para ver um sorriso teu, na verdade, o sorriso mais lindo do mundo. Eu amo as suas risadas, cada uma dessas risadas me faz melhor em meus piores momentos. Daria o mundo para lhe fazer rir. Eu amo suas tentativas de me tirar do sério e me irritar. Eu amo o seu rosto quando fica envergonhado, o jeito que se esconde, como uma obra de arte ainda não publicada. Eu amo quando você para as coisas que está fazendo e passa a conversar comigo. Eu posso ficar em silêncio, mas eu estarei apreciando cada palavra sua, que importa mais que qualquer um. Amo quando você me alegra e me faz rir, me faz tão feliz. Quando seus olhos brilham, meu mundo brilha junto ao teu, parecem um céu estrelado, o mais bonito já visto. Eu amo quando vejo alguma mensagem sua e algum áudio. Os seus conselhos e tentativas de me salvar, que me faz encaixar os nossos corações como duas peças de um quebra-cabeça, mesmo uma tendo umas dobras e cortes e a outra seja perfeitamente linda, as duas se encaixam lindamente, e pode parecer que tenha uma difícil complicação, mas com uma resolução simples, tudo se encaixa. Eu amo acordar com o teu "bom dia" e o seu "eu te amo". Eu me sinto tão feliz quando fala comigo ou manifesta algum tipo de afeto por mim. Eu amo chegar no final do dia e receber uma ligação sua, e passar horas contando como foi o meu dia e como foi o seu, confiando histórias e segredos. Eu amo quando você fala que somos lindos juntos. Amo ler suas mensagens escritas erradas e amo ouvir seus erros fofinhos quando você lê alguma coisa. Eu amo te ter comigo. E amo sentir seus sentimentos ligados aos meus. Amo te conhecer. Cada parte de você e tudo o que você fala. Eu amo tudo em você. Não importa se você for ansioso, depressivo, doente, popular, excluído, traumatizado, viciado, louco, religioso, nada disso me importa. Eu te amo. Eu te amo. Para sempre."

O celular marcava 2 da manhã, era impressionante. Eu fiz um texto de amor para alguém que não conhecia, incrível. Tudo isso me deixou sem reação por vários segundos.
- Eu queria um romance ou estava fazendo isso para me sentir amado?
Não sei de nada, pelo menos, eu não lembro, já que sei, mas não sei o enredo de tudo isso. Estava cansada, tentei dormir no próprio "mundo" onde eu estava, mas por algum motivo, tudo aquilo se despedaçou, como vidro, de novo e de novo.
   Desta vez eu realmente acordei, não era outro ciclo de sonhos ou pesadelos. Me levantei, até então, estava quase caindo. Meus olhos estavam cansados e estava exausta. Eu só queria dormir bem, e não lembrar de tudo aquilo. Dormi de novo, mas dessa não fui para uma lembrança negativa como fui nestes pesadelos estranhos, era tudo o que queria naquele instante.

"𝑬𝒖 𝑷𝒓𝒐𝒎𝒆𝒕𝒐" (Parte 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora