ARIANE (6)

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[ 20 de setembro, sábado ] 






  É um acordo na nossa família que Ariana é responsável por ir à padaria aos sábados de manhã e, às vezes, quando ela não está a fim de ir sozinha, eu aceito acompanhá-la. Essa é uma dessas vezes. A padaria mais próxima fica há quatro quarteirões de casa, então aproveitamos para fazer uma mini caminhada matinal e absorver a luz fraca do sol e o ar fresco. Apesar de estar meio frio, o clima está agradável e eu precisava sair um pouco para tentar esquecer o micão da noite passada. Minhas cortinas ainda estão fechadas, só para prevenir. 

  Minha irmã se arrasta pelo caminho, escorada em mim, porque voltou para casa às três da manhã — duas horas depois do horário estabelecido pelo papai. É claro que ele não sabe disso. Ele não sabe sobre nenhuma das infrações que Ariana comete, ou pelo menos finge que não. Minha irmã levou a sério quando o One Direction cantou " vamos viver enquanto somos jovens ". Ela sai escondida, não respeita o toque de recolher e uma vez, durante uma viagem de fim de semana que nossos pais fizeram sozinhos, eu cheguei em casa e a escutei no chuveiro com um garoto. Tem algo de estranho em alguém com a exata mesma cara que a minha aprontando dessas por aí. 

  A padaria Del Hill é bonita e aconchegante. Uma parte é destinada às atividades normais de uma padaria e a outra é uma pequena cafeteria, com mesas e cadeiras de madeira. Pelas janelas é sempre possível ver pessoas trabalhando, lendo e conversando. Os produtos deles são maravilhosos também. Hoje mamãe pediu que comprássemos roscas de canela porque, segundo ela, acordou com desejo e o bebê não pode passar vontade. 

  — Ah, maravilha — Ariana bufa quando passamos pelas portas de vidro e nos deparamos com duas filas. — O que esse povo faz aqui a essa hora? 

  — O mesmo que a gente, provavelmente. Não deve demorar. 

  — Eles deviam arranjar coisa melhor para fazer. Quero voltar para casa e dormir mais um pouco, estou moída. 

  — A culpa não é deles se você ficou fora até tarde. 

  — Aí, sem julgamentos. O que queria que eu fizesse? Conheci um super gatinho e... 

  — Pode parar por aí, não quero saber dos detalhes. 

  Ariana faz uma careta contrariada, mas não continua com a história. Qual o problema das pessoas, afinal? Por que gostam tanto de compartilhar seus feitos sexuais? Ninguém quer saber! Ficamos lado a lado na fila, que não anda tão rápido quanto eu esperava porque há apenas uma atendente atrás do balcão. De repente, minha irmã deixa o mau humor de lado e acena para alguém com um grande sorriso. Viro a cabeça e imediatamente me arrependo de ter vindo. Desvio o olhar rapidamente, porém Castiel para logo atrás de nós, vindo da cafeteria com um copo na mão. 

  — Olha só, se não são Tweedledee e Tweedledum. 

  — Fala sério, somos um milhão de vezes mais atraentes — Ariana empina o nariz. 

  — Fale por si mesma. E aí, Greene, teve uma boa noite? — ele olha para mim com um sorrisinho de canto. — A minha foi maravilhosa. 

  — Por que não vai ver se estou na esquina? — resmungo. 

  — Porque te encontrar aqui já é desanimador o suficiente. Enfim, ainda não me contou se gostou do pequeno showzinho... 

  Arregalo os olhos. Ariana vira a cabeça como um animatronic psicopata de FNAF. 

  — Showzinho? 

  — Não sabia? Sua irmã é adepta ao voyeurismo. Ela assistiu descaradamente enquanto eu estava com uma garota, ontem à noite. 

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