ARIANE (8)

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[ 23 de setembro, terça-feira ] 








  Saio de casa às 19:58 com meus materiais em mãos. Papai não gostou nem um pouco da ideia de eu ficar sozinha com dois garotos e até queria que as aulas fossem na nossa casa, mas prefiro não ter Castiel Chase infiltrado em meu território sem real necessidade. Ariana garantiu ao papai que não há a menor possibilidade de algo acontecer porque Castiel e eu não nos damos bem. Foi difícil fingir indiferença ao falar do Lysandre, mas não quis levantar suspeitas. Conforme atravesso o jardim, um carro preto para no meio-fio e o Lys desce. O irmão dele acena para mim de dentro do automóvel antes de partir. 

  — Boa noite — Lysandre sorri, as mãos enfiadas nos bolsos do casaco. É uma noite fria. — Ansiosa para a primeira aula? 

  — Nem um pouco — estalo a língua. Nos dirigimos juntos à casa vizinha. — Sinto muito que tenha sido arrastado para esse problema. 

  — Tudo bem. Gosto de você e gosto do Castiel, então será agradável passar um tempo com ambos.  

  — Acredite, sua presença será a única coisa agradável essa noite. 

  Arregalo os olhos levemente quando me dou conta do que falei. Felizmente, Lysandre não parece perceber nada suspeito. 

  — Sei que vocês não se dão bem, mas esse tempo juntos pode ajudá-los a encontrar coisas em comum. Podem até se tornar amigos. 

  Assinto, embora não acredite nem um pouco nessa possibilidade. Isso aqui é a vida real, não Clube dos Cinco. Não chegaremos ao final desses dois meses nos entendendo melhor. Lysandre toca a campainha; Castiel abre a porta quase no mesmo instante usando nada além de uma calça de flanela, o cabelo vermelho todo preso para trás. Não sabia que ele tinha um undercut, é... bonitinho. Combina com os piercings e tatuagens. Também combina com o abdômen levemente definido. Não que eu fique reparando. 

  — Um minuto atrasada, garotinha. 

  — Estava conversando com o Lysandre. 

  — Eu sei, vi os dois pela janela — ele volta a atenção ao amigo. — Você é a testemunha, não deveria desviar a atenção da aluna. Ela ficará um minuto mais burra por sua causa. 

  — É sempre um prazer revê-lo — Lysandre sorri. 

  Castiel abre passagem para que entremos, mas se coloca no meu caminho depois que o Lys passa. 

  — Lembre-se do que falei sobre alunas indisciplinadas — sussurra. 

  — Encoste um dedo em mim e essa será a última coisa que fará — ameaço. 

  Ele abre um sorriso largo e me deixa entrar. Já começamos bem, eu diria. Castiel nos guia até a cozinha; aparentemente estudaremos à mesa. Ele se acomoda na cabeceira e eu, ao seu lado. 

  — Se importa se eu ler algo enquanto estudam? 

  — Não. Sabe onde estão os livros, pegue o que quiser. 

  Lysandre assente e se retira. Encaro o ruivo com sobrancelhas arqueadas. 

  — Agora você lê também? 

  — Desde os cinco anos — Castiel brinca com meu lápis entre os dedos. — Seria legal se parasse de agir como se eu fosse um macaco de circo. Acha que não sei fazer nada, além de estar numa banda? 

  — Nunca te vi fazer nada além de cantar, ser desagradável e se atracar com desconhecidas. Ainda não acredito que seja tão bom em exatas, duvido até que consiga ser um bom professor. 

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