ARIANE (14)

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( 10 de outubro, sexta-feira )






  Enquanto observo Castiel de longe, me pego pensando no que Lysandre disse e também no que houve no sábado. Não foi só o beijo, ele também me elogiou — você é sempre linda. Será que a teoria do Lysandre está certa? Castiel tem medo de ser vulnerável? Dizem que falamos a verdade quando estamos bêbados. Há quanto tempo ele acha que sou linda? E seu incômodo por Lysandre não ter feito nenhum comentário sobre minha aparência... Será possível que Castiel Chase se importe comigo? 

  Enquanto me aprontava para a escola decidi que colocaria o conselho do Lysandre em prática, a partir de hoje. Farei o possível para ser gentil, apesar das hostilidades. Se seremos obrigados a passar um tempo juntos por mais sei lá quantas semanas, é bom que não estejamos sempre por um tris de pular no pescoço um do outro. Ah, quem estou tentando enganar? É claro que tomei essa decisão porque quero que Lysandre pense bem de mim e aprove minhas atitudes. Quero que ele continue me achando legal, amável e tudo o mais, mesmo que para isso eu tenha que relevar as idiotices do Castiel. 

  Respiro fundo antes de me aproximar. Castiel está empoleirado na arquibancada do campo de futebol, escrevendo alguma coisa em um caderno. Me sento ao seu lado; perto o suficiente, porém sem tocá-lo. Ele franze as sobrancelhas e tira os fones de ouvido. 

  — Se perdeu? 

  — Não. Te trouxe um café — estendo o copo. — Sem açúcar, como você gosta. 

  Castiel pega o copo com hesitação e desconfiança. 

  — Tem veneno aqui? — estreita os olhos. — Ou será que cuspiu aqui dentro? Lambeu a borda do copo? Sei que a gente se beijou, mas não estou a fim de botar a boca na sua saliva deliberadamente. 

  Respiro fundo novamente. Se controla, Ariane, se controla... 

  — Não fiz nada disso. Te vi escrevendo no frio e pensei que gostaria de uma bebida quente. 

  — Está chapada? — acusa. — Ficou maluca? Cheirou ou tomou alguma droga? 

  — Só estou tentando ser legal — respondo entredentes. 

  — Mesmo? Por que? Aposto que está me bajulando porque quer pedir alguma coisa. Terá que se esforçar mais que isso, garotinha. Pode começar massageando minhas mãos. Como guitarrista, elas são essenciais. Não aperte muito forte. 

  — Vou apertar sua garganta, seu... — disparo, então recobro o controle. — Não quero pedir nada, não preciso de nada que venha de você. Só pensei que poderíamos tentar ser mais legais um com o outro, então dei o primeiro passo. 

  — Ah, sei — revira os olhos. — Isso é coisa do Lysandre, não é? Ele também veio com esse papo para cima de mim. Se vai ser gentil comigo só porque o senhor Paz e Amor pediu, pode poupar seu tempo. 

  — O que? Não acha que seria uma coisa positiva? 

  — Se sua única razão para essa mudança de atitude é o Lysandre, não. Sei que morre por ele, mas tenha opinião própria — estala a língua. — Se vai ser bacana comigo, seja porque quer, não porque ele te pediu para ser. 

  — Bom, mas eu quero. 

  — Ah, sério? — ele arqueia as sobrancelhas em descrença. — Então, por que Lysandre teve que dizer alguma coisa? Por que não teve essa ideia sozinha? 

  — Ele me fez refletir, só isso. Qual é, Castiel, tem que admitir que não é má ideia. Se temos que passar um tempo juntos, que seja minimamente agradável — me levanto. — Mas se não quer, então... 

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