ARIANE (1)

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Desculpa voltar do início, pessoal, mas a versão alternativa estava ficando um tanto quanto parecida com a versão normal, então resolvi mudar 😬








[ 05 de setembro, sexta-feira ]


Assim que o último freguês se vai, viro a chave na fechadura e mudo a placa de aberto para fechado. Respiro fundo, aliviada e satisfeita por encerrar mais uma tarde de trabalho sem grandes problemas. As sextas-feiras são sempre agitadas no Hummingbird, o que me deixa agradecida por não trabalhar aos sábados. Não que eu costume ter muitos planos para os fins de semana.

Como em todo fim de expediente, Keith vai até a jukebox e aumenta o volume. Faz parte da nossa rotina. Não podemos ir para casa até que tudo esteja limpo e organizado, e é muito mais divertido fazer isso com música. A trilha sonora da vez é You Never Can Tell do Chuck Berry, um grande clássico tocado em Pulp Fiction. Keith vem até mim e me puxa para dançar. Tentamos imitar a Mia e o Vincent. Normalmente, sou tímida demais para me soltar assim na frente de alguém, mas Keith tem o dom de deixar as pessoas à vontade. Não me sinto boba em sua presença. Ele é o melhor colega de trabalho que já tive em quatro anos, e é um dos motivos de eu ter decidido permanecer no emprego mesmo após o retorno das aulas.

- Certo, já chega - me afasto, rindo, quando a música acaba. Material Girl começa a tocar em seguida. - Vamos limpar de uma vez, estou doida para ir pra casa.

- Tem planos para essa noite? - Keith pega a flanela para limpar as mesas enquanto me ocupo em varrer.

- Tenho; vestir roupas confortáveis e assistir tv.

- Mas é sexta-feira! É dia de se aventurar fora de casa.

- Depois de um dia cheio, só quero tomar um bom banho e descansar. Você tem todo esse pique porque, diferente de mim, não precisa usar saltos por seis horas seguidas. Meus pés estão me matando!

- Justo. Vem cá.

Keith puxa duas cadeiras, uma de frente para a outra, e me faz sentar numa delas. Deixo a vassoura de lado, intrigada. Ele apóia minha perna esquerda sobre sua coxa direita e tira meu sapato. Começo a protestar, porém desisto quando seus dedos firmes iniciam uma massagem no meu pé. Fecho os olhos por um instante, suspirando em satisfação.

- Puxa, era exatamente disso que eu precisava...

- E você tem sorte; esses dedos fazem mágica.

- Espero que esteja falando sobre massagem - arqueio levemente as sobrancelhas.

- Claro que sim - ele abre um sorriso que diz o contrário. - O outro pé, por favor.

Depois de vinte minutos de massagem e conversa fiada, terminamos rapidamente a limpeza e saímos da lanchonete. Ofereço uma carona ao Keith, mas ele recusa. É meio estranho ter um carro enquanto meu amigo de vinte e dois anos anda de ônibus. As ruas estão um bocado movimentadas. Enquanto aguardo o sinal abrir, me pergunto quantas dessas pessoas estão voltando para casa após um dia cansativo de trabalho e quantas estão em busca de uma aventura noturna. Minha irmã, sem sombra de dúvidas, pertence ao segundo grupo. A aparência é a única coisa que temos em comum.

Chego em casa por volta das oito da noite e, como suspeitei, Ariana não está. Encontro mamãe e papai na cozinha - papai com uma cerveja e mamãe com um copo de suco de laranja, porque não pode ingerir álcool. Se não estivesse grávida de três meses, com certeza seria uma taça de vinho a sua frente. Eles pediram uma pizza marguerita pro jantar, então decido subir e tomar um banho enquanto o entregador não chega.

Tem uma semana que o verão acabou e o calor ainda não foi embora, mas boto o chuveiro no modo inverno mesmo assim. É um alívio sentir a água quente deslizar por meus músculos cansados. Me sinto renovada e relaxada quando saio do banho, prontinha para me esticar no sofá e assistir alguma comédia romântica adolescente clichê. Visto um pijama fresco com estampa de morangos, penteio o cabelo recém-lavado e passo hidratante nos braços e pernas. Assim que acabo, me viro na direção da janela e me deparo com um rosto bastante familiar. Castiel Chase, debruçado em sua própria janela, sorrindo como o idiota que é com o rosto apoiado nas mãos.

- Foi um belo show - diz. - Gostei da parte em que se debruçou para passar hidratante nas pernas.

- Estava aí o tempo todo, me vendo trocar de roupa? - me aproximo da janela, irritada. É claro que esse indivíduo apareceria para estragar minha alegria, é seu hobby preferido.

- Claro que não, não sou um pervertido. Além do mais, não tem nada interessante para ver - ele estala a língua. - Vejo que vai passar mais um fim de semana em casa, sozinha.

- Vou, sim. Ao contrário de certos ruivos de farmácia, não sou desesperada por atenção.

- Não sou desesperado por atenção. A culpa não é minha se as meninas me acham tão irresistível, que não saem do meu pé.

Reviro os olhos diante do sorriso convencido do Castiel.

- Não te achariam tão irresistível se tivessem que morar do seu lado.

- Ah, é, essa honra é todinha sua - ele pisca um olho. - Agora, por mais que eu ame nossas pequenas interações, tenho coisa melhor pra fazer. Tchau, garotinha.

- Tomara que se perca no caminho de volta - resmungo, dando as costas para a janela.

Castiel Chase é nosso vizinho há uns três anos. Seus pais viajam muito por conta do trabalho, então decidiram emancipá-lo no ano passado para que não precisasse segui-los o tempo todo. Ele passa a maior parte do ano sozinho, porém o senhor e a senhora Chase se responsabilizam por todas as contas. Ambos são gentis e simpáticos, apesar de o filho ser um verdadeiro otário. Minha irmã se refere ao Castiel como o " vizinho gostosão ", mas só porque não é ela quem ele perturba sempre que tem chance.

A pizza já foi entregue quando desço. Me sirvo de três pedaços e uma lata de refrigerante sem açúcar, depois me acomodo na frente da tv. Assisto três filmes no total: Ela é Demais, Meninas Malvadas e Ela é o Cara. Já passa da meia noite quando desligo a tv e me espreguiço. Meus pais foram dormir há duas horas e ainda nem sinal da minha irmã. Estou prestes a subir as escadas quando ouço batidas na porta. Franzo o cenho; quem pode ser a essa hora? Dou meia volta para descobrir. Abro uma pequena fresta da porta, depois abro tudo. Castiel está parado na soleira, segurando minha irmã pela cintura enquanto um dos braços dela está apoiado em seus ombros.

- Olha, é a minha irmã - Ariana aponta para mim, depois me abraça pelo pescoço. - Que saudades, maninha.

- Está bêbada?

- Um pouco - ri. Pelo jeito de falar, suponho que seja bem mais que " um pouco ". - Estou com taaanto sono. Vou para a cama. Tchau, tchau, Castielzinho!

- Até mais.

Nós dois observamos enquanto Ariana cambaleia para dentro de casa, os saltos nas mãos. Suspiro; espero que ela não vomite pelo caminho.

- Então, não vai me agradecer por ter trazido sua irmã para casa sã e salva?

Me volto para o Castiel, cruzando os braços.

- Como ela foi parar nas suas mãos, afinal?

- Ela estava na festa em que minha banda foi contratada para tocar. Não entendi direito, mas parece que as amigas foram embora com uns caras ou sei lá - ele abana a mão. - A garota poderia ter se metido numa bela encrenca. Fui um verdadeiro salvador, não acha?

- É, parece que você é capaz de ser útil quando quer. Enfim, valeu por trazê-la. Boa noite.

Tento fechar a porta, mas Castiel me impede.

- Só isso? Sabe, eu poderia ter trazido uma garota pra casa, sua irmã empatou minha foda.

- E daí? O que quer que eu faça?

- Agora, nada. Mas vai ficar me devendo uma.

- Cobre da minha irmã, foi ela quem estragou sua noite.

- Ela vai gostar de me retribuir. Você, por outro lado, vai odiar e eu amo te deixar irritada - sorri.

- Vai ver se estou na esquina, sim?

Fecho a porta antes de receber uma resposta. Era só o que me faltava, francamente. Esse garoto não tem escrúpulos. Dou uma passada no quarto da minha irmã antes de ir para o meu, só para ter certeza de que está tudo bem. Ela está jogada de bruços na cama, apagada; sequer trocou de roupa. Provavelmente acordará com uma ressaca daquelas, mas isso não a impedirá de sair novamente. Me acomodo contra os travesseiros e confiro o celular. Há algumas mensagens, mas é muito tarde para respondê-las. Deixo o telefone de lado e durmo em menos de cinco minutos.

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