ARIANE (13)

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( 09 de outubro, quinta-feira ) 








  Eu gostaria de dizer que o Castiel não tem nada a ver com a chateação que tenho sentido nos últimos dias, mas seria mentira. Não sei bem o que esperava ouvir quando bati na janela dele no domingo, muito menos o que diria, mas a forma que ele falou sobre o beijo me incomodou. O motivo de tal incômodo está além da minha compreensão, afinal, ele não disse nenhum absurdo. Aquilo realmente não deveria ter acontecido, ele estava bêbado e eu estava fora de mim. Foi um erro, um impulso do momento, e o melhor é fingirmos que nada aconteceu. Ainda assim, meu humor não está nada bom e mal consigo disfarçar. Ariana, Keith e até meus pais perceberam. Usei a tpm como justificativa e ninguém questionou. 

  O problema são as benditas aulas particulares, que têm que continuar. Estamos sentados lado a lado no momento; Lysandre do outro lado da mesa, com fones de ouvido, escrevendo, apagando e escrevendo novamente em seu bloco de notas. Deve estar trabalhando em alguma música, ou seja lá o que mais ele escreve nesse caderninho. Castiel também não está nada legal. Ele não fez nenhuma de suas provocações habituais, apenas me trata com impaciência. Impaciência! Como se ele tivesse qualquer motivo para isso. A única que tem direito de estar zangada aqui sou eu. 

  — Não, não, não! Caramba, Greene, quantas vezes terei que repetir? Esse número vem aqui — ele aponta para o caderno com irritação. — Tente prestar um pouco de atenção, por favor. 

  — Estou prestando muita atenção. A culpa não é minha se você é um péssimo professor. 

  — Péssimo professor?! Não me culpe pela sua incompetência. 

  — Como ousa? — grito. Espalmo as mãos na mesa e me levanto, fazendo a cadeira cair para trás. — Sabe de uma coisa? Não sou obrigada a aturar seu desrespeito. Vou para casa. 

  — O que está acontecendo? — Lysandre pergunta, retirando os fones. 

  — O de sempre; Castiel está agindo como um perfeito imbecil. Estou indo. 

  Lanço um olhar descontente ao ruivo, jogo o lápis sobre o caderno e marcho para fora da cozinha. Lysandre me alcança no corredor e se interpõe no meu caminho. 

  — Espere, Ariane, por favor — pede, doce e gentil como sempre. Cruzo os braços. — Não vá embora. 

  — Por que não deveria ir? Ele me trata como uma idiota! 

  — Notei que ambos andam estranhamente tensos nos últimos dias. Estão com algum problema? Digo, além dos problemas costumeiros. 

  Pelo visto, Castiel não falou nada sobre o beijo. Também não contarei. Se tenho esperanças de ficar com Lysandre um dia, ele não pode saber que beijei o amigo dele. Ele já acha que nossas implicâncias se devem a um relacionamento passado fracassado. 

  — Bom, você sabe que as coisas nunca estão boas entre nós. 

  — Sim, mas parece diferente. Não estão implicando, estão brigando. É mais sério, estão com os nervos a flor da pele — ele parece preocupado. — Estive em um ensaio da Crowstorm ontem, na casa do Aaron, e Castiel estava de péssimo humor. Quis repetir a mesma música diversas vezes, sempre encontrava um defeito, um erro. 

  — E por que acha que isso tem a ver comigo? Castiel é sempre um grosso. 

  — Não, está enganada — balança a cabeça. — Não sei o que está havendo, mas sei que o mau humor de ambos está relacionado. Não precisa me contar nada, mas não vá embora. Castiel pode se dar mal se não cumprir o castigo direito. 

  Desvio o olhar por um instante, suspirando. 

  — Por que se importa tanto com o Castiel? Vocês se conhecem há um mês. 

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