CASTIEL (12)

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( 05 de outubro, domingo ) 







  
  Acordo com batidas insistentes na janela e uma dor de cabeça lancinante. Mas que raios...? Será aquele pica-pau irritante outra vez? Esse bicho insiste em aparecer nas horas mais inconvenientes. O que tem de tão atraente na minha janela, afinal? Tem a porcaria de uma árvore bem na frente, caramba! Pássaro burro. Tento ignorar, porém as batidas persistem. Me sento, grunhindo, e levo a mão a cabeça, sentindo-a girar. Não devia ter bebido toda aquela tequila ontem — Mark e suas ideias de jerico. Não sei por que ainda vou na onda dele. 

  Me livro dos cobertores e cambaleio até a janela, tropeçando em um par de tênis no caminho. Aperto os olhos quando abro as cortinas e a luz do sol invade o quarto. Como eu gostaria que estivesse nublado! Abro os olhos devagar e, para a minha surpresa, não encontro o pica-pau e, sim, Ariane Greene. O que ela faz na minha janela? Que horas são? Abro o vidro; minha pele se arrepia por conta do ar gelado externo. 

  — Te acordei? 

  — O que você acha? — sorrio sarcasticamente. — Posso saber por que está me incomodando num domingo? 

  — Só queria conferir se não estava desmaiado no banheiro. Foi onde te deixei ontem. 

  Então, as memórias vêm à tona. Ela me levantando no jardim, me ajudando a entrar em casa, tirando minhas roupas e... Merda, não acredito! Como pude beijá-la e, pior ainda, implorar? Dei a maior bandeira do universo! E a forma como ela fugiu... Aposto que veio me dizer para esquecer a noite passada e fingir que nada aconteceu. Só pode ser isso. Apesar de ter retribuído por um instante, não tem a menor chance de Ariane Greene sentir algo por mim além de raiva e desprezo. Limpo a garganta. 

  — Estou ótimo, como pode ver. Valeu pela ajuda ontem. Mais alguma coisa? 

  — Na verdade, sim — ela desvia os olhos por um momento. — Quero falar sobre o que aconteceu. Você se lembra, certo? 

  Eu sabia. Sinto um aperto no peito, já prevendo quais palavras sairão de sua boca. Como pude ser tão idiota? Eu não podia tê-la beijado. Não agora. 

  — É claro — respondo friamente. — É o seguinte, Greene, sei exatamente o que veio dizer e vou poupar seu trabalho. Eu estava muito bêbado, não sabia o que estava fazendo. Vamos fingir que aquilo nunca aconteceu, tá legal? Foi apenas um impulso do momento. 

  Ariane franze as sobrancelhas e comprime os lábios. Deve estar frustrada por não ter podido me dar o fora primeiro. Como se ela não me massacrasse diariamente com essa paixão idiota pelo Lysandre. Não sairei por baixo dessa vez, ainda tenho meu orgulho. 

  — O que foi? Não era isso o que ia dizer? 

  — Era. Era exatamente isso. Foi um erro, nós nunca deveríamos ter nos beijado. 

  Engulo o nó que se forma na minha garganta. Por mais que esperasse ouvir isso, ainda machuca um bocado. 

  — E quando posso te internar no manicômio? Era o que eu deveria fazer se me beijasse um dia, ou estou enganado? 

  — Você é um idiota. Não conte com a minha ajuda na próxima vez em que chegar bêbado em casa. 

  — Não te pedi nada. Acabou? 

  Se um olhar pudesse matar, eu estaria mortinho agora. Em silêncio, Ariane volta para o próprio quarto e fecha a janela com força. Fecho a minha também, chutando um pé do tênis com raiva em seguida. Essa garota... Como ela se atreve... Como pode ser tão... Argh! Me atiro na cama, enterrando o rosto no colchão. O beijo volta a minha mente. A memória não é nítida, mas me lembro da maciez de seus lábios e do sabor. Eu queria aquilo há muito tempo, mas não podia ter feito. Não podia! Não quando sei o que ela sente em relação a mim. Sou um grande imbecil. 

  É melhor encarar o fato de que Ariane Greene nunca estará ao meu alcance. O que houve ontem não importa. Ela tem razão, eu nunca a terei. 

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