Mayara [M]

3

Mais um dia de visita, as meninas ficavam eufóricas se arrumavam com um sorriso no rosto pra ver quem veio, quem não recebia visita podia ficar no pátio tomando sol e o pátio era melhor vazio sem ninguém.

Tomo o meu banho com o micro sabão que restava, passo em todo o meu corpo pra "limpar" assim que meu corpo fica bem ensaboado vou molhando ele tirando todo o sabão, aproveito e molho o cabelo não temos a opção de lavar só a de molhar e esperar secar e ver o que acontece, termino o meu banho me enxugo pego a minha calça verde e a minha blusa branca vestindo saio do banheiro indo direto pro pátio que era ali do lado da cabine dos banheiros me sento num banco que está batendo sol e vou fazendo duas tranças no meu cabelo, assim que termino me deito ali e fecho os olhos aproveitando o sol que esquentava a minha pele.

Minha fase de casada até o sol não podia pegar dizia ele "pra que ficar bronzeada pra macho? Tá dando pra outro e eu não tô sabendo?" Era trancada dentro de casa sem ver a luz do sol e muito menos a rua, isso era ruim, não estou dizendo que aqui é melhor mas pelo menos pego sol.

O lado bom é que aqui estou um pouco segura, sem ameaças, sem abusos, sem ninguém no meu pé como ele ficava, pq fui tão burra e demorei tanto pra me libertar disso? Talvez pq eu acreditava no amor, no nosso amor, acreditava na mudança, tinha esperanças, pena que ele me provou o contrário.

Numa das vezes que apanhei dele foi algo tão horrível que ele tinha duas opções ou me levava no postinho ou fingia q tava tudo bem, e ele escolheu a segunda opção, mas claro chamando alguém pra cuidar de alguns ferimentos.

Flashback On

Roberta -Como ela se machucou assim?-

ZL -Não sei, cheguei em casa tava toda quebrada no chão- Ainda fala com tanta naturalidade que fdp. -Vou resolver uns problemas quando acabar pode ir embora.-

A moça concorda e ele mete o pé dali, Roberta é aquela velha que me deu água, ela era enfermeira mas tinha acabado de se aposentar.

Roberta -Menina do céu, você tem que tomar cuidado-

Mayara -Foi ele- digo com dificuldade.

Roberta -Eu sei que foi ele-

Ela continua um bom tempo limpando os meus machucados até que faz todos os curativos e me encara com pena, aquele olhar me doía, não queiram receber esse olhar de ninguém.

Roberta -Eu te conheço desde pequena você sabe disso, não sou de me intrometer na vida de ninguém, mas cadê a Mayara que eu conhecia? Pq você tá deixando ele fazer isso? Quem é você?? Cadê a Mayara doida daqui- Foi só ouvir isso que desabei e chorar, foi dolorido ouvir aquilo e mais dolorido ainda foi lembrar de quem eu era.

Mayara -Aquela Mayara morreu-

Roberta -Não morreu nada, tá aí ainda e só você pode resgatar ela, traga a Mayara que todos gostam de volta!!-

Sinto ela limpar algumas lágrimas e logo se levantar da cama e ir embora, aquilo foi bem um tapa na cara sem usar as mãos, só quem passa ou tá perto pra saber o real que tá acontecendo sabe de como é difícil sair disso.

E vamos ser sinceras é algo que nenhuma mulher aceita, abandonar o amor da sua vida por uma "bobeira" mas não é bobeira, nunca foi, aquilo era real quanto mais eu aceitava pior seria pra sair e a cada vez eu estaria mais morta.

Foi graças a Roberta que me deu forças pra voltar a ser eu, pra eu lutar pela minha liberdade.

Flashback Of

Já se passaram 4 anos que estou aqui dentro desde que tomei uma das melhores atitudes da minha vida, eu acho. Me arrependo? Sim, me arrependo de não ter feito antes pra me ver livre do desgraçado.

Com a sirene informando que acabou a visita abro os olhos e vou me sentando no banco, olhando em volta e vendo o pátio completamente vazio, isso era uma das coisas boas que eu tinha o privilégio ter um momento só meu ao sol.

Levanto do banco saindo dali e indo pro refeitório me aproximo da bancada de comida e pego uma maçã, me sento numa mesa num canto e observo as prisioneiras voltando com as carcereiras indo direto pra cela, a passagem do pátio de receber visitas e o pátio que podíamos ficar um tempinho era a mesma, as duas passam em frente ao refeitório e banheiro então você que estava em algum dos dois lugares conseguia ver.

Termino minha maçã jogando o resto no lixo e chamo uma carcereira pra me levar pra cela, assim que chego vejo as meninas um pouco tristes e ao mesmo tempo felizes pelas visitas e comendo o que ganharam, cheiro de comida caseira saudades.

Xxx -Toma aí- Diz uma presidiária dando um pacote de biscoito pra mim.

Mayara -Quero não valeu-

Xxx -Pega logo, faz anos que você não recebe ninguém e não ganha nada, aceita- Ela tinha razão.. pego o pacote.

Mayara -Valeu ai-

Abro o pacote e vou pegando um e comendo, saudades que eu tava de um biscoito recheado, quem fosse ver eu comendo ia falar que parecia esfomeada mas nem é isso, é a saudades de comer algo diferente além da comida sem sal e mal feita daqui.