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Dias se passaram depois daquela conversa com a Perla e vou falar pra vocês, não tava animada nadinha, não é medo, só não tava animada. Tipo qual carreira iria seguir, o que iria fazer, como iria me sustentar, eu tava desamparada real, sem família, sem ninguém, voltar pra favela seria perda de tempo até pq não tinha nada nem ninguém que me prendesse lá.

Pra não dizer que eu não sabia fazer alguma coisa sempre tive o dom de fazer trança, aqui nunca fui de fazer de nenhuma mulher não mas fazia em mim e isso chamava atenção nas mulheres, até pediam mas eu que não ia me atrever né? Bom, pensava assim mas cá estava eu fazendo trança no cabelo de uma carcereira.

Carcereira -Até que você manda bem ein, se não tivesse aqui poderia crescer e muito lá fora, sabe disso né?-

Balanço a cabeça concordando e logo vou me afastando da mesma que chama as outras colegas de trabalho, explicar pra vocês aqui não tem pomada, creme, pente nem nada frufru, só a base de água e dedo pra deixar bonito, não dura muito tempo mas fica bonito.

Me sento no meu cantinho com o sol dando moca, quando estou prestes a fechar os olhos escuto passos se aproximando de mim.

Xxx -Doida, foi tu que fez?- Abro os olhos encarando ela que aponta pro cabelo da Policial.

Mayara -Sim, pq?-

Xxx -Faz em mim?-

Mayara -Pô, não gosto muito de fazer não-

Xxx -Faz aí, meu cabelo tá horrível e btf que você vai aumentar a minha autoestima- Realmente o cabelo dela tava pedindo um S.O.S.

Mayara -Ta bom, senta aí- Levanto do banco onde eu estava e assim ela senta.

Vou fazendo a repartição como posso, começo a fazer a trança dela do meu jeitinho sem pressa e com toda perfeição possível, faço uma trança nagô no cabelo todo assim que termino me afasto vendo o trabalho bem feito que eu fiz.

Mayara -Prontinho-

Xxx -Valeu aí ein-

Ela se levanta e vai pro meio do bonde dela que começa a elogiar o cabelo e tals, me sento novamente e fico olhando em volta as meninas dali cada uma com seu grupinho, tá aí uma das coisas que nunca tive nem dentro e nem fora da prisão, grupinho de amigas.

Não sou antipática e muito menos anti social, só nunca decidiram ficar do meu lado sem segundas intenções, quando eu morava com o Rafael todas só chegavam em mim ou pelo interesse do dinheiro ou pelo interesse nele mesmo, isso me fez crescer e mudar a visão sobre ter amigas.

A sirene toca informando que acabou a nossa hora no pátio, somos encaminhadas pra celas assim que entro já pego o meu cantinho e fico ali em silêncio, foi assim que vivi durante 4 anos, claro tenho a psicóloga mas com ela é diferente, fora que aqui dentro ninguém é amiga de ninguém!!

Me deito em cima da minha cama no chão, viro de cara pra parede e dou uma dormida maneira.

______

Acordo com alguém me chamando e um barulho alto na porta da cela, me sento virando pra quem me chama que é uma das colegas de cela.

Xxx -Tão te chamando-

Carcereira -Bora bela adormecida, teu dia chegou- Olhei pra ela com um ponto de interrogação bem gigantesco na minha teste. -Sua audiência.-

Levanto ainda com dúvida caminho até a porta da cela onde ela destranca passa as algemas em minhas mãos e tranca novamente a porta da cela, vou caminhando até um sala onde ela manda eu sentar ali na cadeira, me sento e vejo uma advogada pública que chamaram pra mim.

Xxx -Quanto tempo ein, vou resumir pra você, vão te mandar pra área da audiência e lá vão resolver se você continua presa ou dão o alvará de soltura- Balanço a cabeça concordando. -Alguma dúvida?-

Nego com a cabeça e logo a policial encerra o nosso resumo, sou puxada pra uma área onde fica os carros, me enfiam na mala de um deles e logo entram dando partida no mesmo em direção ao local da audiência.

Pela janela vejo que está amanhecendo ainda e caralho, dormi abessa fui direto e nem percebi, mexo um pouco as minhas mãos pois a algema está machucando horrores o meu pulso.

Após um tempo paramos num gabinete, a mala é aberta e logo me puxando pra fora, dessa vez é policial homem, caminhando pra dentro do gabinete me levam pra sala que vai ocorrer a audiência e vejo os réus, alguns intrusos e respiro fundo vendo já a minha advogada, a juíza e alguns outros promotores na sala e ali se inicia.

_______

Depois de terem puxado todo o meu histórico não terem encontrado absolutamente nada, foi concordado que foi legitima defesa então..

Juíza -Assim está decidido que Mayara Reis Nascimento é vítima, deixando claro que ela está respondendo por liberdade pelos seus dias de bom comportamento e pela sua defesa contra agressão, o caso está encerrado-

Só de ouvir bater o martelo me fez despertar, parecia que eu estava num sono profundo ainda e só ali depois daquele barulho acordei pra realidade, de volta a vida.

Esboço um sorriso de canto e me levam pra uma outra sala onde me fazem assinar o papel de soltura, assim que assino soltam as algemas respiro aliviada e encaro a advogada que está saltitando.

Xxx -Tem alguém que quer muito te ver, vou chama-lá- Vejo ela saindo da sala encaro as outras carcereiras que estão ali de prontidão e uma delas a que eu fiz a trança.

Carcereira -Faz o que eu te falei, teu futuro é brilhante e vou te falar mais eu vou te procurar pra fazer trança com você- Esboço um sorriso e logo entra a Perla, minha psicólogo toda feliz com uma sacola na mão.

Sem pedir licença nem nada ela vem me abraçando com força o que me faz ficar surpresa.

Perla -Eu sabia que esse dia ia chegar, eu sabia-

Mayara -Você tava certa, obrigada por acreditar em mim-

Perla -Nunca deixei de acreditar em você menina! Toma se troca e vamos comemorar-

Mayara -Mas eu posso?-

Carcereira -Você tá livre garota, vai viver, mas sem fazer merda-

Mayara [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora