Devolva-me

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Devolva-me by Adriana Calcanhoto

Rasgue as minhas cartas e não me procure mais, assim será melhor, meu bem...

...

Duas semanas depois

Júlia POV

Até o cheiro de Milão me lembra ela, os edifícios, os restaurantes, essa cidade é toda a personalidade dela. Com meus fones, fui a viagem de ônibus do hotel até o ginásio escutando nossa playlist, pra ser mais exata, as novas músicas que tinha sido adicionado recentemente. Aquela conversa por letra soou poético mas me doeu, não por nada que ela fez, mas pelo fato de não sermos mais um casal, em outros tempos teríamos nos divertido conversando em forma de música daquele jeito. No fim, só nos machucamos mais porque Roberta excluiu a playlist do seu perfil, agora só eu tinha acesso.

Pensando nela, eu já enfio minha mão no bolso da frente da mochila tocando o envelope que nunca tive coragem de abrir. Estando na mesma cidade que ela me faz ter um motivo a mais pra ler, mas ainda não tinha conseguido me convencer. Tinha medo do que ia ler, tinha receio do que eu teria que fazer depois de ler, Laura estava tão certa quando disse que eu era orgulhosa e não queria confessar que estava errada. Realmente tenho medo, não quero dizer que tudo o que fiz foi em vão, eu estava tão certa de que ela tinha me magoado e que seu erro tinha sido maior que o meu e por isso tinha terminado, não quero parecer uma idiota confessando que ficamos separadas porque eu sou imatura. Talvez essa seja a mais pura verdade. Talvez ela tenha escrito isso na carta e me doeria demais ter que ler isso.

"Júlia, cê sabia que o Fernandinho tá aí?" Gabi apareceu em pé do lado da minha poltrona.

"Não." Franzi o cenho. "Ele veio passear ou veio pela CBV?"

"Pela CBV, acho que você deve fazer fisio com ele hoje."

"Tá bom."

Se Gabi não tivesse me avisado eu ia ficar sabendo assim que cheguei no ginásio pois ele me esperava com um sorriso enorme bem na porta. Corri competindo com Gabi pra ver quem abraçava ele primeiro, é sempre bom ter um pedacinho de Brasil aqui.

"Fefe!" Tirei ele do chão apertando sua cintura.

"Calma, crianças! Tem Fefe pra todo mundo." Ele nos abraçou, cada uma de um lado.

"Você devia ter avisado que vinha!" Reclamei o soltando e dando um tapinha no seu ombro.

"Mas daí não teria surpresa." Ele começou nos guiando pra dentro do ginásio, uma de cada lado, como ele amava mostrar pra todo mundo suas meninas. "Como vocês estão?"

"Cara, podia tá melhor, ser mãe de adulto dá muito trabalho." Gabi suspirou exageradamente. Eu ri revirando os olhos.

"Mas é pra isso que serve mesmo, tá certo, tem que cuidar." Ele piscou pra mim e eu ri. "Minha sala é aqui." Ele parou de andar. "Depois da academia você passa aqui, Júlia. Você não, Gabi."

"Eu não?" Ela fez bico.

"Vai voltar pra seleção?" Cruzei os braços e ela fez careta.

"Af, que saco!" Reclamou e saiu andando pra longe.

"Te espero. Até daqui a pouco." Me inclinei e ele me deu um beijo na bochecha.

Enquanto andávamos pra academia, vi que o time do Milano finalizava seu treino, era impossível não vê-la, no meio da rede, todo o jogo passando por suas mãos, aquela alegria que só ela tem. Não olhei muito, logo segui caminho pra academia do ginásio. Nunca levantei peso tão rápido como naquele dia. Eu não vi a hora de deitar na maca e falar pro Fê todos os meus problemas, conversar da vida e de vôlei. Fui saltitante pra sala que ele me mostrou, Gabi tentando escapar do treino de passe e ir comigo mas não conseguiu. Bati na porta e coloquei minha cabeça dentro da sala.

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