Amores Imperfeitos

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Amores Imperfeitos by Skank

Será que isso vai dar certo, gente? #medo

...

Júlia POV

Mesmo com um corta vento pesado, eu ainda sentia frio e tinha as pontas das unhas roxeadas por estar com a mão exposta pra segurar o celular e me situar pelo mapa. Lembrei que ela já tinha me mandado seu endereço um tempo atrás e realmente, era 20min andando, e como Milão tinha um centro bem movimentado, escolhi não gastar meu tempo tentando transporte público e ir andando e meditando o que eu queria falar. O frio de -1° e o vento de 9km/h não ajudava aqueles 20 minutos de caminhada.

Quando dobrei na sua rua, olhei pra cima porque lembrava que sua janela era virada pra frente. Dava pra ver que as luzes estavam apagadas mas tinha uma luz azul que me dizia que ela estava assistindo TV. Pelo menos estava em casa, não vim aqui por nada.

Respirei fundo algumas vezes antes de assistir meu dedo tomando vida própria e apertando o número do seu apartamento no interfone. Houve um chiado e logo sua voz ressoou meio robótica pelo interfone.

"Si?" Ela tentou um italiano.

"Roberta... é a Júlia..." soava bem melhor na minha cabeça. "eu posso entrar? Pra conversar?" Quis adiantar logo minhas intenções pra caso ela já quisesse me mandar embora antes de eu subir.

"Ah- Júlia... tá bom, eu vou abrir pra você, o botão tá quebrado, só um momento." O chiado parou e eu me afastei um pouco da porta gradeada que me separava de dentro do prédio.

O dela era diferente, o meu, por ser em uma cidade menor, tinha um jardim, porteiro e tudo mais. O dela era pequeno, abria a porta e já estava na escada. Escondi minhas mãos suadas e geladas nos bolsos quando ouvi seus passos nas escadas. Ela apareceu na grade e sorriu de leve, meu coração se derreteu inteiro, eu era tão dela, não tinha como negar, vir aqui foi a melhor escolha que eu já fiz. Calma, Júlia, se controla, pensa antes de fazer.

"Entra." Ela ficou atrás da porta e deu espaço pra eu entrar. Esperei ela passar na frente pra segui-la. "Você veio sozinha? De Uber, né?" Puxou assunto como se não fôssemos conversar sobre as dores mais recentes da nossa vida em alguns minutos. Sorri sem ela ver quando vi seu shortinho samba canção de florzinha e uma blusa estampada de alguma banda de rock que não ornava nem um pouco com o short, mas era um estilo tão único dela.

"Andando, é 20 minutos só." Sorri orgulhosa. Ela virou a cabeça pra trás rapidamente.

"Meu Deus, Milão tá com uma onda de violência noturna gigante! Você é maluca!" Exclamou e eu dei e ombros, ninguém me falou isso. Ela rodava as chaves no dedo enquanto subia as escadas pro segundo andar. Seu último passo foi demorado, demonstrando cansaço de subir e descer as escadas. "Não tá péssimo mas não tá arrumado, não repara." Avisou e eu ri, era engraçado o quanto tínhamos voltado pra estaca zero em relação a nossa intimidade, ela me tratava como uma visita estranha, eu que conheci quase tudo sobre ela.

Ela abriu a porta de madeira e mais uma vez esperou atrás da porta até eu passar. Me indicou o sofá e eu me sentei, ela tinha pausado o dorama que assistia e desligou a TV quando se sentou na outra ponta do sofá. O sofá era de dois lugares mas mesmo assim, estávamos longe uma da outra. Me encarou por alguns segundos e ficou me olhando com certa expectativa.

"Queria te dizer que eu não tinha lido sua carta, eu não queria que você pensasse que eu li e escolhi não responder." Ela franziu o cenho.

"Ok." Falou simplesmente meio desconfiada de tudo. Ela precisava de mais.

"Desculpa que eu não li antes, eu estava nervosa."

"Tudo bem, eu entendo." Foi compreensiva mas tudo o que ela falava soava como um robô, nada como nosso relacionamento realmente merecia.

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