39 | Uma vitória incompleta

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I slept all alone
You still wouldn't go

Eu dormi sozinha
Você ainda permanecia


Is It Over Now?

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Ao erguer o troféu da Champions League o mais alto que consigo, penso: engulam essa foto, porque ainda tenho o que é preciso para vencer.

Também penso: Connie deveria estar aqui, levantando este troféu comigo.

We are the champions está tocando no estádio, e a imagem que me vem é de Connie cantando conosco.

Há pedaços de papel colorido por todo o gramado. A alguns metros, Emily e Alba tocam tambores decorados com as cores do Barcelona. A maior parte da torcida continua nas arquibancadas, comemorando.

Apesar da exaustão e da dor muscular, a adrenalina ainda corre pelas minhas veias. Nós vencemos. Uma mistura de triunfo e tristeza me preenche, os sentimentos tão contraditórios que me deixam atordoada. Esse nós está incompleto.

Mas continuo rindo com as minhas colegas, depois me junto a Emily e Alba nos tambores. Sinto que poderia sair flutuando deste estádio, direto para a minha cama no hotel, onde eu daria as boas-vindas para necessárias doze horas de sono. Foco no presente, em compartilhar da alegria das minhas amigas e no orgulho que ribomba no meu peito. Eu vim até aqui, atravessei um oceano, e fiz o que queria. O troféu mais cobiçado no futebol Europeu também pertence a mim.

Olho para a torcida, depois para as jogadoras reunidas no gramado, e, no caos dessa conquista, todo o resto parece pequeno. Os obstáculos são insignificantes, porque cheguei até aqui apesar deles. Meu time foi invencível nesta temporada, e eu também fui.

Depois do que parecem ser horas, vamos para os vestiários, onde tomamos banho e trocamos de roupa ainda nesse clima de festa. Quando estou sob o chuveiro, a água gelada acalmando minhas dores, o cansaço ameaça ultrapassar a minha vontade de seguir comemorando. Me concentro no som das minhas amigas do lado de fora, no tom animado das conversas, e mantenho a determinação de estender esse clima de festa por mais tempo.

A maioria de nós tem família aqui. Até convidei a minha avó, mas ela teve que cancelar a viagem de última hora por causa de um resfriado. Mas a minha irmã está aqui.

Pensar em Andressa em algum lugar daquelas arquibancadas me faz fechar os olhos contra a água que cai e sorrir. A criança em mim, que procurava pelos pais em cada apresentação da escola, finalmente entende que há pessoas torcendo por ela.

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Depois de Andressa e eu ficarmos até tarde em um restaurante em Bilbao, o que terminou em vários drinks e nas nossas vozes ficando cada vez mais altas enquanto conversávamos — pela primeira vez, por pura empolgação, e não porque estávamos brigando —, eu volto para o hotel.

Andressa alugou um Airbnb, pois não consegui vaga para que ficasse hospedada comigo. Nós quase nos abraçamos ao nos despedirmos, dá para ver na forma como o corpo dela fica tão rígido quanto o meu, como se antecipasse algo. Mas não conseguimos, ainda não. Em vez disso, acenamos uma para a outra, e ela pega um Uber. Sei que nos veremos amanhã, já que ela vai passar mais alguns dias na Espanha antes de voltar para o Brasil.

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