Houve uma época, quando era criança, em que todos costumavam dizer que ouvir sua voz era algo raro. Que você estava sempre à espreita, calada, observando tudo.
Isso permaneceu com você.
Os detalhes do mundo e das pessoas te encantavam como nunca nada a encantou, por isso você preferia assistir do que participar. Fosse pessoas felizes, pessoas tristes, idosos até os bebês... Tudo.
Nunca foi de muitos amigos, principalmente pela sua tímidez e jeito mais recluso. Mas os poucos que tinham eram especiais, e você preferia que fosse assim.
Carol era uma dessas pessoas.
Mesmo que a mais velha também fosse um pouco reclusa, ela ainda tinha aquele carisma e simpatia sem iguais. Isso sempre foi de se admirar nela, na sua visão.
Então ela sempre tinha muitas pessoas conhecidas, amigos, familiares, tudo. Pelo menos quando você a conheceu. Mas sabia que nem sempre ela havia sido assim.
Uma vez ela disse que você a lembrava de si própria quando mais jovem. Te fez sorrir, pensar que algum dia já fora igual ela, uma mulher da qual tanto se admirava.
Carol te levava para todos os lugares, para que você interagisse mais, talvez para que passasse menos tempo sozinha. Mas nunca adiantava, você sempre preferia observar as pessoas, os ambientes, tudo.
Claro que você era alguém bem proativa e prestativa no grupo, Rick geralmente à chamava para quaisquer que fossem as situações, das mais simples até as emergênciais. Mas você simplesmete conseguia fazer sem muita conversa ou esforço.
Então, um dia Carol à levou à Feira que estava acontecendo no Reino. Era o primeiro ano do evento, e todos estavam muito ansiosos e felizes pela evolução de todas as comunidades, como tudo estava funcionando melhor no momento.
E você foi com ela, saíram de Alexandria juntas para ir até o Reino.
Ao chegarem lá, você se maravilhou com tudo. Parecia quase que uma cidade do mundo antigo, de quando os mortos ainda não caminhavam na terra. Era lindo, feliz, dançante, colorido. Você mal sabia se haviam tantos adjetivos para descrever o quê aquele lugar ela.
Foi de uma barraca à outra, dos itens mais normais aos mais inusitados. Experimentou de todos os tipos de aliementos, à todos os tipos de roupa. Passou a tarde inteira fazendo apenas isso.
E quando começou à escurecer e você já estava mais cansada, o Rei Ezequiel chamou todos para que fossem para o cinema com suas crianças. Aquilo era surpreendente, conseguiram até mesmo resgatar algo de quando o mundo ainda era mundo, algo que rmeetesse felicidade, inocência... Era lindo.
Você acompanhou Carol ao cinema, sentando-se ao seu lado.
A mais velha cumprimentou todos que passavam e se sentavam perto dela para assistir ao filme. Até mesmo seu melhor amigo, Daryl.
O caipira sentou ao lado dela, abraçando a mesma meio sem jeito, e ajustando-se na cadeira.
E como sempre, você observou.
Daryl era um homem calado, assim como você. Era mais velho, apenas alguns anos mais novo do que Carol. Tinha alguns cabelos grisalhos no cabelo e na barba, juntamente à algumas rugas, mas nada incômodo. Ombros largos e um físico típico para alguém de sua idade. Sabia pouco sobre ele, mas conhecia sobre sua amizade duradoura com Carol. Imaginou que ele era alguém quieto, reservado e com aquela pose de durão apenas para os outros, mas com seus amigos e entes queridos, era alguém carinhoso e amoroso.
E não podia deixar passar a beleza do mais velho. O jeito mole e desleixado de se comportar, os maus hábitos e a carranca escondiam todo aquele... Charme. Mas ele tinha. E era isso que te intrigava nele.
Foi acordada de seus pensamentos por um riso da plateia asssitindo o filme. Era uma animação bem antiga, rodada por fita, você pensou. Como perdeu todo o começo do filme apenas observando Daryl Dixon?
Tudo o quê sabia é que quando voltou o olhar para o mesmo, ele a estava observando.
E a sensação foi estranha.
Não estava acostumada á ser observada, á repararem em você. Nunca viu motivo para isso, pelo menos. Era sempre o contrário, as pessoas que costumavam se asssustar com seu olhar sobre elas.
Mas era diferente. Você se sentiu esquisita, quase como desconfortável. Era intrigante. Por mais que você quisesse desviar o olhar, tinha algo nos olhos azuis do caipira que a hipnotizavam. Daryl era quase que magnético.
Algo dentro de você se ascendeu, e ficou feliz por alguém, pela primeira vez, a observar.
Você desviou o olhar rapidamente, tentando focar no filme que estava sendo exibido. Mas a presença de Daryl ao seu lado, a intensidade de seu olhar, era algo que você não conseguia ignorar facilmente. O filme passou como um borrão, e antes que você percebesse, as luzes se acenderam e as pessoas começaram a se levantar e a sair do cinema improvisado.
Carol estava conversando animadamente com algumas pessoas, mas você só conseguia pensar na troca de olhares que teve com Daryl. Sentiu seu coração bater mais rápido quando percebeu que ele ainda estava ali, ao lado de Carol, mas seus olhos encontraram os seus novamente.
— Você está bem? – Carol perguntou, tocando levemente seu ombro.
— Sim, estou bem. Só um pouco cansada – você respondeu, forçando um sorriso.
— Eu vou pegar algo para beber. Querem vir comigo? – Carol perguntou, olhando para você e Daryl.
Daryl balançou a cabeça.
— Vou ficar aqui um pouco – disse ele, seu olhar ainda fixo em você.
Você assentiu, sentindo um misto de ansiedade e curiosidade. Carol sorriu e se afastou, deixando vocês dois sozinhos na crescente penumbra do cinema que esvaziava.
— Gostou do filme? – Daryl perguntou, sua voz rouca quebrando o silêncio.
— Sim, foi... diferente. Faz tanto tempo que não assisto um filme – você respondeu, tentando não soar nervosa.
— Eu também. – ele disse, dando um pequeno sorriso. — É bom ver algo normal de vez em quando.
Você assentiu, sentindo a tensão diminuir um pouco.
Houve um momento de silêncio confortável entre vocês. Daryl parecia relaxar um pouco, e você sentiu uma conexão se formando, algo que nunca havia sentido antes.
Você percebeu que a presença de Daryl ao seu lado não era tão intimidante quanto imaginava. Na verdade, havia algo reconfortante em estar perto dele, como se ele entendesse o seu silêncio, a sua maneira de observar o mundo.
— Você sempre foi assim? Observadora, digo – Daryl quebrou o silêncio, sua voz suave carregada de curiosidade genuína.
Você se pegou surpresa com a pergunta, mas logo percebeu que era uma oportunidade de compartilhar um pouco de si mesma com ele.
— Sim, desde que me lembro. É mais fácil entender as coisas se vemos elas de longe...
Sentiu vergonha de si mesma pela primeira vez dizendo algo como aquilo, ainda mais na frente de alguém mais velho
Mas Daryl assentiu, parecendo entender.
Não quis perguntar mais muita coisa sobre ele. Por ele ser um cara mais quieto, imaginou que ele se incomodaria. Então esperou que ele continuasse o assunto por vontade própria.
Mas antes que isso pudesse acontecer, Carol voltou com duas bebidas nas mãos.
— Aqui estão vocês! – ela disse, entregando uma bebida para cada um. – Vamos voltar pra casa? Daryl vai passar um tempo em Alexandria, né? – a mais velha encarou o caipira.
Ele assentiu.
Trocou um olhar brincalhão com Daryl antes que ambos começassem à andar junto com Carol, indo de volta para a comunidade.
O tempo de estádia dele seria longo, você pensou.
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❝ ɪᴍᴀɢɪɴᴇs 𝗱𝗮𝗿𝘆𝗹 𝗱𝗶𝘅𝗼𝗻 ❝
Random❝ 𝗷𝗶𝗺 𝘁𝗮𝘂𝗴𝗵𝘁 𝗺𝗲 𝘁𝗵𝗮𝘁 𝗹𝗼𝘃𝗶𝗻𝗴 𝗵𝗶𝗺 𝘄𝗮𝘀 𝗻𝗲𝘃𝗲𝗿 𝗲𝗻𝗼𝘂𝗴𝗵 𝘄𝗶𝘁𝗵 𝗵𝗶𝘀 𝘂𝗹𝘁𝗿𝗮𝘃𝗶𝗼𝗹𝗲𝗻𝗰𝗲 ❞ aceito pedidos. histórias autorais.