Capítulo 1

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Rio de Janeiro, 13 de agosto de 2039.

Agosto no Rio de Janeiro é sempre uma montanha-russa climática. Um dia escaldante, no outro, chuvas repentinas que fazem os termômetros despencarem para os 21°C – o que, para os cariocas, já é motivo para tirar os casacos guardados no fundo do armário.

No bairro da Gávea, em um edifício residencial a poucos minutos do Shopping da Gávea, vive Amelie Meirelles com sua mãe, Amanda Meirelles. Amanda é a dona da prestigiada marca AMeirelles Cosmetics e, claro, a famosa vencedora da 23ª edição do antigo reality show Big Brother Brasil.

Amelie, com 13 anos e prestes a completar 14, é uma adolescente típica da classe média alta. Adora dançar e passar horas gravando vídeos de GYRM, para seu espaço nas redes sociais. Uma influenciadora nata, assim como a mãe. Mas há uma diferença: Amelie sabe cantar, e muito bem. O único problema é que morre de vergonha de se apresentar em público.

A relação entre Amelie e Amanda é forte. São melhores amigas, quase confidentes. Quase, porque Amanda esconde de Amelie um segredo que pesa em seu coração: a identidade do pai da menina.

Até os 11 anos, Amelie perguntava sobre o pai sempre que surgia a oportunidade. Tentava de todas as maneiras abordar o assunto, mas Amanda desviava, evitava. Até que um dia, o silêncio trouxe à tona uma discussão.

— Mãe, eu tenho o direito de saber quem é meu pai. Custa tanto assim me contar? — Amelie gritava pela casa, sua voz carregada de frustração.

— Filha, eu entendo sua curiosidade, mas esse não é um assunto fácil. Quando você for mais velha, conversamos — disse Amanda, enquanto passava a mão pela cabeça da filha, buscando acalmá-la.

— Mais velha? Você quer me fazer esperar até quando? Eu já tenho 11 anos! Todos os dias dos pais eu finjo que essa data não existe. Falto à escola para não ter que fazer aquelas homenagens. Eu fico de fora das festinhas porque não tenho ninguém para homenagear! Você acha que é fácil ouvir minhas amigas falarem dos pais delas enquanto eu não tenho um? — As lágrimas rolavam pelo rosto de Amelie.

— Dói em você e dói em mim, filha. A culpa é toda minha — Amanda começou a chorar também, incapaz de esconder a dor.

— A culpa é sua por quê? Eu preciso entender, mãe. Eu mereço saber.

Amanda suspirou profundamente, os olhos marejados de arrependimento. — Um dia você vai me perdoar — disse ela, antes de ir para o quarto e trancar a porta, isolando-se.

Amelie passou aquela noite ouvindo os soluços abafados da mãe do outro lado da porta. Decidiu, em silêncio, que daria tempo ao tempo. Um dia, descobriria a verdade. Sabia disso. Mas, acima de tudo, não queria magoar quem sempre esteve ao seu lado: sua mãe.

Na manhã seguinte, as duas tomaram café juntas, como se nada tivesse acontecido. No final, se abraçaram com força. Elas só tinham uma à outra.

Depois daquele dia, Amelie nunca mais mencionou o pai. Ainda que a vontade de descobrir permanecesse latente, especialmente com a proximidade de sua festa de 15 anos.

Toda menina sonha com a festa de 15 anos: o vestido de princesa, a dança coreografada com as amigas, e claro, a valsa com o pai. Amelie imaginava essa cena várias vezes. Nos sonhos, ela rodopiava nos braços do pai, como uma princesa ao lado de seu rei. Mas nunca conseguia ver o rosto dele. Assim como na vida real, no sonho ele permanecia um mistério. E, a cada vez que sonhava, a esperança de encontrá-lo antes daquele dia aumentava.

O problema era o tempo. Faltava apenas um ano e três dias para a festa. Seu aniversário de 14 anos estava a apenas três dias de distância.

Será que ela conseguiria encontrar o pai até lá?

Amelie - Uma Historia DocshoeOnde histórias criam vida. Descubra agora