Uma vez, Amelie leu em um livro que, no século XVIII, os camponeses celebravam o nascimento de uma criança com um ritual especial. Ao amanhecer, a criança recebia um bolo de aniversário coberto de velas acesas, que permaneciam assim ao longo do dia. Ao anoitecer, ela deveria assoprar as velas em silêncio, após fazer um pedido secreto.
Naquela época, acreditava-se que o desejo só se realizaria se ninguém mais soubesse do que se tratava, e que a fumaça das velas tinha o poder de levar o pedido até Deus. Embora Amelie simpatizasse com essa superstição, ela sentia que não podia esperar passivamente pela magia das velas. Para ela, os desejos se concretizavam apenas quando se corria atrás deles.
A festa já tinha terminado, pelo menos para Amelie e seus amigos, que agora saboreavam o bolo sentados na escada do Manouche. Lá dentro, Amanda e Larissa se divertiam na pista de dança, como se não houvesse amanhã.
– Quando vamos começar a "Operação Pai"? – Amelie perguntou, assim que engoliu o último pedaço de bolo, sua voz carregada de ansiedade.
– Você tá brincando que realmente achou boa essa ideia do Arthur? – Julia respondeu, incrédula.
– Eu já estou no clima! – Arthur exclamou, levantando-se de repente e imitando, de forma desajeitada, um espião de filmes de ação.
– Para com isso, Arthur! – Julia deu um leve tapa nele, revirando os olhos, mas não conseguindo segurar o riso. – Ju, é a única ideia que temos agora. Eu preciso descobrir quem é o meu pai antes da minha festa de 15 anos, e o tempo está passando rápido.
Julia sempre foi a mais sensata do grupo. Seu instinto protetor a fazia calcular cada movimento, ponderar riscos e consequências. Aceitar essa ideia do Arthur não era fácil para ela. Sabia que tudo poderia desmoronar, causando mais dor em Amelie. E se Amanda descobrisse? Isso poderia ser um desastre.
Mas, ao mesmo tempo, Julia conhecia o desejo profundo da amiga. Ela já havia visto, muitas vezes, a tristeza que tomava conta de Amelie em datas como o Dia dos Pais. O sonho de encontrar o pai era algo que Amelie carregava no peito há anos. E, apesar dos receios, Julia sabia que não poderia abandoná-la agora.
– Tudo bem. Estamos juntos nessa, Amelie. – disse Julia, abraçando a amiga com firmeza, como uma promessa silenciosa de que não a deixaria sozinha nessa jornada.
– Agora que estamos todos de acordo, precisamos traçar um plano – Arthur disse, com seriedade repentina. – O primeiro passo é descobrir quem eram os namorados da Tia Amanda entre 2023 e 2025.
Amelie suspirou, frustrada.
– Minha mãe sempre foi reservada. Só as pessoas mais próximas dela saberiam disso. E eu não posso simplesmente perguntar, porque essas pessoas iriam direto contar para ela.
– Quem são essas pessoas? – Arthur perguntou, curioso.
– Tia Lari, Pam, Vic, Ana e Agla – Amelie enumerou, fazendo um bico. – E todas elas são leais demais à minha mãe.
– Realmente, minha mãe contaria pra Tia Amanda na hora – Julia concordou, cruzando os braços.
Arthur parecia não se deixar abalar. – Sua mãe é famosa, Amelie. Aposto que teve algum boato sobre os relacionamentos dela nos sites de fofoca. O público adora esse tipo de coisa.
– Thur, eu já tentei. – Amelie explicou, seu tom abatido. – Tive que pesquisar sobre minha mãe para um projeto da escola, e mal encontrei notícias antigas. Parece que os sites apagam essas coisas com o tempo. Eu mal achei informações sobre ela ganhando o Big Brother, quem dirá sobre namoros antigos.
Cada ideia parecia ter um obstáculo. Amelie olhava para o chão, desanimada. O silêncio caiu sobre o trio, enquanto pensavam em alternativas, mas a sensação de que estavam num beco sem saída tomava conta de Amelie.
Foi então que Amanda surgiu, carregada de sacolas e sorrindo, interrompendo os pensamentos dos adolescentes.
– Vamos, crianças? – chamou, ainda com o brilho de quem se divertiu intensamente.
– Nossa, finalmente cansou de tanto dançar? – Amelie provocou, vendo a mãe suada, mas com uma expressão feliz.
– Eu posso ter 48 anos, mas ainda mando bem na pista! – Amanda retrucou, rindo.
– Ah, eu vi bem. Você e a Tia Lari estavam contando os segundos pra ir dançar. A Tia Lari estava quase expulsando meus amigos da festa! – Amelie riu, lembrando de como Larissa, impaciente, quase mandou todos embora.
– Expulsando? Jamais! Eu só estava pensando no bem de vocês, que têm aula amanhã – Larissa respondeu com seu jeito dramático.
– Vamos discutir isso no estacionamento? Essas sacolas estão pesadas – Amanda interrompeu, impaciente.
– Calma, tia, deixa eu te ajudar – Arthur prontamente se ofereceu.
Com as sacolas nos braços, o grupo se dirigiu ao estacionamento, entre risadas e comentários sobre a festa. A música alta no carro de Larissa acompanhou o caminho de volta, levando Arthur até em casa antes de seguirem para o condomínio onde moravam.
Deitada em sua cama mais tarde, Amelie não conseguia parar de pensar. Cada possibilidade que surgia sobre o pai parecia errada, ou distante demais. O porquê desse segredo a assombrava. Por que sua mãe nunca lhe contou a verdade? O que havia de tão grave assim?
Perdida nesses pensamentos, quase adormecendo, Amelie foi surpreendida pelo som estridente do celular. A tela piscava com o nome de Julia.
– Alô? – Amelie murmurou, ainda grogue de sono.
– Amiga, eu sei como a gente vai descobrir quem é o seu pai.
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Amelie - Uma Historia Docshoe
FanficAmelie Meirelles está prestes a completar 14 anos e está determinada a descobrir quem é o seu pai, um segredo que sua mãe Amanda Meirelles esconde muito bem.