Capítulo 19

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O restaurante estava em pleno movimento, com risos e conversas ecoando pelas paredes decoradas com luzes suaves. A mesa de Amelie, Matheus, Antonio, Wilma, Julia e Arthur era uma das mais animadas. O grupo parecia se conectar com uma naturalidade surpreendente, como se sempre tivessem sido amigos. Amelie, no entanto, estava dividida entre a felicidade de estar ali e o nervosismo que lhe corroía por dentro. Conhecer Antonio, saber que ele poderia ser seu pai, estava mexendo com suas emoções de maneiras que ela não esperava.

Enquanto Antonio contava uma história engraçada sobre suas aulas de artes marciais, o telefone de Amelie vibrou em seu bolso. Ela deu uma olhada rápida na tela e viu o nome de Amanda piscando. Seu coração acelerou.

— Desculpa, gente. Preciso atender, é minha mãe — disse Amelie, levantando-se da mesa.

Ela saiu do restaurante e atendeu, tentando parecer calma.

— Oi, mãe. Tudo bem?

A voz de Amanda veio firme e direta do outro lado da linha.

— Amelie, já tá tarde. Vocês já estão voltando, né? Eu posso buscar vocês no restaurante se quiserem.

O desespero tomou conta de Amelie. Ela olhou rapidamente para dentro do restaurante, vendo todos ainda imersos nas conversas, principalmente Antonio, que parecia se divertir. Ela não queria acabar com a noite tão rápido.

— Ah, sim, a gente já tá saindo, mãe — Amelie mentiu, tentando não soar nervosa — Não precisa se preocupar, vou pedir um carro de aplicativo. Você e a tia Larissa podem continuar se divertindo.

Amanda hesitou um pouco do outro lado da linha, mas acabou cedendo.

— Tudo bem, então. Qualquer coisa, me avisa. E juízo, hein!

— Pode deixar, mãe. A gente vai chegar logo.

Amelie desligou o telefone, respirando fundo. Ela sabia que tinha que voltar para a mesa e encerrar a noite antes que Amanda ficasse desconfiada. Voltando ao restaurante, ela tentou manter a calma enquanto se aproximava da mesa, forçando um sorriso.

— Pessoal, acho que a gente precisa ir — disse ela, olhando para Julia e Arthur — Minha mãe tá preocupada, já tá tarde.

Matheus olhou para ela com uma leve surpresa, e Antonio, embora compreensivo, pareceu um pouco desapontado.

— Ah, que pena — disse Antonio. — Mas foi ótimo conhecer vocês. Espero que possamos nos encontrar de novo antes de vocês voltarem para o Brasil.

Amelie sentiu um nó se formar em sua garganta. A despedida estava sendo mais difícil do que ela esperava. Ela se aproximou de Antonio e, sem pensar muito, o abraçou com força, quase como se não quisesse deixá-lo ir. Antonio ficou um pouco surpreso com o gesto, e por um momento, hesitou antes de retribuir o abraço de forma mais contida.

— Cuida de você, Amelie — disse Antonio, com um leve sorriso, mas seus olhos mostravam uma leve confusão.

Amelie afastou-se rapidamente, tentando não parecer afetada, mas sua cabeça estava a mil. Julia e Arthur também se despediram, e o grupo saiu do restaurante, caminhando em direção à saída enquanto Amelie rapidamente chamava um carro de aplicativo no telefone.

Lá fora, sob as luzes da rua, a atmosfera era bem diferente. Julia, sempre atenta aos detalhes, não pôde deixar de comentar.

— Amelie, o que foi aquilo? — perguntou Julia, com as sobrancelhas erguidas.

Amelie, que ainda estava tentando processar tudo, olhou para a amiga, confusa.

— Aquilo o quê?

— O abraço! Você abraçou o Antonio como se fosse se despedir dele para sempre. Foi muito intenso. Não acha que ele pode ter achado estranho?

Amelie sentiu o rosto corar de vergonha. Ela sabia que Julia tinha razão, mas naquele momento, não conseguia pensar com clareza. A ideia de que aquele homem poderia ser seu pai estava nublando seu julgamento.

— Eu... não sei. Foi automático. Ele é... bom, você sabe... — Amelie tentou explicar, mas suas palavras saíam confusas.

— Eu entendo que você está nervosa — continuou Julia, mais calma. — Mas você precisa ser mais cautelosa, Amelie. Não pode dar bandeira assim, ainda mais quando ele nem sabe que você pode ser filha dele.

Arthur, que tinha ficado em silêncio até então, finalmente se manifestou.

— Olha, eu entendo seu lado, Amelie. Deve ser muito difícil segurar essa emoção toda. Mas a Julia tá certa. Se a gente for tão óbvio, ele pode acabar desconfiando de algo antes da hora.

Amelie respirou fundo, sentindo-se um pouco sufocada. Ela sabia que os amigos estavam certos, mas a mistura de emoções era demais para ela naquele momento.

— Eu sei, eu sei... É que... Ele é tão diferente do que eu imaginei, e ao mesmo tempo, parece tão... familiar.

Julia suspirou, colocando a mão no ombro de Amelie de maneira reconfortante.

— Só tenta manter a calma, tá? Vai ter mais oportunidades de conversar com ele. Mas precisamos ser cuidadosos.

Amelie assentiu, ainda um pouco atordoada com o que havia acontecido. O carro de aplicativo finalmente chegou, e os três amigos entraram no veículo. Enquanto o carro seguia pelas ruas tranquilas do condomínio, Amelie olhou pela janela, perdida em seus pensamentos.

Ela sabia que a noite havia sido um grande passo, mas também percebeu que precisava controlar melhor suas emoções. Afinal, esse era apenas o começo de uma jornada maior — a de descobrir quem Antonio realmente era para ela.

E agora, mais do que nunca, ela precisava ser paciente e, acima de tudo, cuidadosa.

Amelie - Uma Historia DocshoeOnde histórias criam vida. Descubra agora