O dia amanheceu nublado no Rio de Janeiro, e o celular de Amelie marcava 20°C — frio o suficiente para que os cariocas tirassem seus moletons do armário. Como em todo dia nublado na cidade, o trânsito estava caótico. A usual viagem de 5 minutos até a Escola Parque havia se transformado em 20. Para Amelie, no entanto, parecia uma eternidade, especialmente porque ela mal conseguia conter a ansiedade desde a noite anterior, quando Julia se recusou a revelar sua ideia por telefone, prometendo contar tudo pessoalmente na escola.
Amelie desejava ter chego mais cedo, mas dependia da carona de Amanda, que, além de enfrentar o trânsito, não era exatamente uma pessoa matutina. O despertador tocava às 6h, mas de alguma forma elas só saíam de casa às 7h30, no típico atraso de Amanda.
Quando finalmente chegaram à escola, Amelie mal esperou o carro parar antes de sair correndo, gritando um "te amo" para a mãe por cima do ombro. Chegou esbaforida no pátio e avistou Julia e Arthur já sentados, conversando.
– Bora, Julia, fala logo – disse Amelie, parando de frente para os amigos com os braços cruzados, impaciente.
– Bom dia pra você também, Amelie. Dormi super bem, obrigada por perguntar – Julia respondeu, sarcástica, com um sorriso travesso.
– Que bom que dormiu bem, porque eu passei a noite em claro! Como você me faz isso? Me deixa ansiosa e só vai contar hoje? Pirou?
– Calma, estrela da manhã. Achei melhor conversarmos pessoalmente, assim podemos pensar melhor juntas.
– Tá, tá... Agora fala! – Amelie se sentou ao lado deles, visivelmente irritada.
– Então, estava lembrando da festa e me toquei de uma coisa. A sua mãe adora registrar tudo. Ontem mesmo ela me fez tirar umas vinte fotos, e só parou quando eu disse que precisava ir ao banheiro. E na casa de vocês, tem aquele armário cheio de álbuns de fotos. Sério, quem revela fotos hoje em dia? – Julia revirou os olhos, incrédula.
– Verdade, mas o que tem isso a ver? – Amelie franziu a testa, confusa.
– Pensei que, se ela gosta tanto de registrar tudo, talvez ela tenha alguma foto antiga, alguma pista sobre o seu pai guardada. Talvez escondida em algum lugar.
– Mas eu já revirei aqueles álbuns um milhão de vezes. Só tem fotos de quando ela estava grávida de mim pra frente.
– Certo, mas ela pode ter escondido as fotos de antes da sua gravidez em outro lugar. Onde você esconderia algo que não quer que ninguém encontre? – Arthur perguntou, entrando na conversa.
– Provavelmente no meu quarto, no armário ou na penteadeira.
– Bom saber – brincou Julia, antes de levar um leve tapa de Amelie, que riu junto.
– Existe a chance de não ter nada guardado, claro – disse Arthur, sério. – Mas a gente não tem outra ideia no momento, então vale a tentativa.
Amelie refletiu por um instante. Ela sabia que a mãe tinha uma paixão por fotos, mas nunca havia considerado a possibilidade de haver registros do passado dela escondidos em casa. Era um risco que valia a pena correr, mas havia um problema prático.
– O único problema é que eu nunca teria tempo de procurar. A única hora que minha mãe sai de casa é quando eu estou na escola.
Desde que se mudaram para o Rio, Amanda passou grande parte das responsabilidades da AMeirelles Cosmetics para sua sócia, Marjorie. O plano era resolver qualquer tarefa presencial de manhã, enquanto Amelie estava na escola, e depois passar o resto do dia trabalhando de casa, aproveitando o tempo com a filha.
– E se você faltasse à escola? – sugeriu Arthur, sempre rápido com soluções mirabolantes.
– Ela desmarcaria tudo para ficar comigo. Além disso, ela só me deixaria faltar se eu estivesse doente, e, se eu ficar doente, a Dra. Amanda Meirelles vai ficar grudada em mim o dia inteiro.
– Verdade, às vezes esqueço que sua mãe é médica – Arthur admitiu, pensativo.
Foi então que Julia teve uma ideia.
– E se eu dormisse na sua casa e distraísse a sua mãe? Você sabe que sou ótima de conversa. Posso enrolá-la por um bom tempo.
– Gostei da ideia! – Amelie se animou, vendo ali uma chance real de conseguir algo.
– Enquanto Julia distrai a Tia Amanda, você procura o quarto dela por qualquer pista, qualquer foto que pareça suspeita – Arthur sugeriu, já imaginando o sucesso da operação. – Esse seria um ótimo primeiro passo para a "Operação Pai"!
Arthur estava claramente se divertindo com o plano, como se estivesse em um filme de espionagem. Julia e Amelie riram do entusiasmo do amigo, mas também compartilhavam a mesma excitação.
Amelie olhou para seus amigos, sentindo uma onda de gratidão. O plano poderia até não dar certo, mas o apoio deles significava o mundo para ela. Eles estavam dispostos a ajudá-la em sua missão, por mais louca que parecesse. E, no fim das contas, a vida era muito melhor quando compartilhada com quem se pode confiar.
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Amelie - Uma Historia Docshoe
FanficAmelie Meirelles está prestes a completar 14 anos e está determinada a descobrir quem é o seu pai, um segredo que sua mãe Amanda Meirelles esconde muito bem.