Traumáticos e Confusos -Perfeito Desastre

capítulo 59 -Any..

Pov's Any

Estou me sentindo um lixo.

Parece que todas as vezes que me senti assim, não é o suficiente comparado como me sinto agora.

Mesmo em silêncio, tem muito barulho.

Na madrugada, sonhei - Como sempre.

Os barulhos da sirene da ambulância e da polícia rondaram, o jeito que me ajoelhei no asfalto vendo o corpo do meu irmão ensanguentado. Meus joelhos se ralaram de tanto que me mexi desesperada, a culpa ficou nos meus braços e senti como se um prédio se desabou em cima de mim.

Aquela dor. A dor que senti no peito nunca saiu de dentro de mim. Parece que quanto mais o dia de hoje chega, a dor aumenta.

O resto do ano não dói mais, mas quando chega dia nove de outubro a agonia multiplica.

Não consigo chorar, só escuto os gritos da minha mãe vendo seu filho morto aos meus braços.

Eu estou esgotada de tanto chorar.

Quanto menos eu choro, mais angústia eu tenho.

Puxo meus cabelos não conseguindo tirar as imagens da minha mente. Me debato na cama querendo tirar a dor de dentro de mim, como uma voz mental eu digo pra mim mesma várias vezes enquanto as memórias passam rapidamente diante dos meus olhos.

Deus, se você existe mesmo, tira essa culpa de dentro de mim.

Não aguentando mais me levanto e começo a tirar todo o lençol, cobertor e travesseiro de cima da cama com toda força que tenho.

Jogo o copo na parede com tanta força que na hora escuto o vidro se quebrar em pedacinhos.

Jogo todas minhas coisas em cima da escrivaninha no chão, rasgando folhas qualquer, quebrando lápis, amassando anotações.

Abro minha gaveta mas inconscientemente a empurro pro chão fazendo um barulho alto.

-Any por favor abre a porta!! -Sabina berra batendo desesperadamente

Não escuto nada, não consigo, não consigo!

Meus ouvidos são tampados pelos xingamentos que recebi dos meus familiares.

"Puta!"
"Ele morreu por culpa sua!"
"Deveria ter defendido ele ao invés de o insultar como seus pais fizeram!"

Meus pais falavam ao mesmo tempo que nada disso era minha culpa.

Flashbacks diferentes passam milhares e milhares de vezes me fazendo surtar mais.

Ando dando voltas tampando meus ouvidos tentando abafar as vozes, mas parece que quanto mais aperto mais alto fica.

Eu vou enlouquecer.

Fecho os olhos com força tentando tirar esse sentimento com choro mas simplesmente nada sai.

Desesperada, eu corro pro banheiro e coloco dois dedos na boca.

Por um minutos sinto a ânsia vindo e o líquido saindo. Me forço a vomitar mais, mas nada tira o que sinto agora.

Os barulhos que solto vomitando são altos, fazendo batidas na porta serem mais altas também. Não queria a preocupar, mas não controlo mais meu corpo e meus instintos.

Quando eu me toco, já estou do lado de fora do banheiro me mutilando com um dos cacos de vidros que tem espalhados no chão.

Minhas pernas bombeam por fraqueza, grito de dor e cócegas fazem na minha pele com as gotas de sangue que descem.