Capítulo 23.

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Girassol.

Sentado em minha cama, abraçando o buquê de flores que Apollo me deu em nosso primeiro encontro, senti uma onda de felicidade e nervosismo se misturarem dentro de mim. Hoje seria o dia em que eu pediria Apollo em namoro. Eu não tinha certeza se daria certo, mas rezei para qualquer divindade que existisse para que desse certo. Talvez, Apollo não me tenha afastado, então talvez ele também tenha gostado? Tantas perguntas sem resposta... No entanto, uma sensação estranha de ser observado começou a me envolver. Era uma sensação que eu sempre tive em casa, como se meu pai estivesse sempre de olho em mim. Nos últimos dias, essa sensação havia se intensificado, mas nada me impediria de declarar meu amor por Apollo hoje. Decidido, levantei-me e escolhi uma roupa casual, sabendo que Apollo apreciava coisas simples. Eu quis pensar em todos os detalhes, ou pelo menos quase todos. Com passos determinados, saí de casa, segurando a flor favorita de Apollo em minha mão. Não encontrei meu pai pela casa para avisá-lo de que iria "caçar", mas isso não importava. Meu pai não me impediria de me declarar para o meu amor.

Corri para o local onde costumávamos nos encontrar, ansioso para ver Apollo e compartilhar meus sentimentos com ele. No entanto, quando cheguei lá, só consegui vê-lo entre as árvores, gritando algo que não consegui entender.

Parei de andar, confuso, quando ouvi um clique seguido de um tiro. Meu coração gelou quando vi Apollo cair no chão, executado diante dos meus olhos. Por alguns segundos, que pareceram uma eternidade, fiquei paralisado, atordoado com a cena diante de mim. Então, minhas pernas se moveram por conta própria, e corri em direção ao corpo de Apollo, que jazia no chão, um tiro em seu coração.

Gritava para ele se levantar, para me dizer que aquilo era apenas uma brincadeira de mau gosto, mas ele permanecia imóvel. Virei-me para encarar o atirador, minhas lágrimas se misturando com a raiva e a dor.

— Seu maldito... - Sussurrei, minha voz embargada.

— Oh, eu sou o maldito? A culpa é totalmente de vocês por terem tentado me atacar aquele dia. - O atirador disse, sua aparência agora lembrando alguém...

A primeira vítima que tivemos juntos, onde nos conhecemos. Ele era um caçador? Não podia acreditar. Como fui tão estúpido...

— Você...? - Murmurei, abraçando o corpo agora gelado de Apollo.

— Demônios. - Ele mirou a arma na minha cabeça.

Mas antes que ele pudesse atirar, uma voz saiu das profundezas das árvores.

— Atirar no meu filho não estava no contrato. - Meu pai apareceu, deixando-me totalmente sem palavras.

— Pai? PAI?! - Exclamei, irritado. — COMO VOCÊ PODE?!

— Foi para o seu bem, filho. Você pode não entender agora, mas me agradecerá no futuro.

Não consegui formular palavras para descrever o ódio que sentia naquele momento. Meu pai mandou matar meu amado? Meu próprio pai... ele era a criatura que havia me feito tão triste assim. Jamais o perdoaria.

Assisti ao meu pai pagar o caçador, que antes de sair, cuspiu perto do corpo morto de Apollo.

— Pai... por que você fez isso? Você nem o conhecia! Você não sabia o quão importante ele era para mim!

— Filho, isso foi necessário. Essa raça inferior iria te atrapalhar no seu futuro. Eu sei que pode doer agora, mas eu sei que você vai superar isso. É só um cachorro grande de qualquer forma. - Disse meu pai, que assistia friamente enquanto eu abraçava o corpo sem vida de Apollo, como se pudesse trazê-lo de volta.

— Você é cruel, pai. Você é... cruel. VOCÊ DESTRUIU A MINHA ÚNICA FELICIDADE DESTA VIDA DE MERDA E DIZ QUE É O MELHOR PARA MIM! - Gritei, desesperado, implorando silenciosamente para Apollo voltar para mim.

Meu pai não respondeu, apenas virou-se e saiu dali, desaparecendo nas sombras da noite.

Olhei para Apollo, seu corpo frio... O calor que tanto amava agora não existia, e eu o beijava, implorando para que ele voltasse para mim. Implorava para que ele me abraçasse, me dissesse que estava bem.

— Por favor, volte, porque eu quero seu abraço... eu quero tanto o seu calor.

As palavras saíram entre soluços, mas Apollo não podia me ouvir. Meu amor por ele era impossível, mas eu havia tido esperança de que daria certo. Se ele apenas me permitisse beijá-lo, se nos permitíssemos mais uma chance... Mas agora, entre as flores, Apollo era a mais bela de todas, e eu soluçava, implorando por sua volta. O girassol que eu trouxe para ele... agora desfolhou, perdeu a cor em meio as minhas promessas inúteis de amor. Mesmo sabendo que nosso amor foi uma jura, que morreu sem oração.

A Benção da Lua de Prata.Onde histórias criam vida. Descubra agora