III. Fagulha

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Pai e filho estavam sentados em poltronas lado a lado aproveitando o calor da lareira nas temperaturas congelantes que era ficar no subterrâneo no começo do inverno.

— Tem alguma coisa muito errada. — refletiu Tyler Nonen, estava inquieto.

— O quê, pai? — perguntou Taylor.

— O nosso roubo ao armazém foi mais fácil do que deveria.

— Mas já faz uma semana desde que aconteceu.

Tyler pensou por mais um instante.

— Você não viu a operação por completo, filho. Os batedores apenas tiraram do caminho meros guardas, e não soldados. E você sozinho conseguiu distrair um grupo deles.

— Er... Obrigado? — Taylor não sabia se isso era um elogio.

— Mas enfim, espero que minha desconfiança esteja errada no fim. Vamos curtir com os nossos parceiros, Taylor. Eu prometi uma semana de festas em sua homenagem e esse é o último dia.

Os dois saíram dos aposentos, era a sala mais luxuosa mas nada confortável pelo teto baixo, e desceram um lance de escadas sem corrimão que levavam até a fogueira onde um porco estava sendo assado. Taylor apenas observou fixamente a tatuagem no braço esquerdo que seu pai tinha enquanto descia as escadas seguindo atrás dele.

Não sabia sobre seu significado nem da inspiração de seu desenho, mas era interessante e muito chamativo as espirais e ondulações que constituem a tatuagem no braço descoberto de qualquer roupa. Tyler estava vestido com seu traje de operações até para esta ocasião, e somente retirava na hora de dormir ou quando precisava usar disfarces em missões de espionagem.

Ele tinha a idade adequada para ter ao menos algum filho na casa dos dezoito anos, mas não optou em ter filhos para não dar continuidade com o seu sangue de bastardo. Nonen foi um sobrenome que ele mesmo inventou e seu nome Tyler foi dado a ele pela sua mãe, uma meretriz que morreu durante uma invasão surpresa na vila em que morava.

A bastardia era rara porque era um tabu, mas acontecia. E quando acontecia, a notícia era alastrada por todos os Nove Reinos, ainda mais se for um bastardo de um rei. Tyler era um caso de bastardia que ficou mais infame por desafiar a lei de seu pai, praticamente, sendo uma celebridade e motivo de fofocas em manchetes de jornal a conversas de bares.

Tyler virou o rosto para conferir Taylor.

— Suas adagas estão bem guardadas?

O menino saiu da hipnose ao ouvir a pergunta.

— Que? Ah, estão bem aqui. — Bateu duas vezes no cinto para indicar.

— Ótimo. E andou treinando com elas? — Tyler tirou os olhos das escadas, mas continuou descendo.

— Sim, mas sei que o senhor deve conhecer técnicas de combate de adagas melhor do que eu. Poderia ensiná-las pra mim.

— Prometo te ensinar quando eu estiver desocupado, Taylor.

Ao descerem no patamar mais baixo, o cozinheiro os chama.

— Chefe! O porco tá bem suculento!

— Que bom, Jean! Taylor vai cortar o primeiro pedaço.

— Pode deixar! — concordou o cozinheiro Jean.

Grupos e mais grupos de mesas distantes da gangue ouviram o chamado e, gradualmente, se amontoaram em volta da fogueira. Uma turma de quarenta pessoas olhava fixamente o menino dos cabelos embaraçados brancos de costas. Taylor sentiu desconforto por ser o centro das atenções, mas chegou perto do imenso porco que se assemelhava com um javali de tão grande.

O Prelúdio da JornadaOnde histórias criam vida. Descubra agora