XV. Estagnado

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Uma semana, esse foi o tempo que passou desde a sua chegada nesse covil. E Taylor não saiu do lugar, estava estagnado. Não soube por que foi colocado numa cela separada de todos os outros, talvez acharam que sua branquitude fosse contagiosa. E como foi ordenado por Jail, nome do condutor que aprendeu ao ouvir alguns papos furados, a menina que veio com o garoto realmente estava numa cela somente de mulheres para que se evitasse o pior. Não eram mil maravilhas, pois a maioria das mulheres eram indisciplinadas com ela, mas algumas a protegiam como uma irmã mais nova.

Enquanto isso, Taylor permaneceu isolado e poucos puxavam conversa com o menino. Alguns evitavam olhar para ele, e outros não paravam de encará-lo. Ele não queria saber quem estava com ele porque isso não era importante; queria saber, sim, quem estava envolvido com aquele homem.

Era tão mais misterioso quanto Víbora, e para piorar, ninguém o referenciava por apelidos. Ele só era conhecido como chefe. Entretanto, esse homem era o que tinha menos jeito de chefe. Era quieto demais, mas bastante carismático ainda assim.

Não tem nem como saber o que ele quer, foi o que Taylor pensou a respeito dele. Era como se ele não tivesse ambição, o que se reforçava com o que havia dito sobre A Lenda, na primeira e última conversa que tiveram.

Outras perguntas também corriam em sua mente, como a situação de seu pai e companhia. Eles até eram mencionados em bate-papos de almoço, e cada vez mais era enaltecido a quantidade de membros. Nos três primeiros dias, diziam que metade da gangue havia sumido do mapa, e nos últimos dias, tinham pouco menos de uma dúzia em atividade. Taylor não queria pensar que um de seus parentes estivesse morto nessas falas.

Como não podia confirmar os relatos, apenas teve de lamuriar sozinho no seu canto. Sentia-se culpado mesmo depois de todos esses dias. Finalmente havia confessado para si mesmo que tinha pego o casaco branco de Bailey por pura saudade e desejo. Entretanto, a culpa não era só dele, pois Tyler falhou ao dar prioridade aos ganhos comuns ao invés de suas obrigações pessoais.

Será que valeu a pena, hein, pai?, pensou com raiva dele, Você sabia quem iria trair a gente e mesmo assim deixou ele à solta... Acho que a única esperança vai ser nessa sua troca de reféns. Então, Taylor esperou o momento mais oportuno para perguntar sobre toda a situação dos justiceiros e de seu pai.

Próximo do horário de receber sua comida da tarde, o menino se aproximou das barras de sua jaula. Viu que quem estava alimentando os presos era o João Espetinho, um do total de três Joões desse grupo. Pela alcunha, trazia consigo espetinhos de carne, mas de baixa qualidade e, provavelmente, perto de apodrecer.

Taylor já havia se acostumado com a comida daqui, que mais se parecia com ração para um chiqueiro. Com direito a apenas um espetinho, ele apanhou o palito de churrasco com desgosto. Antes dele partir, chamou com um "psiu".

— O que foi, moleque? — perguntou o homem de quase meia idade.

— Tá podre. — Apontou para o próprio espetinho.

— E daí? Só come isso.

— Cutelo pessoalmente preparava carnes melhores para mim. — comentou, puxando apenas papo furado, se referindo pelo apelido de Almir.

— Ah, o Cutelo? — repetiu, como se lembrasse de algo. — Ele ainda continua covarde como sempre?

Espera, ele conheceu Almir? Instigado pela coincidência, preferiu continuar nesse assunto.

— Como assim?

— Eu já trabalhei para ele quando era apenas um açougueiro. — revelou João Espetinho. — Ele vendia carne humana para os outros, dá para acreditar?

O Prelúdio da JornadaOnde histórias criam vida. Descubra agora